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Escuta indica que associação de bingos subornava policiais
Gravações feitas pela PF apontam que presidente da Abrabin autorizou propinas
Conversas ocorreram depois de a nova cúpula da Polícia Civil assumir e de ocorrerem trocas de policiais; valor seria de R$ 100 mil, segundo PF
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco telefonemas gravados
pela Polícia Federal na Operação Têmis indicam que a presidente executiva da Abrabin
(Associação Brasileira dos Bingos), a advogada Danielle Chiorino Figueiredo, autorizava a
distribuição de propina para
investigadores da Polícia Civil
que trabalham na 3ª Delegacia
Seccional, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
A primeira ligação ocorreu
no dia 26 de janeiro deste ano,
23 dias depois de a nova cúpula
da Polícia Civil ter assumido
com o discurso de que não havia banda podre em São Paulo.
Foi justamente a troca dos
policiais da delegacia que motivou a ligação de uma pessoa
chamada Ricardo para a advogada -ele é funcionário da
Abrabin, aparentemente. "A
Vanessa tá falando que tem um
cara da seccional aqui... Quem
vinha sempre é um tal de Fábio
(...) Agora tem um outro cara aí
(...) Cê tá sabendo se é pra pagar?", pergunta Ricardo, num
telefonema iniciado às 16h04.
"É porque mudou todo mundo nos DPs [distritos policiais].
Mudou todo mundo, mas o pessoal antigo não avisou que ia
mudar", comenta Danielle. O
nome do policial que aparecia
antes era Fábio, segundo o interlocutor da advogada.
Logo em seguida ela dá a seguinte instrução a um suposto
funcionário da Abrabin: "Pode
dar meu celular pra ele. Fala:
"Dá uma ligada pra ela, só para
confirmar direitinho, porque
ninguém avisou que ia mudar".
(...) Depois a gente autoriza".
Minutos depois, às 16h15, o
policial civil Reinaldo liga para
a advogada: "Eu sou da seccional, doutora. (...) Houve uma
mudança lá (...). E... ficou aberto o negócio da seccional... É
pra senhora dar um toque lá...".
A advogada pergunta se ele é
da delegacia seccional sul.
"Não, oeste", responde o investigador. "Nós tamos vindo da
sul." Danielle combina então de
encontrar o investigador num
local ao lado da associação dos
donos de bingo, no Itaim-Bibi.
Existe na Delegacia Seccional Oeste um investigador chamado Reinaldo de Castro, que
antes trabalhava na 96ª Delegacia de Polícia, subordinada à
seccional da zona sul. Ele, no
entanto, nega conhecer Dani-
elle (leia texto abaixo).
"Autoriza o menino"
A advogada e o policial combinam de se encontrar no dia
30 de janeiro, mas Danielle esquece-se. No final da tarde desse dia, às 17h40, Reinaldo liga
novamente para a advogada e
descobre que ela está saindo da
Abrabin: "A senhora não quer
autorizar o menino lá? Eu passo lá, resolvo isso aqui, depois a
gente pára pra tomar um café.
Autoriza o menino lá", pede.
A advogada concorda e liga
em seguida para um certo Raimundo. "Deixa eu falar uma
coisa: agora o lá da seccional... é
o Reinaldo que vai passar aí.
Daqui a pouco ele vai passar
por aí, tá? Tá tudo certo."
Raimundo concorda: "Tá.
Éééé... o dele é um zero zero, é
isso?" Danielle diz que é.
O "um zero zero" dito por
Raimundo pode ser R$ 100 mil,
segundo policiais federais.
Na reclamação de que não foi
avisada de que os policiais da
seccional haviam mudado, Danielle cita outro nome de investigador -Bonifácio, "que tá mil
anos aí no... 15... É, [ele] avisa a
gente quando mudar a pessoa
que vai passar". Até janeiro
deste ano, o chefe dos investigadores do 15º DP chamava-se
Bonifácio; ele foi transferido
para o 11º e está de licença médica. Nos dois distritos, nenhum policial quis informar o
sobrenome dele. O 15º DP fica
no Itaim-Bibi, onde fica a sede
da associação dos bingos.
A cúpula da associação está
sob investigação na PF. Além
de Danielle, são investigados o
presidente do conselho, Olavo
Sales da Silveira, e o vice-presidente, Marco Antonio Tobal.
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