São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Número de casos de leishmaniose letal dobra em 4 anos

Apesar do aumento de 109,65% na incidência da doença, Estado de São Paulo registra menos mortes de infectados

Até a semana passada, foram confirmados 18 casos de leishmaniose visceral no Estado, mas nenhuma morte foi registrada

AFRA BALAZINA
PAULO ARAÚJO
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de casos do tipo letal de leishmaniose -a visceral- cresceu 109,65% no Estado de São Paulo de 2002 a 2006. O número de mortes, entretanto, caiu nesse período -de 13 para 8. Neste ano, foram confirmados, até 14 de maio, 18 casos, sem mortes.
Segundo o Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, da Secretaria de Estado da Saúde, verifica-se "expansão da doença à medida que se verifica a adaptação do vetor em zonas urbanas". Em 1999, detectou-se o primeiro caso originado no Estado de SP.
Para haver contágio, é preciso que o mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis) contraia o protozoário de um animal infectado, como um cachorro ou espécie silvestre, e transmita-o para o homem pela picada.
De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde, Cilmara Polido Garcia, médicos estão sendo sensibilizados para reconhecer a leishmaniose visceral. "O número de mortes diminuiu porque se conduziu melhor o tratamento. Iniciado precocemente, a chance de cura aumenta", continua.
Outras doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e malária, têm sido mais freqüentes em São Paulo.
Houve explosão de casos de malária na cidade de São Paulo entre o último trimestre de 2006 e março deste ano -foram confirmados 67 casos, contra 6 de 1990 até o terceiro trimestre de 2006. Quanto à dengue, 90 cidades paulistas têm epidemia da doença.

Aquecimento global
O ressurgimento de doenças transmitidas por mosquitos pode ser um dos efeitos do aquecimento global, diz o infectologista e professor da Unifesp Paulo Olzon. Associadas ao verão, essas moléstias aparecem ao longo do ano devido ao clima constantemente quente.
"Algumas doenças sazonais passaram a se manifestar em todas as estações", aponta Olzon. A explicação é que os mosquitos transmissores proliferam em clima quente.
Para a médica veterinária Maria Cecília Luvizotto, professora da Unesp, a "única relação notável" entre os avanços das três doenças é a íntima relação de incidência delas "com áreas de maior freqüência de população carente".
Por ser doença endêmica especialmente no Nordeste, a leishmaniose visceral deve ter sido trazida a São Paulo "por pessoas que a adquiriram lá", afirma o primeiro-secretário do departamento de infectologia da Associação Paulista de Medicina (APM), Hélio Vasconcellos Lopes.
Outra hipótese é que a moléstia tenha se espalhado a partir de um "surto isolado".
Segundo o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo, as cidades que registraram maior número de casos autóctones (contraída no próprio município) em 2006 foram Bauru (67), Dracena (41), Birigüi (23) e Adamantina (20).

Epidemia improvável
Uma epidemia de leishmaniose na dimensão que teve a da dengue é muito improvável na visão de infectologistas, pois a transmissão é mais difícil.
Os cães hospedeiros, por exemplo, precisam ser sacrificados, afirma a coordenadora da Vigilância Epidemiológica. Também é necessário reduzir o número de mosquitos.
Dos municípios paulistas, segundo o Bepa (Boletim Epidemiológico Paulista), 53,2% estão em situação de vulnerabilidade -não tiveram registro de casos, mas estão perto de outros que já possuem a doença.


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