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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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TRANSPORTE

Em depoimento, dirigentes afirmam que empresários pagavam comissões por meio de planos de saúde e cestas básicas

Sindicalistas confirmam propina de viações

Matuiti Mayezo/Folha Imagem - Eduardo Knapp/Folha Imagem
À esq., o sindicalista Dentinho; à dir., de camisa verde, Fubá


DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários de ônibus de São Paulo são acusados por sindicalistas que representam os motoristas e cobradores de participar de um esquema de pagamento de propina a diretores da entidade que envolve cestas básicas e planos de saúde da categoria.
Esses benefícios, pagos pelos empresários, seriam usados pelas viações como forma de canalizar recursos para os dirigentes, segundo depoimentos colhidos pela força-tarefa que obteve a ordem de prisão temporária de 17 integrantes do sindicato. Dos 17, 11 estão presos desde anteontem- entre eles o presidente Edivaldo Santiago-, dois se entregaram ontem e quatro estão foragidos.
Um dos depoimentos, tomados formalmente pela força-tarefa (formada por promotores e policiais), diz que o dinheiro alimenta um "esquema de corrupção", que "consiste em simular greves e fazer vistas grossas aos problemas sofridos por empregados".
Em outro depoimento, um sindicalista informou que o Transurb (sindicato que representa os patrões) repassava até R$ 100 mil mensais ao sindicato, por conta dos planos de saúde. A entidade patronal não quis comentar ontem a informação.
De sindicalistas presos anteontem, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal ouviram ainda que ao menos cinco empresários participavam do esquema para articular greves de ônibus, como forma de pressionar a prefeitura a conceder vantagens ao setor.
A Folha teve acesso ao depoimento formal dado a integrantes da força-tarefa, dias atrás, por um diretor de garagem do próprio sindicato, eleito na gestão do atual presidente, Edivaldo Santiago Silva. Ele cita dois sindicalistas responsáveis por negociar diretamente com as viações e as empresas de cestas básicas e apresentou uma lista da "comissão negociadora da propina do convênio", composta por cinco diretores.
O diretor diz que Jorge Luiz de Jesus (conhecido por Febem) e Paulo Cesar Barbosa (Paulão) receberiam R$ 1,50 para cada cesta paga pelas empresas e distribuída aos trabalhadores. Em uma categoria com 50 mil trabalhadores, significaria R$ 75 mil mensais. "Tudo sendo rateado com o presidente do sindicato", disse ele.
As informações dadas por esse membro da diretoria, formada por 64 integrantes, despertaram a atenção da força-tarefa porque ele mesmo admitiu receber propina de R$ 1.500 da viação Cidade Tiradentes. "Esclareço que recebi a quantia porque entrei na sala no momento da negociação. (...) Um prêmio pelo meu silêncio", diz.
O delegado responsável pelo inquérito, Nivaldo Bernardi, disse que o secretário de Finanças do sindicato, Gerson da Silva Machado (Fubá), que se apresentou ontem à PF, também citou um esquema de planos de saúde.
Segundo o delegado, Fubá afirmou, informalmente, que o sindicato recebe de R$ 75 mil a R$ 100 mil mensais do Transurb. Mas disse que a quantia era encaminhada ao pagamento de planos odontológicos -que são opcionais e pelos quais os condutores precisam pagar.
O convênio médico da categoria foi alvo de negociação durante uma ameaça de greve em maio de 2002. A prefeitura, na época, aceitou abrir mão de uma taxa de R$ 0,02 descontada da tarifa (na época, de R$ 1,70), totalizando uma receita de R$ 1,9 milhão, para que as viações pagassem R$ 50 do plano de saúde dos trabalhadores.
Hoje, porém, os condutores só recebem das empresas de ônibus planos no valor de R$ 38. A Intermédica, empresa citada por Fubá, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, ter feito um contrato com 13 viações, intermediado pelo Transurb, no qual foi definido um valor do seguro individual de R$ 50. No entanto, uma cláusula concedia 24% de desconto no primeiro ano.
A Folha tentou contatar dois advogados de Santiago e do sindicato no final da tarde de ontem, quando surgiram as acusações sobre as cestas básicas e os planos de saúde. Eles não responderam aos recados deixados nos celulares.
O sindicalista José Hilton Marçal, que integrava a diretoria do sindicato, mas que não foi preso, assumiu ontem, de forma provisória, a presidência da entidade. Ele, que até dois anos atrás era filiado ao PT, manifestou solidariedade aos diretores presos. (ALENCAR IZIDORO, PALOMA COTES, SIMONE IWASSO E CHICO DE GOIS)


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