São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Em um só dia, 39 corpos foram enterrados em cemitério da zona leste

DA REPORTAGEM LOCAL

É outono, mas parece primavera na quadra 70 do cemitério municipal da Vila Formosa, o maior da América Latina. Encobertas por flores, 17 covas guardam os corpos de homens mortos a tiros desde o último sábado, quando teve início a onda de violência no Estado causada pelo levante do PCC.
Instalado em uma área de 763 mil m2 da zona leste de São Paulo, o cemitério não tem construções. Os mortos são enterrados na terra e ali permanecem durante três anos até serem exumados. Após esse período, a família tem a opção de transferi-los para o ossário.
De sábado até anteontem, dos 193 enterros, 17 foram de pessoas mortas por armas de fogo, um aumento de 183% em relação à semana anterior em que somente seis, de 107, foram mortos por tiros.
O recorde diário de enterros no Vila Formosa aconteceu na última quarta-feira, quando 39 corpos foram sepultados no local. Entre eles, os de Paulo Ricart do Vale, 17, e de Jonathan Roberto Farias, 19, mortos durante suposto confronto com os policiais. Segundo a polícia, os jovens eram ligados ao PCC. As famílias e os vizinhos negam.
"Na quarta, foi uma tensão grande. Os familiares dos mortos estavam muito revoltados e a gente teve medo de alguém querer se vingar porque se comentava que havia gente do PCC", diz o coveiro Raimundo dos Santos, 54, há 28 anos no cemitério. No fim, tudo terminou bem. "Pode ser bandido ou honesto. A gente trata todo mundo igual e respeita a dor das famílias."
Ao lado do Vila Formosa, o cemitério São Luiz (na zona sul) também recebeu 17 mortos por arma de fogo na última semana, contra cinco da semana anterior. Ao menos seis tinham tiros na cabeça.
No cemitério de Perus (Dom Bosco), houve sete mortes por armas de fogo. Na semana anterior, foram duas. (CLÁUDIA COLLUCCI, MARCELO DA SILVA GUTIERRES, SIMONE HARNIK)

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