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Polícia só cumpre ordem contra caça-níquel após 1 ano
Delegacia-geral recebeu notificações da Justiça para apreender máquinas da capital paulista
Ministério Público irá apurar se policiais cometeram crimes de desobediência ou de prevaricação ao não cumprir determinação judicial
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por um ano e um mês, a Polícia Civil de São Paulo deixou de
cumprir ordem da Justiça para
apreender todas as máquinas
caça-níqueis da capital, apesar
de ter sido notificada várias vezes da decisão, segundo documentos do processo e as avaliações do juiz que deu a ordem e
do promotor do caso.
O grupo do Ministério Público responsável por investigar
policiais, o Gecep, vai analisar
se o atraso no cumprimento da
ordem judicial se configurou
nos crimes de desobediência ou
prevaricação (quando é cometido por funcionário público
em interesse próprio).
A ordem do juiz Edison
Brandão, da 5ª Vara Criminal
de São Paulo, foi enviada pela
primeira vez em março de 2006
e reiterada a Marco Antonio
Desgualdo, então delegado-geral, ainda no ano passado -governo Geraldo Alckmin
(PSDB)- e neste ano ao delegado Mario Jordão Toledo Leme
-gestão José Serra (PSDB).
Nesse período, a polícia não explicou à Justiça por que a ordem não foi cumprida.
A polícia só desencadeou
uma grande ação de apreensão
de caça-níqueis na capital em
17 de abril -após a operação da
Polícia Federal, batizada de
Hurricane (furacão, em inglês),
contra um esquema de jogo ilegal, corrupção e tráfico de influência no Rio de Janeiro.
Desgualdo foi investigado
pelo Tribunal de Justiça, três
anos antes, após ser flagrado
em uma escuta telefônica, na
qual pedia a um assessor para
alertar outro delegado que estaria sendo investigado por ligação com esquema de caça-níqueis, segundo o Ministério
Público. O caso foi arquivado
por falta de provas.
Em 20 de março de 2006,
uma notificação da decisão, endereçada a Desgualdo, foi entregue por um oficial de Justiça. O recebimento tem carimbo
e assinatura da Delegacia Geral
de Polícia Adjunta -ligada diretamente ao delegado-geral.
Mais três notificações -duas
em 2006 e uma neste ano- foram enviadas ao delegado-geral
e uma para Secretaria da Segurança Pública. Os recebimentos são confirmados por carimbos e assinaturas de funcionários dos dois órgãos.
Em resposta, foram enviados
relatórios à Justiça pela polícia
que falavam sobre outras providências tomadas no processo
-originário de um caso de roubo de máquinas caça-níqueis-
e não mencionavam providências tomadas em relação à ordem de apreensão em massa.
Segundo avaliação do juiz no
processo, a decisão só passou a
ser cumprida no mês passado.
No último dia 27, o diretor do
Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), Aldo
Galiano Júnior, informou ao
juiz a abertura de inquérito para investigar a exploração de
caça-níqueis em toda a cidade e
as providências para apreensão
das máquinas na capital.
Galiano Júnior informou
que soube da decisão pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial
de Combate ao Crime Organizado) -o grupo do Ministério
Público recebeu cópia da decisão no dia 17 de abril deste ano.
Essa resposta foi interpretada pelo juiz como a confirmação de que sua ordem só foi
cumprida mais de um ano depois. O promotor do caso, Salvador Francisco de Souza Freitas, também considerou que a
ordem foi cumprida com atraso e solicitou que o caso fosse
encaminhado ao Gecep.
Das quatro notificações à polícia, três foram recebidas em
2006 quando Desgualdo era o
delegado-geral. Em 2003, ele e
o então delegado-geral-adjunto, Luiz Carlos dos Santos, foram flagrados por escuta telefônica durante investigação do
Ministério Público Federal sobre o contrabandista Roberto
Eleutério da Silva, o Lobão.
Na conversa, eles falam de
um delegado que estaria na mira dos procuradores. Para o Ministério Público na época, Desgualdo teria mandado o assessor avisar o delegado de que ele
estava sendo investigado por
um suposto "acerto" envolvendo máquinas de caça-níqueis.
O caso foi apurado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo,
que concluiu em 2005 pelo arquivamento da representação
por falta de provas.
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