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Candidato a policial terá vida investigada
Polícia Civil de São Paulo fará apuração de caráter "ético-social" que inclui de desvio de personalidade a inadimplência
Objetivo é verificar se candidato é compatível com atividade policial; para advogados, afastado poderá recorrer ao Supremo
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil de São Paulo
vai incluir uma investigação de
caráter "ético-social" para os
que querem ingressar em seus
quadros. Até investigações de
campo serão feitas quando se
constatar que o candidato tem
eventuais incompatibilidades
com a carreira, de acordo com
portaria publicada na segunda-feira no "Diário Oficial".
As diligências estão previstas
quando houver "eventual desvio de personalidade, relações
sociais incompatíveis, inadimplemento de obrigações contratuais, práticas de jogos de
azar e uso de bebida alcoólica e
drogas ilícitas". Ou seja, até caloteiro pode ser barrado na
Academia de Polícia Civil.
O diretor da Academia da Polícia Civil, Adilson José Vieira
Pinto, afirma que a portaria
não foi criada porque estão ingressando policiais problemáticos na corporação.
"A capacidade técnica é insuficiente para julgar se um candidato será um bom policial. O
policial precisa aliar técnica e
ética", afirma.
Em entrevista à Folha na última sexta-feira, o secretário da
Segurança, Antonio Ferreira
Pinto, defendeu uma "cruzada"
para moralizar a polícia paulista. A investigação "ético-social"
faz parte das iniciativas para
conter os escândalos em série
envolvendo policiais civis.
As investigações serão feitas
pelas unidades de inteligência
das várias delegacias, sob coordenação da Corregedoria.
Advogados ouvidos pela Folha dizem que os candidatos
afastados podem recorrer ao
Supremo Tribunal Federal, já
que a Constituição só autoriza
sanções quando não há mais
possibilidade de recurso.
A ideia da apuração, segundo
Vieira Pinto, não é estabelecer
se o candidato é culpado ou
inocente, mas sim se é compatível ou não com a atividade policial. Ele dá um exemplo:
"Imagine alguém que chega bêbado todo dia em casa. Beber
não é crime, mas é incompatível com a atividade policial".
Para ele, o princípio de presunção de inocência vale para
processos, mas "não se aplica
ao perfil ético-social".
O presidente do Sindpesp
(sindicato dos delegados do Estado), José Martins Leal, apoia
a medida. Segundo ele, a fragilidade das exigências para concursos "contamina" a polícia.
"Muitos pensam em entrar na
polícia para ficar ricos, e não
para viver de salário", diz.
A Polícia Federal investiga
desde 2004 os candidatos, para
avaliar se eles têm a "idoneidade moral inatacável". Além dos
antecedentes criminais e uso
de drogas, a PF avalia se o candidato paga contas em dias e se
tem relacionamento com "pessoas de notórios e desabonadores antecedentes criminais".
A PM do Rio também faz pesquisa para identificar desvios
de conduta e submete os candidatos a teste toxicológico.
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