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EDUCAÇÃO
Inadimplência cresce, chega a atingir 40% e faz instituição particular aceitar bens em pagamento de dívidas
Aluno quita mensalidade até com chinelo
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
O aumento da parcela de alunos
que atrasa ou não paga mensalidades está levando universidades e
escolas particulares a adotar uma
antiga prática comercial: o escambo. Tênis, computadores, máquinas agrícolas, cargas de trigo e até
chinelos de dedo estão sendo aceitos como moeda na quitação de dívidas de inadimplentes.
A Confederação Nacional de Estabelecimentos de Ensino, que representa 40 mil instituições privadas do país, sustenta que a inadimplência chega a 40% -caso do
Nordeste- e supera os 5% em todo o país (leia texto abaixo).
Na Universidade de Cruz Alta
(RS), o escambo é prática corrente. A Unicruz, como é chamada, já
recebeu como forma de pagamento de mensalidades uma cozinha
completa, cargas de trigo e de soja,
reboque agrícola e computador.
Uma motocicleta foi recentemente rejeitada, pois a universidade, que tem 3.700 alunos, diz que
só aceita bens úteis aos 28 cursos
existentes ou à administração.
O escambo é uma solução não só
para o estudante e para a escola.
"Nossa prioridade é não perder o
aluno", declarou o responsável
pela área de cobrança da Unicruz,
Luis Carlos Otharan, 30.
Ele disse que a Unicruz também
aceita cheques pré-datados e parcelamento das dívidas na negociação de mensalidades em atraso.
O valor das mensalidades varia,
dependendo da faculdade, de R$
237 (pedagogia) a R$ 725 (farmácia). É cobrada taxa semestral de
rematrícula, equivalente à mensalidade de cada curso. A universidade tem 360 professores.
O índice médio de inadimplência, de acordo com a instituição, é
de 34% -considerado elevado.
Duas promoções estão em andamento para tentar combater a inadimplência: os sorteios de 20 mensalidades e de 20 semestralidades.
Só podem participar alunos com
carnê em dia.
Fator local
Um dos fatores determinantes
da inadimplência, de acordo com
a universidade, é o fato de a economia da região de Cruz Alta (399
km a noroeste de Porto Alegre)
depender da agricultura.
Os produtores, pais de boa parte
dos alunos, se queixam de dificuldades. Se a agricultura vai mal, os
demais setores econômicos sentem os reflexos.
A inadimplência em universidades de cidades industrializadas,
como Caxias do Sul e Passo Fundo, por exemplo, anda por volta
dos 10%, segundo a Unicruz.
A Unicruz preserva a identidade
de alunos que encontram dificuldades para custear os estudos e
procuram resolver sua situação
por meio de bens, prática adotada
desde o final de 1994, mas só agora
tornada pública.
Às vezes, o bem oferecido não é
suficiente para saldar a dívida.
Nesse caso, o aluno o entrega como pagamento parcial e completa
a diferença com dinheiro.
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