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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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VIOLÊNCIA

Policiais fariam até rondas em frente às casas de pessoas que revelaram ação de suposto grupo de extermínio em Guarulhos

Testemunhas denunciam ameaças de PMs

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Familiares de adolescentes assassinados, testemunhas e sobreviventes da ação de um suposto grupo de extermínio existente em Guarulhos (Grande São Paulo) afirmam que estão sendo ameaçados por policiais militares.
Duas famílias de vítimas estão em negociação e podem ingressar no Provita (Programa Estadual de Proteção a Testemunhas) de São Paulo. A Corregedoria da Polícia Militar afirma que vai investigar.
O medo de represália às pessoas que testemunharam contra os PMs foi uma das principais discussões na audiência pública realizada ontem, na Câmara Municipal de Guarulhos, pela comissão especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.
Das 13 pessoas ouvidas, seis falaram que estão sofrendo ameaças no local onde moram por PMs fardados ou à paisana.
O Ministério Público investiga a morte de 40 adolescentes e o desaparecimento de outros nove desde 1999, de acordo com o promotor Neudival Mascarenhas Filho.
Segundo familiares de vítimas, PMs passaram a fazer rondas sistemáticas em frente às casas para intimidar as pessoas que denunciaram os atentados à Corregedoria ou à imprensa. Em outros casos, houve invasão de domicílio e ameaças de morte.
S.L.G., 23, que perdeu um irmão, um primo e teve outro irmão ferido em uma chacina supostamente realizada por PMs, no ano passado, disse que está disposto a ingressar no Provita.
Ele afirma que foi espancado por PMs em sua casa, horas depois da chacina. Segundo ele, são esses mesmos policiais que agora param o carro diversas vezes em frente à sua casa.
Ele relata que carros da PM param, ligam a sirene e saem. Os faróis de carros da PM, direcionados para a casa à noite, costumam fazer a família acordar assustada, segundo S.
A ajudante geral A.M.S., mãe de um jovem assassinado, disse que PMs passaram a perseguir seus outros dois filhos e ela teve de sair do bairro. Segundo A., homens invadiram na semana passada sua antiga casa, onde hoje mora sua cunhada, à procura de seus filhos.
Ela disse que seus dois sobrinhos foram espancados por PMs para que informassem seu novo endereço. A. afirmou que os PMs resolveram perseguir sua família depois que um dos seus filhos deu entrevista a uma emissora de TV.
C.L.S., 47, disse que está sendo ameaçado pelo PM que teria invadido sua casa e atirado em sua perna, em novembro passado.
O deputado federal Orlando Fantazzini (PT), presidente da comissão especial, solicitou à PM que identifique e afaste os envolvidos nas ameaças. "Isso é grave. Houve uma falha por parte da PM. Existem dados suficientes para, pelo menos, retirar de lá os policiais citados pelos moradores", disse.
O corregedor-geral da PM, coronel Paulo Máximo, disse que a polícia vai investigar os nomes dos participantes e apurar se houve excessos. "Não compactuamos com qualquer violação da lei."
Hoje, bombeiros devem fazer uma busca na represa do Cabuçu, em Guarulhos, apontada como possível local de desova de cadáveres do grupo de extermínio.


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