São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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EDUCAÇÃO
Inadimplência cresce, chega a atingir 40% e faz instituição particular aceitar bens em pagamento de dívidas
Aluno quita mensalidade até com chinelo

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

MARTA AVANCINI
da Reportagem Local

O aumento da parcela de alunos que atrasa ou não paga mensalidades está levando universidades e escolas particulares a adotar uma antiga prática comercial: o escambo. Tênis, computadores, máquinas agrícolas, cargas de trigo e até chinelos de dedo estão sendo aceitos como moeda na quitação de dívidas de inadimplentes.
A Confederação Nacional de Estabelecimentos de Ensino, que representa 40 mil instituições privadas do país, sustenta que a inadimplência chega a 40% -caso do Nordeste- e supera os 5% em todo o país (leia texto abaixo).
Na Universidade de Cruz Alta (RS), o escambo é prática corrente. A Unicruz, como é chamada, já recebeu como forma de pagamento de mensalidades uma cozinha completa, cargas de trigo e de soja, reboque agrícola e computador.
Uma motocicleta foi recentemente rejeitada, pois a universidade, que tem 3.700 alunos, diz que só aceita bens úteis aos 28 cursos existentes ou à administração.
O escambo é uma solução não só para o estudante e para a escola. "Nossa prioridade é não perder o aluno", declarou o responsável pela área de cobrança da Unicruz, Luis Carlos Otharan, 30.
Ele disse que a Unicruz também aceita cheques pré-datados e parcelamento das dívidas na negociação de mensalidades em atraso.
O valor das mensalidades varia, dependendo da faculdade, de R$ 237 (pedagogia) a R$ 725 (farmácia). É cobrada taxa semestral de rematrícula, equivalente à mensalidade de cada curso. A universidade tem 360 professores.
O índice médio de inadimplência, de acordo com a instituição, é de 34% -considerado elevado.
Duas promoções estão em andamento para tentar combater a inadimplência: os sorteios de 20 mensalidades e de 20 semestralidades. Só podem participar alunos com carnê em dia.

Fator local
Um dos fatores determinantes da inadimplência, de acordo com a universidade, é o fato de a economia da região de Cruz Alta (399 km a noroeste de Porto Alegre) depender da agricultura.
Os produtores, pais de boa parte dos alunos, se queixam de dificuldades. Se a agricultura vai mal, os demais setores econômicos sentem os reflexos.
A inadimplência em universidades de cidades industrializadas, como Caxias do Sul e Passo Fundo, por exemplo, anda por volta dos 10%, segundo a Unicruz.
A Unicruz preserva a identidade de alunos que encontram dificuldades para custear os estudos e procuram resolver sua situação por meio de bens, prática adotada desde o final de 1994, mas só agora tornada pública.
Às vezes, o bem oferecido não é suficiente para saldar a dívida. Nesse caso, o aluno o entrega como pagamento parcial e completa a diferença com dinheiro.



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