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GUERRA URBANA / ACADEMIA
Estudantes da escola de oficiais acreditam que governo agiu de forma firme e descartam a possibilidade de acordo com a facção
Para alunos da Academia do
Barro Branco, divulgação
intensa de ataques suscitou
vandalismo e não houve
vingança na reação policial
Cadetes da PM minimizam ação do PCC
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O terror que se instalou em
São Paulo com a onda de ataques da facção criminosa PCC
não poupou os cerca de 800 cadetes da Academia de Polícia
Militar do Barro Branco. Na
noite de segunda-feira, quando
a cidade se impôs um toque de
recolher, parte dos estudantes
preferiu dormir nos alojamentos a enfrentar as ruas.
Alunos do terceiro e do quarto ano, com permissão de voltar
para casa todas as noites, mas
que fazem o caminho de moto
-principal veículo utilizado
por criminosos nos ataques-,
não saíram às ruas com receio
de serem confundidos como
suspeitos pela própria polícia.
Os que deixaram a academia
na noite de segunda-feira reforçaram os cuidados, mudaram de caminho e pediram cautela a familiares e amigos. Apesar de andarem fardados na
academia, nas ruas, vestem-se
como qualquer outro estudante: calça jeans, camiseta, malha,
tênis e mochila.
"Minha família não é de militares, por isso fica um pouco
mais preocupada. Avisei para
eles terem mais cautela em relação a telefonemas, a posturas,
a orientar as pessoas", disse o
cadete Osmário Ferreira da Silva, 31, casado há sete anos e pai
de dois filhos.
Gabriel Leivas Müller Hoff,
23, colega de turma de Silva,
disse ter ficado mais atento no
caminho para a casa. "A gente
dobrou a atenção, aumentou a
cautela em relação a horários e
a locais que freqüentamos."
A prática de cautela, no entanto, não coincide com o discurso dos cadetes sobre as
ações do PCC. Durante cerca de
uma hora, a reportagem conversou com cinco alunos do 4º
ano, que falaram sob o olhar
atento do comandante.
Num discurso sintonizado,
minimizaram a atuação da facção, apontaram exageros por
parte da imprensa, disseram
que o Estado agiu de forma firme e rejeitaram a possibilidade
de um acordo entre o PCC e o
governo para o fim dos ataques.
"Não aconteceu"
Para o cadete Vinícius Zampolo, 23, em nenhum momento
da atuação do PCC, que, até a
noite de anteontem, totalizou
339 ataques contra policiais,
órgãos públicos e bancos, o governo demonstrou não ter o
controle da situação. "A partir
do momento em que aconteceu
o fato, o Estado já agiu de forma
a solucionar os problemas. Não
perdeu o controle."
E o acordo? "Isso não aconteceu", afirmou Camila Mendonça Munhoz Dati, 21, cuja intervenção foi apoiada pelos colegas. "Não vamos negar que o
PCC demonstrou que existe,
mas a força em si é muitas vezes
o medo que a gente acaba externando", disse Silva.
Para os cadetes, a veiculação
exaustiva dos ataques pela TV
suscitou atos de vandalismos,
que não tinham conexão com a
facção. "Teve muito criminoso
comum que se aproveitou da situação", acredita Hoff.
Quanto aos 107 suspeitos
mortos pela polícia até anteontem, cujos vínculos com a ação
criminosa ainda não foram esclarecidos, o cadete Anderson
Kühl de Oliveira, 26, como os
demais, descartou a possibilidade de vingança. "De maneira
alguma isto ocorreu. A Polícia
Militar age dentro da legalidade. Os criminosos é que investiram contra a polícia, que apenas reagiu", disse.
Sobre a melhor forma de
combater os grupos criminosos, os cadetes ensinam: deve-se conhecer bem o inimigo.
Neste ponto, cometem um
pecado. Dos cinco, apenas um
leu "A Arte da Guerra", escrito
há 2.500 anos pelo filósofo chinês Sun Tzu. Trata-se do livro
de cabeceira de Marcos Willians Herbas Camacho, 38, o
Marcola, líder máximo do PCC.
Como causa da criminalidade, os cadetes vinculam a violência à pobreza, ao desemprego, à falta de ensino e a uma legislação atrasada.
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