São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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Colégio de SP recebe bola e computador

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Elie Guitta (à esq.), na livraria do Anglo Latino, vende tênis entregues por pai de 3 alunos que não tem como pagar


MALU GASPAR
da Reportagem Local

No colégio Anglo Latino, em São Paulo, as dívidas de pais de alunos com mensalidades já foram trocadas por computadores, bolas, calções para futebol, pares de tênis, sandálias do tipo havaianas e até microscópios para o laboratório da escola.
Segundo o diretor do colégio, Sérgio Arcury, o perfil dos pais que procuram negociar as dívidas é geralmente o mesmo: pessoas com boas condições de vida que passam por dificuldades financeiras, como o desemprego, mas que querem manter os filhos na escola.
Arcury afirma que o colégio prefere negociar em dinheiro, mas aceita as mercadorias para preservar o aluno e porque pode usá-los no colégio.
"Já chegaram a nos oferecer até jóias e bens de família, mas isso realmente não nos interessa. Só aceitamos coisas que possamos aproveitar", diz Arcury.
Um exemplo foi o microscópio ótico acoplado a um videocassete, aceito pela escola e avaliado em R$ 9.500,00.
O aparelho, segundo o diretor, serviu como pagamento por mensalidades já vencidas e ainda por vencer.
Arcury afirma que cerca de 10 a 12 computadores já foram deixados na escola por pais de alunos que não podiam pagas as mensalidades.
No Anglo Latino, as mensalidades variam de R$ 479,00 na pré-escola até R$ 699,00, no 2º grau. Um mês de aulas no primário vale R$ 438,00, e, no ginásio, R$ 591,00.
Geralmente, diz o diretor do colégio, quem oferece alguma coisa na negociação para o pagamento da mensalidade dos filhos são os pais.
Nesses casos, ele costuma avaliar se o material pode ou não ser usado na escola.
O departamento de compras do colégio, então, verifica o preço do artigo no mercado e faz a equivalência com as mensalidades em débito.
Tênis importado
Um exemplo desse tipo de negociação foi a realizada pelo colégio com um casal de pais de três alunos, matriculados na pré-escola, no primário e ginásio. Donos de uma importadora, eles teriam de pagar cerca de R$ 1.508,00 por mês pelo colégio.
Os pais levam os pares de calçados importados da China e de Taiwan para vender na livraria do colégio.
No final do mês, o resultado da venda é repassado para a escola, como pagamento pelas mensalidades. O que sobra, diz Arcury, é devolvido aos pais.
"Agora só estamos vendemos esses tênis, para esses pais. Mas já vendemos bolas, calções e redes de futebol, por anos. As mensalidades foram pagas e as crianças até já terminaram o colégio", afirma Elie Melul Guitta, 58, que toma conta da livraria.
Neste mês, foram vendidos 43 pares, mas, segundo Melul, a média mensal é de 100 pares.
Entre os calçados trocados pela mensalidade das três crianças estão sandálias do tipo havaianas, vendidas por R$ 5,00.
Há também tênis com luzes que acendem ao andar, chamados Light, vendidos a R$ 19,00 o par, em média. O mais caro é o tênis modelo "cross" da marca Sprinter, que sai por R$ 38,00.
(MALU GASPAR)


Colaborou Evelson de Freitas, repórter fotográfico



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