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USP e alunos negociam fim da ocupação
Reitora deve receber estudantes, que ocupam universidade há 18 dias e se recusam a discutir saída com Polícia Militar
Grupo tem abaixo-assinado
com apoio de professores e intelectuais, que pedem negociação pacífica para
desocupação da reitoria
DA REPORTAGEM LOCAL
Somados 18 dias de ocupação
do prédio onde está instalado
seu gabinete, a reitora da USP
(Universidade de São Paulo),
Suely Vilela, deverá receber hoje um grupo de estudantes para
negociar a saída do local.
A informação foi confirmada
ontem à Folha pelos estudantes e pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que mediou a
negociação do encontro.
Até o fechamento desta edição, Suely Vilela não havia sido
encontrada pela reportagem e
por sua assessoria para comentar o assunto.
A reunião está marcada para
as 8h de hoje, em uma sala da
Escola Politécnica. A reitora,
segundo Suplicy, fez duas exigências para aceitar o agendamento do encontro, solicitado
pelos estudantes desde o início
da ocupação.
A primeira: que a conversa se
limite a uma comissão formada
por 30 alunos (que, segundo a
Folha apurou, teria de ter autonomia para tomar decisões em
nome do grupo). A segunda:
que na pauta sejam discutidas
as cinco propostas feitas por ela
em uma carta divulgada em 10
de maio -sobre moradia, reforma de infra-estrutura, contratação de docentes, as medidas
do governador José Serra
(PSDB) para as universidades
públicas e a criação de uma comissão para acompanhar essas
reivindicações.
Reivindicações
Os estudantes afirmam que a
gestão Serra adotou medidas
restritivas à autonomia universitária a partir da criação da Secretaria de Ensino Superior e
que queria proibir as universidades de mexer no orçamento
sem autorização do governador. A gestão Serra nega que tenha essa intenção.
Eles também reivindicam
mais de 700 vagas para moradia estudantil, além de reformas nos prédios da FFLCH
(Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas) e também do IME (Instituto de Matemática e Estatística).
Nos primeiros dias da ocupação, a reitora da USP havia informado que "eventuais avanços na proposta" feita na carta
só ocorreriam com o fim da
ocupação.
Não à polícia
Em reunião iniciada na noite
de sábado, que se estendeu até
a madrugada, os estudantes decidiram não negociar a desocupação pacífica da reitoria com a
Polícia Militar. O convite da
PM foi feito na sexta-feira.
Os alunos enviarão representantes da comissão jurídica do
movimento de ocupação para
entregar uma carta na qual explicam o porquê da recusa.
"Queremos negociar com a
reitoria, não com a polícia. Se
estamos aqui lutando por autonomia, não vemos sentido em
negociar com alguém de fora",
diz Apoena Canuto, 21, integrante da comissão de comunicação do movimento.
Canuto diz que, no debate
dos estudantes, não foram discutidas medidas preventivas a
uma possível desocupação forçada. "Não falamos sobre isso",
diz o estudante.
Na quarta-feira da semana
passada, o movimento de ocupação descumpriu ordem judicial, entregue por oficial de Justiça, que ordenava a desocupação. A liminar foi concedida a
pedido da reitoria.
Na última sexta-feira, a crise
se agravou com o anúncio de
greve de estudantes, que paralisou FFLCH e ECA (Escola de
Comunicações e Artes) e esvaziou parte das salas de aula de
outras unidades.
No dia anterior, os funcionários da universidade haviam
entrado em greve, com adesão
de 70% da categoria, segundo
os próprios.
Abaixo-assinado
Os estudantes divulgaram na
internet um abaixo-assinado
que pede a abertura de negociações e repudia "qualquer ação
violenta de desocupação do
prédio, tendo em vista a justeza
de sua causa política em defesa
da universidade pública."
A lista inclui cerca de 250 assinaturas de professores e intelectuais ligados à universidade,
entre eles a filósofa Marilena
Chaui e o compositor e ensaísta
José Miguel Wisnik.
(DANIEL BERGAMASCO)
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