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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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PMs acusados de mortes no Borel estão soltos

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Os três PMs acusados da morte de quatro jovens do morro do Borel (Tijuca, zona norte do Rio), na véspera da Semana Santa, estão a serviço nas ruas, revelou ontem o comandante do 6º BPM (Batalhão de Polícia Militar), tenente-coronel José Luís Nepomuceno.
"Não recebi nenhuma orientação para que eles sejam retirados das ruas", disse ele.
As marcas da chacina, ocorrida em 17 de abril, ainda estão visíveis no morro. No beco onde os quatro foram mortos, coroas de flores apontam o local do crime. Buracos de balas e manchas antigas de sangue compõem o cenário.
As famílias de Thiago da Silva, 19, de Carlos Magno Nascimento, do taxista Everson Silote, 26, e de Carlos Alberto Pereira, 21, pedem a prisão dos policiais e anunciam a intenção de processar o Estado.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio informou que não providenciou a retirada dos PMs do serviço de rua porque a Corregedoria da Polícia Militar não concluiu a investigação, feita em conjunto com a Polícia Civil.
A única testemunha é Pedro Rodrigues, 32, baleado por um tiro de fuzil na perna esquerda. Ele foi ouvido ontem pela primeira vez por policiais. Disse que as vítimas foram detidas pelos policiais, levadas para o beco e mortas com tiros de fuzil. Rodrigues afirmou que saía de casa quando um tiro o atingiu. Depois, voltou para casa, onde ficou escondido.
Em frente ao local onde os jovens morreram, um major da PM tomava seu depoimento na varanda, enquanto cerca de dez PMs fortemente armados vigiavam o beco. O depoimento deverá constar da sindicância aberta pela Corregedoria da PM. Hoje, Rodrigues prestará novo depoimento na 19ª DP (Tijuca).
No início do mês, o secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, esteve reunido com uma comissão de moradores do Borel, formada por parentes das vítimas.
Segundo eles, Garotinho pediu para que "não mostrassem o rosto", para evitar retaliações por parte de policiais militares envolvidos no caso. Os parentes disseram que o secretário prometeu punir os responsáveis pela matança. Até agora, só o comandante do batalhão foi trocado.
Rodrigues não depôs antes porque estava ferido e abalado emocionalmente, disse a irmã Patrícia. Mais de um mês após o crime, ele continua sem proteção policial.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa pediu à Secretaria Nacional de Direitos Humanos a inclusão de Rodrigues no Programa Nacional de Proteção à Testemunha.
O caso dos quatro jovens será examinado hoje pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa, em Brasília.
Amanhã os secretários nacionais de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, estarão no Rio para saber como estão as investigações. Eles pretendem visitar a favela e conversar com as testemunhas.
Miranda recebeu uma carta-dossiê assinada por associações de moradores do Borel, por igrejas e grupos de defesa dos direitos humanos. O dossiê detalha a situação de cada morto e as circunstâncias em que foram atingidos. O documento também foi encaminhado a Soares, ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e ao arcebispo do Rio, d. Eusébio Scheid.


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