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Número de casos de leishmaniose letal dobra em 4 anos
Apesar do aumento de 109,65% na incidência da doença, Estado de São Paulo registra menos mortes de infectados
Até a semana passada, foram confirmados 18 casos de leishmaniose visceral no Estado, mas nenhuma morte foi registrada
AFRA BALAZINA
PAULO ARAÚJO
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de casos do tipo letal de leishmaniose -a visceral- cresceu 109,65% no Estado de São Paulo de 2002 a
2006. O número de mortes, entretanto, caiu nesse período
-de 13 para 8. Neste ano, foram
confirmados, até 14 de maio, 18
casos, sem mortes.
Segundo o Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, da Secretaria de
Estado da Saúde, verifica-se
"expansão da doença à medida
que se verifica a adaptação do
vetor em zonas urbanas". Em
1999, detectou-se o primeiro
caso originado no Estado de SP.
Para haver contágio, é preciso que o mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis) contraia o
protozoário de um animal infectado, como um cachorro ou
espécie silvestre, e transmita-o
para o homem pela picada.
De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde,
Cilmara Polido Garcia, médicos estão sendo sensibilizados
para reconhecer a leishmaniose visceral. "O número de mortes diminuiu porque se conduziu melhor o tratamento. Iniciado precocemente, a chance
de cura aumenta", continua.
Outras doenças transmitidas
por mosquitos, como dengue e
malária, têm sido mais freqüentes em São Paulo.
Houve explosão de casos de
malária na cidade de São Paulo
entre o último trimestre de
2006 e março deste ano -foram confirmados 67 casos,
contra 6 de 1990 até o terceiro
trimestre de 2006. Quanto à
dengue, 90 cidades paulistas
têm epidemia da doença.
Aquecimento global
O ressurgimento de doenças
transmitidas por mosquitos
pode ser um dos efeitos do
aquecimento global, diz o infectologista e professor da Unifesp Paulo Olzon. Associadas
ao verão, essas moléstias aparecem ao longo do ano devido ao
clima constantemente quente.
"Algumas doenças sazonais
passaram a se manifestar em
todas as estações", aponta Olzon. A explicação é que os mosquitos transmissores proliferam em clima quente.
Para a médica veterinária
Maria Cecília Luvizotto, professora da Unesp, a "única relação notável" entre os avanços
das três doenças é a íntima relação de incidência delas "com
áreas de maior freqüência de
população carente".
Por ser doença endêmica especialmente no Nordeste, a
leishmaniose visceral deve ter
sido trazida a São Paulo "por
pessoas que a adquiriram lá",
afirma o primeiro-secretário
do departamento de infectologia da Associação Paulista de
Medicina (APM), Hélio Vasconcellos Lopes.
Outra hipótese é que a moléstia tenha se espalhado a partir de um "surto isolado".
Segundo o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo, as cidades que registraram maior
número de casos autóctones
(contraída no próprio município) em 2006 foram Bauru (67),
Dracena (41), Birigüi (23) e
Adamantina (20).
Epidemia improvável
Uma epidemia de leishmaniose na dimensão que teve a
da dengue é muito improvável
na visão de infectologistas, pois
a transmissão é mais difícil.
Os cães hospedeiros, por
exemplo, precisam ser sacrificados, afirma a coordenadora
da Vigilância Epidemiológica.
Também é necessário reduzir o
número de mosquitos.
Dos municípios paulistas, segundo o Bepa (Boletim Epidemiológico Paulista), 53,2% estão em situação de vulnerabilidade -não tiveram registro de
casos, mas estão perto de outros que já possuem a doença.
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