São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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Criador visita Cidade de Deus após 40 anos

DA SUCURSAL DO RIO

Há 40 anos, Giuseppe Badolato integrou a equipe de oito arquitetos que planejou a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Há 20 ele não punha os pés no bairro pobre e, por causa do tráfico de drogas, violento da zona oeste carioca. Em sua volta, anteontem, o arquiteto não conteve algumas lágrimas de tristeza.
"Quando eu vi o filme ["Cidade de Deus", de Fernando Meirelles], fiquei deprimido. O que nós queríamos, há 40 anos, era melhorar a vida de pessoas, mas isto aqui virou um depósito de gente, não uma cidade de bem-viver", disse Badolato, 69.
O arquiteto esteve no bairro a convite da ONG Programa Educação pelo Movimento, que oferece cursos diversos a cem crianças da comunidade. Ele, que veio de Nápoles para o Brasil com 13 anos e conseguiu estudar e se formar apesar da pobreza, falou a 20 crianças sobre sua vida e a experiência de arquiteto especializado em habitações populares.
"A Cidade de Deus foi projetada para ser um bairro-modelo. Haveria praças, ruas para pedestres, escolas, cinema, teatro, posto médico e as casas-embrião, que poderiam crescer de acordo com as necessidades das famílias. Não foi para isto [a situação atual] que nós lutamos", afirmou ele, lembrando que o projeto previa 15 mil moradores. Hoje, a área tem mais de 35 mil.
Coordenada por Haroldo Cardoso de Souza, a equipe de arquitetos foi convidada em 1962 por Sandra Cavalcanti, secretária de Serviços Sociais do governo Carlos Lacerda (1961-1965), para criar a Cidade de Deus.
O objetivo era levar para o bairro pessoas que estavam morando em morros, como já tinha sido feito em Vila Kennedy, Vila Aliança e Vila Esperança. O plano ficou concluído em 1964 e, segundo Baldolato, foi por água abaixo em 20 de janeiro de 1966.
"Houve nesse dia uma enchente catastrófica, que deixou milhares de desabrigados. O governador Negrão de Lima, então, resolveu levá-los para a Cidade de Deus, que ainda estava em obras. Tudo foi feito sem nenhum planejamento", contou ele, que hoje trabalha numa ONG voltada para cooperativas habitacionais. (LUIZ FERNANDO VIANNA)


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