São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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18ª SP FASHION WEEK

Lorenzo Merlino usa estéticas religiosas em desfile em escola; Haten une Bahia e Beirute

Moda étnica perfuma o domingo

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Modelo em desfile do estilista Lorenzo Merlino no colégio Liceu Pasteur, ontem na Vila Mariana


ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Domingo ensolarado também para a moda brasileira, com abordagem multicultural e étnica. O dia começou cedo para o público da moda, com o desfile de Lorenzo Merlino no Liceu Pasteur, na Vila Mariana. Foi um simpático formato para mostrar uma coleção de perfume multiétnico. "Guerra do Golfo, invasão do Afeganistão, a Intifada, o Iraque. Em tempo de novas cruzadas, o acirramento das questões religiosas alcança até mesmo as escolas", diz o estilista no texto de apresentação de sua coleção. Merlino aciona esse universo com leveza e ironia, como lhe é peculiar.
Os convidados ocupavam as salas de aula da escola, e as modelos entravam e saíam, com a sobrancelha unida -reforçando o caráter étnico. Muitas usavam as camisetas da coleção na cabeça. Cada tipo de amarração remete a uma estética -católica, judaica e muçulmana. Muitas túnicas, batas e vestidos, numa silhueta trabalhada e inteligente. Muito preto e branco, pontuados pelo vermelho, recebem sempre arriscados tratamentos formais. Lorenzo Merlino vai em direção de uma elegância moderna.
Como a Neon, a pequena jóia da moda paulistana, assinada pela dupla Dudu Bertholini e Rita Comparato. Eles fizeram os fashionistas se deslocarem da Bienal (sede oficial dos desfiles da São Paulo Fashion Week) e seguir para a rua Augusta, onde o povo era recebido com salgadinhos incríveis e drinks de vodka.
A Neon partiu de uma personalíssima linha de moda praia para roupas para o dia-a-dia. A marca tem informação a sensibilidade para interpretar vontades contemporâneas de moda. A partir do vermelho, azul e branco, criam um visual limpo e depurado, com uma estamparia sóbria e sofisticada. Agora, vestidos, camisas e batas fazem parte do vocabulário estilístico da dupla, que arrisca também peças em jeans -minissaia, short e calça, sempre de cintura alta. A Neon sugere linhas retas e proporções precisas. Avança e mostra que simplicidade é tudo.
Também numa viagem étnica, Fause Haten progride. Pretende unir Beirute e Bahia, conseguindo seus principais êxitos quando não se esforça muito. Seu masculino melhora, com os bons looks em branco do início, despojados, bem a cara do verão baiano, com bermudas (as soltas são ótimas) e túnicas, usados pelos modelos com havaianas ou mesmo descalços. No feminino, ele também vem mais à vontade, com grandes vestidos brancos tipo de orixás ou nos bons looks em laise (o terninho branco de Lucy Horn). Salvador fez bem a Fause, e tudo está mais leve, mais dourado.
Lino Villaventura trouxe também um leve perfume étnico, sobretudo em seu masculino, como é de seu estilo, mas segue no caminho de um verão mais lisérgico, quase hippie, multicolorido, também com bastante cobre e dourado. Cada vez mais limpo, mais suave, Villaventura marca pontos com o patchwork, em calças masculinas e femininas, e também em jaquetas. Picota os tecidos em leggings inteligentes, no tratamento artesanal que fez a fama de seu trabalho. Propõe o crash de estampas que faz a cara desta estação. Os melhores momentos são os vestidos floridos do final, em laranja e rosa, sendo o de Mariana Weickert o mais perfeito, com comprimento e proporções certos, obtendo movimento e fluidez.
Gloria Coelho fez mais uma vez uma coleção minimalista, tendo como ponto de partida a forma das armaduras, trabalhando com materiais tecnológicos, criando roupas a partir de tiras sobrepostas e presas por pequenas bolinhas de metal.
Também com bolinhas veio o verão de Marcelo Sommer, trazendo novamente o universo do circo, com pitadas espaciais, rock, anos 70 e... anos 90. Tem quase cara de flashback e alguns momentos parecem soltos, no tempo e no espaço, com proporções e silhuetas improváveis. Há peças boas, isoladas, e o trabalho de estamparia dá certo no quadriculado sobre fundo branco -que se estende até os sapatos. Legal: o vestido hippie de tiras horizontais, o Rainha masculino de listras, a t-shirt otimista com os símbolos do Sommer. Mas a moda não precisa de Erin O'Connor de vestido esquisitão de bolotas.


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