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Vila Carioca apelará ao ex-morador Lula
Moradores esperam sensibilizar o presidente, que viveu no bairro da zona sul de São Paulo, para o problema da contaminação
Eles reivindicam a realização de exames específicos e a oferta de tratamento para as pessoas que apresentam traços de pesticida no corpo
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Moradores da Vila Carioca
(zona sul de SP), que estão contaminados por pesticidas fabricados pela Shell, apelarão a um
ex-vizinho, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
O presidente se mudou para
o bairro em 1956 -a Shell começou a operar no local em
1949 e nega ser responsável pela contaminação. Como Lula
diz ao discursar, morou em um
"quarto e cozinha" no bairro.
Ele até cita uma das ruas em
que viveu, a Auriverde, onde estão várias das pessoas expostas
aos pesticidas.
Os moradores da área dizem
estar cansados do descaso da
Prefeitura de São Paulo e afirmam que vão até o presidente
pedir ajuda para realizar exames específicos e tratamento.
"Já mandei carta, fax, nunca tive resposta. Agora, planejamos
ir até a casa dele, em São Bernardo, para ver se nos atende",
diz Izabel Vendrame, 44, moradora do condomínio.
"O presidente sempre fala
que viveu aqui, mas nunca nos
ajudou. Só ele poderia ir contra
os interesses da Shell, ninguém
tem mais força que ele no país",
diz a vizinha Ivone Gentil.
A Secretaria da Saúde de São
Paulo entregou um relatório
parcial à CPI da Poluição da Câmara Municipal que mostra
que, de 198 moradores analisados, em 73 foi detectado o pesticida DDE -um subproduto
do DDT, usado, por exemplo,
em plantações contra insetos.
Em outras três pessoas foi detectada a presença no organismo do inseticida dieldrin -segundo a prefeitura, só a Shell
produzia os chamados drins.
O presidente da SOS Vila Carioca, Aristides Acosta Fernandes, diz ter jogado futebol com
o presidente no bairro. "Já fizemos um informativo sobre o
caso da contaminação e mandamos, por meio de um coronel, para o presidente. Mas ele
nunca nos deu atenção." Segundo ele, a associação insistirá
no pedido de audiência com
Lula. Procurada, a Presidência
não havia se manifestado até a
conclusão desta edição.
Uma prima do presidente,
Judite Ferreira Mello, 74, mora
na rua Frei Pedro de Souza, onde ele viveu na Vila Carioca.
"Eu não acompanhei a história
da contaminação porque faz
pouco tempo que vim de Pernambuco para cá. Minha filha é
quem mora nesta casa."
Para a Shell, a contaminação
ocorrida nessa região pode ter
partido de outras indústrias. "A
região da Vila Carioca é historicamente uma zona industrial,
com muitas empresas que manuseiam ou manusearam derivados de petróleo, produtos
químicos e defensivos agrícolas", afirmou a empresa por
meio de nota.
Denúncia
O PCN (Ponto de Contato
Nacional), órgão ligado ao governo federal que tem a função
de promover as diretrizes da
OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para as multinacionais no país, acatou denúncia contra a Shell feita pelo
Sipetrol (sindicato dos trabalhadores no comércio de minérios e derivados de petróleo).
Segundo o PCN, "as partes
serão convocadas a prestar os
esclarecimentos necessários".
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