São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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BASTIDORES
CPI e investigação ajudam personagens de pouca expressão pública a ganhar projeção
Escândalo ameaça malufismo e alimenta sonhos eleitorais

KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel

O escândalo da máfia da propina ameaça pôr fim ao malufismo, corrente política que domina a Prefeitura de São Paulo desde 1992, e abre a chance de uma aventura na eleição de 2000 para personagens que até pouco tempo atrás tinham pouca expressão pública.
Paulo Maluf assiste o desmoronamento de seu feudo. O prefeito Celso Pitta teme um impeachment. O PT vê a chance de voltar ao Palácio das Indústrias. Vereadores buscam fama na CPI investigando colegas. Delegados e promotores brigam por holofotes, na esperança de concorrer a vereador ou até a prefeito.
Derrotado na última eleição para o governo do Estado com a contribuição do desempenho administrativo ruim de Pitta, o chefão do PPB paulista viu uma debandada de cinco vereadores e de um deputado estadual. Dois federais também podem sair da sigla.
Maluf, rompido nos bastidores com Pitta, busca um acordo com a cúpula nacional do PFL para tentar sobreviver politicamente.
Preço: jogar pelo impeachment de Pitta, obra sua. Um setor do PFL tenta trazer o vice-prefeito, Régis de Oliveira, de volta ao partido.
Maluf analisa romper publicamente com Pitta. O discurso de Maluf seria o de que, em 93, loteou as regionais entre os vereadores só para garantir maioria na Câmara. Mas Pitta, que engoliu a reedição do acordo em 97, traiu sua confiança e não teria evitado corrupção. O difícil da manobra é conseguir que o eleitor acredite nela.
Pesquisas do PPB mostram que a população faz uma ligação direta entre Maluf e Pitta -exatamente como a propaganda malufista martelou em 96. A desgraça de um atinge imediatamente o outro.
No PT, Marta Suplicy joga para faturar com o ocaso do malufismo. O vereador José Eduardo Martins Cardozo, presidente da CPI municipal que investiga a máfia da propina, é visto como o vice ideal. Mas há quem ache que, dependendo do nível de exposição na mídia, poderia ser o candidato a prefeito.
O delegado Romeu Tuma Jr., barrado nas urnas em outubro ao tentar se eleger deputado estadual, aposta na marca de xerife para concorrer a vereador ou prefeito. Seu pai, o senador pefelista Romeu Tuma, sonha com a sucessão de Pitta, mas teve recentemente um grave problema de saúde .
Na Secretaria da Segurança Pública, o tucano Marco Vinicio Petreluzzi, não facilita a vida dos delegados Tuma Jr. e Naief Saad Neto, este também provável candidato a vereador. Os delegados têm brigado para aumentar o número de policiais na equipe que, com os promotores, investiga o escândalo.
O PSDB de Covas prefere reforçar o cacife do Ministério Público, chefiado pelo tucano de alma Luiz Antônio Marrey.
Estrela do lado mau do espetáculo, Tânia de Paula, namorada e assessora do vereador foragido Vicente Viscome, negociou uma redução de sua pena em troca de informações sobre o esquemão.
Tânia dá sinais de que foi mordida pela mosca azul da política. Posa de vítima e expia a culpa: "A minha vida ficou aberta. Não tenho mais nada a perder. Agora tenho que ganhar a minha dignidade".
A ex-prefeita Luíza Erundina (PSB), hoje deputada federal, articula aliança com o PMDB, que lhe apoiaria em 2000 para receber a contrapartida na eleição ao Palácio dos Bandeirantes, em 2002.
Francisco Rossi, que perdeu as eleições ao governo paulista em 94 e 98, está sem partido e interrompeu a aproximação com Maluf. Pode ir para o PFL, que tem ainda o deputado federal Luiz Antônio de Medeiros e o ex-secretário Afif Domingos querendo suceder Pitta.



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