|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PMs acusados de mortes no Borel estão soltos
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Os três PMs acusados da morte
de quatro jovens do morro do Borel (Tijuca, zona norte do Rio), na
véspera da Semana Santa, estão a
serviço nas ruas, revelou ontem o
comandante do 6º BPM (Batalhão
de Polícia Militar), tenente-coronel José Luís Nepomuceno.
"Não recebi nenhuma orientação para que eles sejam retirados
das ruas", disse ele.
As marcas da chacina, ocorrida
em 17 de abril, ainda estão visíveis
no morro. No beco onde os quatro foram mortos, coroas de flores
apontam o local do crime. Buracos de balas e manchas antigas de
sangue compõem o cenário.
As famílias de Thiago da Silva,
19, de Carlos Magno Nascimento,
do taxista Everson Silote, 26, e de
Carlos Alberto Pereira, 21, pedem
a prisão dos policiais e anunciam
a intenção de processar o Estado.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio informou
que não providenciou a retirada
dos PMs do serviço de rua porque
a Corregedoria da Polícia Militar
não concluiu a investigação, feita
em conjunto com a Polícia Civil.
A única testemunha é Pedro Rodrigues, 32, baleado por um tiro
de fuzil na perna esquerda. Ele foi
ouvido ontem pela primeira vez
por policiais. Disse que as vítimas
foram detidas pelos policiais, levadas para o beco e mortas com
tiros de fuzil. Rodrigues afirmou
que saía de casa quando um tiro o
atingiu. Depois, voltou para casa,
onde ficou escondido.
Em frente ao local onde os jovens morreram, um major da PM
tomava seu depoimento na varanda, enquanto cerca de dez
PMs fortemente armados vigiavam o beco. O depoimento deverá constar da sindicância aberta
pela Corregedoria da PM. Hoje,
Rodrigues prestará novo depoimento na 19ª DP (Tijuca).
No início do mês, o secretário
estadual de Segurança Pública,
Anthony Garotinho, esteve reunido com uma comissão de moradores do Borel, formada por parentes das vítimas.
Segundo eles, Garotinho pediu
para que "não mostrassem o rosto", para evitar retaliações por
parte de policiais militares envolvidos no caso. Os parentes disseram que o secretário prometeu
punir os responsáveis pela matança. Até agora, só o comandante do batalhão foi trocado.
Rodrigues não depôs antes porque estava ferido e abalado emocionalmente, disse a irmã Patrícia.
Mais de um mês após o crime, ele
continua sem proteção policial.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa pediu à Secretaria Nacional de Direitos Humanos a inclusão de Rodrigues no Programa Nacional de
Proteção à Testemunha.
O caso dos quatro jovens será
examinado hoje pelo Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa, em
Brasília.
Amanhã os secretários nacionais de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e de Segurança
Pública, Luiz Eduardo Soares, estarão no Rio para saber como estão as investigações. Eles pretendem visitar a favela e conversar
com as testemunhas.
Miranda recebeu uma carta-dossiê assinada por associações
de moradores do Borel, por igrejas e grupos de defesa dos direitos
humanos. O dossiê detalha a situação de cada morto e as circunstâncias em que foram atingidos. O documento também foi
encaminhado a Soares, ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, e ao arcebispo do Rio, d.
Eusébio Scheid.
Texto Anterior: Suposta ameaça fecha escolas em dia de prova Próximo Texto: Assistência: AACD usa TV para orientar professores a lidar com deficientes na escola Índice
|