São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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SISTEMA PRISIONAL

Pelo menos dez detentos foram assassinados em Rondônia

Presos mantêm rebelião e matam mais três pessoas

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

Pelo menos dez detentos foram mortos na rebelião da Casa de Detenção José Mário Alves, mais conhecida como Urso Branco, em Porto Velho (RO). Durante o dia, a Secretaria da Segurança informou que dez presos tinham sido assassinados pelos colegas desde sexta-feira, início do motim.
À noite, o coronel Valter Donizete Israel, que estava no comando da Polícia Militar, afirmou que, na sexta-feira, dois foram assassinados; no domingo, mais um; na segunda, três; e ontem, mais três, que também tiveram seus corpos atirados do telhado do presídio. Segundo a contagem do coronel, o número de mortes desde o início do motim chegava a nove.
Mas há outra versão. O promotor de Execuções Penais Hildon de Lima Chaves, que entrou no presídio, informou ter visto mais dois corpos. Mas não se sabe se essas mortes aconteceram ontem ou no início do motim.
Nove detentos foram arremessados do telhado da cadeia para o pátio, desde que a rebelião teve início, na sexta-feira. Entre os mortos, um foi decapitado, e um, esquartejado, de acordo com o coronel Israel.

Negociações
O governador do Estado, Ivo Cassol (PSDB), afirmou que as principais reivindicações dos detentos foram atendidas. O governo se comprometeu a trocar a direção do Urso Branco, garantir a integridade dos cerca de 900 rebelados depois do fim do motim e fazer melhorias na estrutura do presídio.
Mas os detentos deram continuidade à rebelião. Além do que já havia sido pedido, eles fizeram novas exigências. Entre elas, que fosse dado a eles o direito de escolher o novo diretor.
Diante da negativa do governo, os rebelados recomeçaram a matar os companheiros.
Os 170 parentes dos presos continuam dentro da cadeia. "Se o que queremos não for atendido, vamos continuar matando", disse um preso por telefone celular de dentro do presídio.

PCC
Em faixas que os detentos penduraram nas janelas era possível ler a inscrição 15.3.3 (que seria uma referência aos números das letras no alfabeto para PCC, o Primeiro Comando da Capital).
Em 2000, o Urso Branco recebeu dois integrantes do PCC transferidos do Paraná. Vilmar Ferreira Pinto, o "Paraná", 40, e Luiz Frasão Corrêa, 50. Eles teriam liderado uma rebelião no local em novembro daquele ano.
Segundo o promotor Chaves, não é provável que o PCC esteja por trás da rebelião. As inscrições nas faixas serviriam para impressionar as autoridades, segundo o promotor.
O secretário da Segurança, Paulo Roberto Oliveira de Moraes, representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), do Ministério Público Estadual, do Poder Judiciário e da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Porto Velho coordenavam as negociações com os rebelados.
Até o fechamento desta edição, os rebelados estavam havia mais de 48 horas sem comida. Alguns deles mataram gatos no telhado da instituição para comer.


Colaborou MARTHA ALVES, da Agência Folha


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