São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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USP e alunos negociam fim da ocupação

Reitora deve receber estudantes, que ocupam universidade há 18 dias e se recusam a discutir saída com Polícia Militar

Grupo tem abaixo-assinado com apoio de professores e intelectuais, que pedem negociação pacífica para desocupação da reitoria

DA REPORTAGEM LOCAL

Somados 18 dias de ocupação do prédio onde está instalado seu gabinete, a reitora da USP (Universidade de São Paulo), Suely Vilela, deverá receber hoje um grupo de estudantes para negociar a saída do local.
A informação foi confirmada ontem à Folha pelos estudantes e pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que mediou a negociação do encontro.
Até o fechamento desta edição, Suely Vilela não havia sido encontrada pela reportagem e por sua assessoria para comentar o assunto.
A reunião está marcada para as 8h de hoje, em uma sala da Escola Politécnica. A reitora, segundo Suplicy, fez duas exigências para aceitar o agendamento do encontro, solicitado pelos estudantes desde o início da ocupação.
A primeira: que a conversa se limite a uma comissão formada por 30 alunos (que, segundo a Folha apurou, teria de ter autonomia para tomar decisões em nome do grupo). A segunda: que na pauta sejam discutidas as cinco propostas feitas por ela em uma carta divulgada em 10 de maio -sobre moradia, reforma de infra-estrutura, contratação de docentes, as medidas do governador José Serra (PSDB) para as universidades públicas e a criação de uma comissão para acompanhar essas reivindicações.

Reivindicações
Os estudantes afirmam que a gestão Serra adotou medidas restritivas à autonomia universitária a partir da criação da Secretaria de Ensino Superior e que queria proibir as universidades de mexer no orçamento sem autorização do governador. A gestão Serra nega que tenha essa intenção.
Eles também reivindicam mais de 700 vagas para moradia estudantil, além de reformas nos prédios da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e também do IME (Instituto de Matemática e Estatística).
Nos primeiros dias da ocupação, a reitora da USP havia informado que "eventuais avanços na proposta" feita na carta só ocorreriam com o fim da ocupação.

Não à polícia
Em reunião iniciada na noite de sábado, que se estendeu até a madrugada, os estudantes decidiram não negociar a desocupação pacífica da reitoria com a Polícia Militar. O convite da PM foi feito na sexta-feira.
Os alunos enviarão representantes da comissão jurídica do movimento de ocupação para entregar uma carta na qual explicam o porquê da recusa.
"Queremos negociar com a reitoria, não com a polícia. Se estamos aqui lutando por autonomia, não vemos sentido em negociar com alguém de fora", diz Apoena Canuto, 21, integrante da comissão de comunicação do movimento.
Canuto diz que, no debate dos estudantes, não foram discutidas medidas preventivas a uma possível desocupação forçada. "Não falamos sobre isso", diz o estudante.
Na quarta-feira da semana passada, o movimento de ocupação descumpriu ordem judicial, entregue por oficial de Justiça, que ordenava a desocupação. A liminar foi concedida a pedido da reitoria.
Na última sexta-feira, a crise se agravou com o anúncio de greve de estudantes, que paralisou FFLCH e ECA (Escola de Comunicações e Artes) e esvaziou parte das salas de aula de outras unidades.
No dia anterior, os funcionários da universidade haviam entrado em greve, com adesão de 70% da categoria, segundo os próprios.

Abaixo-assinado
Os estudantes divulgaram na internet um abaixo-assinado que pede a abertura de negociações e repudia "qualquer ação violenta de desocupação do prédio, tendo em vista a justeza de sua causa política em defesa da universidade pública."
A lista inclui cerca de 250 assinaturas de professores e intelectuais ligados à universidade, entre eles a filósofa Marilena Chaui e o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik.
(DANIEL BERGAMASCO)


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