São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Arsenal, que incluía ainda munição e fuzil, é de líder da facção criminosa TCP, dizem responsáveis por investigação

Polícia apreende minas e granadas no Rio

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Pela primeira vez a polícia do Rio encontrou minas terrestres usadas em guerras em um arsenal de traficantes. As minas estavam no subsolo de uma casa na favela da Coréia, em Senador Camará (zona oeste do Rio).
No local havia, além de oito minas, 161 granadas, 30 mil cartuchos de oito tipos de munição, um fuzil AR-15, dois coletes à prova de balas e nove coletes usados pela Polícia Civil (com compartimentos para munição, radiotransmissores e armas).
Segundo a polícia, o arsenal -avaliado em cerca de R$ 500 mil- pertence ao traficante Robson André da Silva, o Robinho Pinga, líder da facção criminosa TCP (Terceiro Comando Puro), dissidência do TC (Terceiro Comando), uma das mais antigas facções do Rio.
São proibidos a fabricação e o uso de minas terrestres no Brasil desde 1999, quando o país ratificou um tratado internacional assinado dois anos antes. Mas o país pode manter, para uso militar, parte das minas que já possuía.
As minas encontradas são belgas e do tipo antipessoal -têm como alvo soldados, e não veículos, como tanques. O delegado titular da Drae (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos), Carlos Alberto Oliveira, afirmou que elas são usadas para "interromper o avanço de infantarias durante uma guerra".
O delegado informou que não tem registro de roubo deste tipo de artefato de algum quartel das Forças Armadas no Estado. Hoje, ele enviará ofício ao Exército para se certificar.
No paiol havia granadas M-3 e M-20, fabricadas pela empresa RJC, em Lorena (a 188 km de São Paulo). "As granadas e as minas têm a inscrição dos lotes. Vamos encontrar os fabricantes e saber para quem venderam essas granadas", disse Oliveira.
"É uma luta desigual. É a primeira coisa que me vem à cabeça", afirmou o chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, ao comentar a apreensão.
O titular da Polinter (Polícia Interestadual), delegado Rodolfo Waldeck, coordenador das investigações que levaram ao arsenal, afirmou ter ficado surpreso com a descoberta das minas.
"Sabíamos do paiol, mas em nenhum rastreamento de ligações ou investigação houve menção a minas terrestres", disse.
O secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, afirmou que a polícia está "preparada para enfrentar os traficantes na mesma proporção, com o mesmo poder de fogo".
Mais uma vez o secretário culpou o governo federal por não conter a entrada de armas no país e também os usuários de drogas, que "financiam a compra de armamentos pelos traficantes".
As armas estavam em um cômodo de cerca de 2,5 m de profundidade por cerca de 3 m de largura, construído no subsolo de um dos quartos de uma casa na favela. A casa -de alvenaria, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro- estava vazia.
O paiol era coberto por uma tampa de ferro, que estava sob azulejos. Os policiais precisaram quebrar os azulejos para encontrar o buraco.
Ao voltar ao paiol para fazer a perícia, por volta das 16h30, a polícia encontrou cinco homens (entre eles um adolescente de 17 anos) tapando o buraco com areia. Eles disseram a jornalistas terem sido contratados horas antes, mas não informaram o nome do contratante. Os cinco foram levados para a delegacia, onde prestariam depoimento.


Próximo Texto: Análise: Nem iraquianos minam seu país contra inimigos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.