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CRISE NO RIO
Rafik Louzada diz que criação do Instituto de Segurança Pública é inconstitucional
Chefe da polícia critica novo projeto de Garotinho
MAURÍCIO THUSWOHL
da Sucursal do Rio
Dois dias antes de o governador
do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PDT), anunciar a implementação do Instituto de Segurança Pública para o dia 28 de
abril, o chefe da Polícia Civil, Rafik Louzada, criticou o projeto e
avaliou que ele não seria implementado.
Rafik previu, durante palestra
na Associação Comercial do Rio,
na segunda-feira, que a criação do
instituto poderá ser cancelada por
ferir a Constituição.
"A intenção é que, durante um
megaevento como o Carnaval, os
policiais componentes do instituto possam ser contratados para
trabalhar. A iniciativa privada retribuiria ao Estado, que repassaria
(a remuneração) ao servidor. Aí
está uma inconstitucionalidade,
pois seria concorrência desleal
com as empresas privadas de segurança", disse.
O Instituto de Segurança Pública é a principal iniciativa do governo Garotinho na área de segurança. Com o instituto, o governador pretende profissionalizar a
polícia e dotá-la de mais recursos
técnicos. O instituto acaba aos
poucos com a atual estrutura das
Polícias Civil e Militar.
Após ouvir várias críticas ao
projeto durante o debate, convocado pela Comissão de Justiça da
Associação Comercial e ao qual
estavam presentes diversas personalidades da segurança pública
do Estado, Rafik avaliou que a implementação do instituto poderia
não se concretizar.
Dirigindo-se a um oficial da Polícia Militar que acabara de manifestar seu desagrado com o projeto, ele respondeu: "Eu vou aconselhar o senhor a não se preocupar com isso, porque já há quatro
arguições de inconstitucionalidade e eu calculo que ele não será
implantado".
O chefe de Polícia Civil contou à
platéia que, por determinação de
Garotinho, irá ocupar a direção-geral da Polícia Judiciária, enquanto o comandante-geral da
PM, coronel Da Cruz, assumirá a
direção do policiamento ostensivo. Os dois irão despachar duas
vezes por semana num escritório
contíguo à sala do secretário de
Segurança Pública, Josias Quintal.
"Nós (as Polícias Civil e Militar)
estamos muito distantes do secretário, e nós somos as duas instituições, as duas peças mais importantes para ele. O planejamento
que vem de fora, de outras pessoas, não adianta pois quem vai
resolver a segurança são as polícias. Nós estamos tentando trazer
isso sem a influência política, sem
que o coordenador desse ou daquele seja do partido tal", disse.
Rafik criticou a ambiguidade da
posição que era ocupada pelo ex-coordenador de Segurança Pública do Rio, Luiz Eduardo Soares,
demitido por Garotinho: "A aberração que havia anteriormente,
que era o coordenador ser também subsecretário, não há mais.
O (atual coordenador) coronel
Jorge da Silva é apenas coordenador, não é executivo, é só planejamento. O cargo é retórico e não
existe uma função identificada."
A Delegacia Legal, outro projeto
do programa de segurança de Garotinho, também recebeu críticas
de Rafik: "Confesso que, quando
começou o governo e eu fui chamado a participar do projeto, me
retirei na terceira reunião por
causa do nome Delegacia Legal.
Não porque me ofendesse o nome
mas, como policial, verifiquei que
isso traria para a comunidade a
impressão de que as outras (delegacias) são ilegais", disse.
"Antes de assumir a chefia eu já
observava algumas falhas nesse
projeto, sobretudo em suas rotinas, e nós estamos agora tentando
corrigi-las através da troca de experiências com as delegacias do
Primeiro Mundo", completou.
O projeto da Delegacia Legal,
que previa delegacias totalmente
informatizadas, foi a causa de
uma das crises do governo Garotinho. Em dezembro de 99, a Folha mostrou que havia superfaturamento na compra de equipamentos de informática, nas obras
e serviços do projeto. Em razão
das denúncias, o chefe da polícia,
Carlos Alberto D'Oliveira, foi
substituído por Louzada.
O chefe de polícia criticou ainda
a equipe de trabalho comandada
por Luiz Eduardo Soares: "Durante um ano e três meses o governador teve ao lado dele pessoas que não entendem de segurança pública, antropólogos, sociólogos, pastores evangélicos... A
cidadania sempre foi nossa preocupação, mas o grupo que estava
na coordenadoria - inclusive a
mulher do professor Luiz Eduardo e mais três amigas - se preocupava muito com os direitos humanos dos bandidos", disse.
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