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ONG apresentou atestado falso à prefeitura
Documento que garantia experiência com treinamento profissionalizante tinha timbre de empresa da própria administração
Atestado dizia que ONG atuou entre abril de 2001 e novembro de 2004 em parceria com a Prodam, mas entidade foi criada em 2003
ROGÉRIO PAGNAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo
contratou a ONG Reação Positiva, embora a entidade tenha
apresentado um atestado fraudado de capacitação em nome
de uma empresa da própria administração, a Prodam (Companhia de Processamento de
Dados do Município).
A ONG foi contratada no final de 2005 por R$ 390 mil pelo
Capacita Sampa, um projeto de
R$ 6,4 milhões criado na gestão
José Serra (PSDB), hoje governador, para treinamento profissionalizante de jovens.
O documento fraudado atesta que a ONG participou de
um programa de formação
profissional de abril de 2001 a
novembro de 2004. O texto diz
que as atividades foram realizadas "com excelência".
O problema é que a ONG foi
fundada em fevereiro de 2003 e
ficou inativa "operacional, não
operacional, financeira e patrimonial" até dezembro de 2004,
segundo declaração que a própria ONG enviou à prefeitura.
O atestado é assinado por um
ex-coordenador de programas
da Prodam, Renato Gomes Leitão Travassos, que hoje trabalha em cargo de confiança na
Petrobras, em São Paulo.
O departamento jurídico da
Prodam, procurado, afirmou
que o cargo de Travassos não
lhe dava competência para assinar o documento. Mais do
que isso, diz que não há registro
na Prodam de nenhum trabalho feito pela Reação Positiva.
"É fraude. Um erro crasso,
que pode anular todo o processo", diz a advogada especialista
em licitação Maria Isabel Calmon, procurada pela Folha para analisar o assunto.
A ONG nega a fraude e afirma que deu, sim, cursos em
parceria com a Prodam, de forma "voluntária". Diz também
que a entidade ainda não existia formalmente, mas as pessoas que a compõem formavam
um grupo que já trabalhava
com capacitação desde 2001.
Anteontem, a Folha revelou
que a prefeitura pagou dez
ONGs, entre as quais a Reação
Positiva, por capacitação de
alunos "fantasmas". O programa previa aulas para 6.600 jovens, mas só 4.654 participaram dos cursos -prejuízo de
R$ 2 milhões para o município.
Ontem, o prefeito Gilberto
Kassab (DEM, ex-PFL) determinou a criação de uma comissão de investigação.
Outra ONG, a Régua e Compasso, que recebeu R$ 700 mil
para cursos de cozinheiro e padeiro, apresentou, segundo especialistas, atestados de capacidade irregulares, fornecidos
por dois motéis do ABC.
Os documentos, dos motéis
Marrakesch e Taj Mahal contrariam o que pede o edital da
licitação, que exige que os atestados discriminem a capacidade técnica da ONG.
Outro atestado da Régua e
Compasso é assinado pelo Sehal (Sindicato das Empresas de
Hospedagem e Alimentação do
Grande ABC), que, nos documentos, apresenta o mesmo telefone da ONG. Ambos têm os
mesmos fundadores.
A Sehal, também contratada
(R$ 858 mil), apresentou atestados fornecidos pelas empresas de seus diretores.
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