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Criador visita Cidade de Deus após 40 anos
DA SUCURSAL DO RIO
Há 40 anos, Giuseppe Badolato
integrou a equipe de oito arquitetos que planejou a Cidade de
Deus, no Rio de Janeiro. Há 20 ele
não punha os pés no bairro pobre
e, por causa do tráfico de drogas,
violento da zona oeste carioca.
Em sua volta, anteontem, o arquiteto não conteve algumas lágrimas de tristeza.
"Quando eu vi o filme ["Cidade
de Deus", de Fernando Meirelles],
fiquei deprimido. O que nós queríamos, há 40 anos, era melhorar a
vida de pessoas, mas isto aqui virou um depósito de gente, não
uma cidade de bem-viver", disse
Badolato, 69.
O arquiteto esteve no bairro a
convite da ONG Programa Educação pelo Movimento, que oferece cursos diversos a cem crianças
da comunidade. Ele, que veio de
Nápoles para o Brasil com 13 anos
e conseguiu estudar e se formar
apesar da pobreza, falou a 20
crianças sobre sua vida e a experiência de arquiteto especializado
em habitações populares.
"A Cidade de Deus foi projetada
para ser um bairro-modelo. Haveria praças, ruas para pedestres,
escolas, cinema, teatro, posto médico e as casas-embrião, que poderiam crescer de acordo com as
necessidades das famílias. Não foi
para isto [a situação atual] que
nós lutamos", afirmou ele, lembrando que o projeto previa 15
mil moradores. Hoje, a área tem
mais de 35 mil.
Coordenada por Haroldo Cardoso de Souza, a equipe de arquitetos foi convidada em 1962 por
Sandra Cavalcanti, secretária de
Serviços Sociais do governo Carlos Lacerda (1961-1965), para criar
a Cidade de Deus.
O objetivo era levar para o bairro pessoas que estavam morando
em morros, como já tinha sido
feito em Vila Kennedy, Vila
Aliança e Vila Esperança. O plano
ficou concluído em 1964 e, segundo Baldolato, foi por água abaixo
em 20 de janeiro de 1966.
"Houve nesse dia uma enchente
catastrófica, que deixou milhares
de desabrigados. O governador
Negrão de Lima, então, resolveu
levá-los para a Cidade de Deus,
que ainda estava em obras. Tudo
foi feito sem nenhum planejamento", contou ele, que hoje trabalha numa ONG voltada para
cooperativas habitacionais.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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