São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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Escuta indica que associação de bingos subornava policiais

Gravações feitas pela PF apontam que presidente da Abrabin autorizou propinas

Conversas ocorreram depois de a nova cúpula da Polícia Civil assumir e de ocorrerem trocas de policiais; valor seria de R$ 100 mil, segundo PF

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco telefonemas gravados pela Polícia Federal na Operação Têmis indicam que a presidente executiva da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), a advogada Danielle Chiorino Figueiredo, autorizava a distribuição de propina para investigadores da Polícia Civil que trabalham na 3ª Delegacia Seccional, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
A primeira ligação ocorreu no dia 26 de janeiro deste ano, 23 dias depois de a nova cúpula da Polícia Civil ter assumido com o discurso de que não havia banda podre em São Paulo.
Foi justamente a troca dos policiais da delegacia que motivou a ligação de uma pessoa chamada Ricardo para a advogada -ele é funcionário da Abrabin, aparentemente. "A Vanessa tá falando que tem um cara da seccional aqui... Quem vinha sempre é um tal de Fábio (...) Agora tem um outro cara aí (...) Cê tá sabendo se é pra pagar?", pergunta Ricardo, num telefonema iniciado às 16h04.
"É porque mudou todo mundo nos DPs [distritos policiais]. Mudou todo mundo, mas o pessoal antigo não avisou que ia mudar", comenta Danielle. O nome do policial que aparecia antes era Fábio, segundo o interlocutor da advogada.
Logo em seguida ela dá a seguinte instrução a um suposto funcionário da Abrabin: "Pode dar meu celular pra ele. Fala: "Dá uma ligada pra ela, só para confirmar direitinho, porque ninguém avisou que ia mudar". (...) Depois a gente autoriza".
Minutos depois, às 16h15, o policial civil Reinaldo liga para a advogada: "Eu sou da seccional, doutora. (...) Houve uma mudança lá (...). E... ficou aberto o negócio da seccional... É pra senhora dar um toque lá...".
A advogada pergunta se ele é da delegacia seccional sul. "Não, oeste", responde o investigador. "Nós tamos vindo da sul." Danielle combina então de encontrar o investigador num local ao lado da associação dos donos de bingo, no Itaim-Bibi.
Existe na Delegacia Seccional Oeste um investigador chamado Reinaldo de Castro, que antes trabalhava na 96ª Delegacia de Polícia, subordinada à seccional da zona sul. Ele, no entanto, nega conhecer Dani- elle (leia texto abaixo).

"Autoriza o menino"
A advogada e o policial combinam de se encontrar no dia 30 de janeiro, mas Danielle esquece-se. No final da tarde desse dia, às 17h40, Reinaldo liga novamente para a advogada e descobre que ela está saindo da Abrabin: "A senhora não quer autorizar o menino lá? Eu passo lá, resolvo isso aqui, depois a gente pára pra tomar um café. Autoriza o menino lá", pede.
A advogada concorda e liga em seguida para um certo Raimundo. "Deixa eu falar uma coisa: agora o lá da seccional... é o Reinaldo que vai passar aí. Daqui a pouco ele vai passar por aí, tá? Tá tudo certo."
Raimundo concorda: "Tá. Éééé... o dele é um zero zero, é isso?" Danielle diz que é.
O "um zero zero" dito por Raimundo pode ser R$ 100 mil, segundo policiais federais.
Na reclamação de que não foi avisada de que os policiais da seccional haviam mudado, Danielle cita outro nome de investigador -Bonifácio, "que tá mil anos aí no... 15... É, [ele] avisa a gente quando mudar a pessoa que vai passar". Até janeiro deste ano, o chefe dos investigadores do 15º DP chamava-se Bonifácio; ele foi transferido para o 11º e está de licença médica. Nos dois distritos, nenhum policial quis informar o sobrenome dele. O 15º DP fica no Itaim-Bibi, onde fica a sede da associação dos bingos.
A cúpula da associação está sob investigação na PF. Além de Danielle, são investigados o presidente do conselho, Olavo Sales da Silveira, e o vice-presidente, Marco Antonio Tobal.


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