São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


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PROTESTO
Apesar da proibição e do bloqueio do trânsito na região, as lideranças de associações não abrem mão da avenida

Manifestantes defendem uso da Paulista

DA REPORTAGEM LOCAL

Os representantes dos seis sindicatos e associações que participaram do protesto na Paulista, na última quinta-feira, defendem o uso da avenida para grandes manifestações, apesar da proibição legal e de possíveis prejuízos para a rede de hospitais que dependem do corredor de veículos.
A avenida Paulista é o principal corredor de acesso para cerca de 20 hospitais e centenas de clínicas e consultórios médicos.
Dois decretos regulamentam os protestos na cidade. Um deles proíbe a realização na avenida Paulista. O outro obriga os manifestantes a informar a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) sobre o local e o roteiro do protesto com 48 horas de antecedência.
Os manifestantes não podem bloquear o trânsito em nenhum dos casos.
Os representantes citam os casos das comemorações do Ano Novo e das torcidas de futebol após a conquista de um campeonato, que tradicionalmente ocorrem na Paulista.
Segundo as categorias, o governo estadual só usa a repressão nas manifestações envolvendo reivindicações de trabalhadores.
O secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Estado de São Paulo, Carlos Ramiro de Castro, afirmou que a entidade sempre pede à prefeitura autorização para realizar manifestações.
"Para torcedores e festa de Ano Novo, eles sempre dão um jeito. Para os trabalhadores, o pedido é sempre negado. O que eles querem é isolar o movimento e impedir que a população participe das mobilizações", disse Castro.
O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Onofre Gonçalves de Jesus, reconhece que a Paulista é um corredor "importante e delicado", mas defende a continuidade de protestos "desde que a ocupação atinja apenas uma pista e seja organizada".
A Prefeitura de São Paulo informou que o caso da comemoração de Ano Novo é diferente porque o evento faz parte da programação oficial da cidade.
Além disso, a comemoração é programada com antecedência, o que permite a implantação de rotas alternativas de trânsito, e ocorre à noite.
Célia Regina da Costa, diretora do Sindsaúde, afirmou que as manifestações são legítimas e que que a entidade preocupa-se com a população.
"Sempre informamos a CET e o comando da Polícia Militar antes de organizar as manifestações", disse Célia.
Segundo ela, o Sindsaúde avisou a polícia da possibilidade da manifestação se complicar depois das 13h de quinta-feira.
"O clima estava tranquilo. Havíamos discutido com a polícia o que seria feito, caso os manifestantes ocupassem a outra pista da avenida Paulista. Mas, a partir do momento em que a tropa de choque se posicionou de maneira violenta, a população reagiu", afirmou a diretora do Sindsaúde.
Célia disse que o movimento tinha orientação e controle, mas que a atitude da PM mudou a situação. "Tanto tínhamos o controle que continuamos com a manifestação depois da guerra."
Uma manifestação na zona leste não causa nenhum efeito, segundo a diretora do Sindsaúde. "A Paulista é um coração financeiro. Ambulâncias passam pela cidade inteira, quem se incomodou realmente com a manifestação não foi a maioria da população, foram a Fiesp e os bancos que estão no local", afirmou.
Maria Isabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp (sindicato dos professores do Estado de São Paulo) tem a mesma opinião da diretora do Sindsaúde. "A Paulista era uma região politicamente interessante para esse tipo de protesto", disse Maria Izabel.
Tanto a Secretaria da Educação quanto a da Saúde não se manifestaram a respeito.
A presidente do Sinteps (sindicato do servidores das Fatecs e escolas técnicas estaduais), Silvia Elena de Lima, também defendeu a realização da manifestação na Paulista por ser um símbolo de São Paulo.
"É o lugar tradicional das passeatas. Os manifestantes também têm o direito de ir e vir", disse Silvia. Ela afirmou que os manifestantes liberam a passagem para casos de urgência.
"O governador Mário Covas participou de muitas paralisações na campanha pelas Diretas Já, que também interditaram o trânsito várias vezes."
Silvia alegou que locais destinados a concentrações e liberados pela polícia -praça da Sé e praça da República, por exemplo- não são adequados para esse tipo de protesto. "Decidimos por uma passeata e a Paulista sempre foi o melhor lugar."
O presidente do Fórum dos Seis, Antonio Luz de Andrade, também defendeu o bloqueio da Paulista. "A ocupação do espaço público é um direito democrático de qualquer pessoa em qualquer parte do mundo", disse.


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