São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Vila Carioca apelará ao ex-morador Lula

Moradores esperam sensibilizar o presidente, que viveu no bairro da zona sul de São Paulo, para o problema da contaminação

Eles reivindicam a realização de exames específicos e a oferta de tratamento para as pessoas que apresentam traços de pesticida no corpo


AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores da Vila Carioca (zona sul de SP), que estão contaminados por pesticidas fabricados pela Shell, apelarão a um ex-vizinho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O presidente se mudou para o bairro em 1956 -a Shell começou a operar no local em 1949 e nega ser responsável pela contaminação. Como Lula diz ao discursar, morou em um "quarto e cozinha" no bairro. Ele até cita uma das ruas em que viveu, a Auriverde, onde estão várias das pessoas expostas aos pesticidas.
Os moradores da área dizem estar cansados do descaso da Prefeitura de São Paulo e afirmam que vão até o presidente pedir ajuda para realizar exames específicos e tratamento. "Já mandei carta, fax, nunca tive resposta. Agora, planejamos ir até a casa dele, em São Bernardo, para ver se nos atende", diz Izabel Vendrame, 44, moradora do condomínio.
"O presidente sempre fala que viveu aqui, mas nunca nos ajudou. Só ele poderia ir contra os interesses da Shell, ninguém tem mais força que ele no país", diz a vizinha Ivone Gentil.
A Secretaria da Saúde de São Paulo entregou um relatório parcial à CPI da Poluição da Câmara Municipal que mostra que, de 198 moradores analisados, em 73 foi detectado o pesticida DDE -um subproduto do DDT, usado, por exemplo, em plantações contra insetos. Em outras três pessoas foi detectada a presença no organismo do inseticida dieldrin -segundo a prefeitura, só a Shell produzia os chamados drins.
O presidente da SOS Vila Carioca, Aristides Acosta Fernandes, diz ter jogado futebol com o presidente no bairro. "Já fizemos um informativo sobre o caso da contaminação e mandamos, por meio de um coronel, para o presidente. Mas ele nunca nos deu atenção." Segundo ele, a associação insistirá no pedido de audiência com Lula. Procurada, a Presidência não havia se manifestado até a conclusão desta edição.
Uma prima do presidente, Judite Ferreira Mello, 74, mora na rua Frei Pedro de Souza, onde ele viveu na Vila Carioca. "Eu não acompanhei a história da contaminação porque faz pouco tempo que vim de Pernambuco para cá. Minha filha é quem mora nesta casa."
Para a Shell, a contaminação ocorrida nessa região pode ter partido de outras indústrias. "A região da Vila Carioca é historicamente uma zona industrial, com muitas empresas que manuseiam ou manusearam derivados de petróleo, produtos químicos e defensivos agrícolas", afirmou a empresa por meio de nota.

Denúncia
O PCN (Ponto de Contato Nacional), órgão ligado ao governo federal que tem a função de promover as diretrizes da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para as multinacionais no país, acatou denúncia contra a Shell feita pelo Sipetrol (sindicato dos trabalhadores no comércio de minérios e derivados de petróleo).
Segundo o PCN, "as partes serão convocadas a prestar os esclarecimentos necessários".


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