São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Sem ir a júri, acusado de crime na USP é solto

Fábio Nanni esfaqueou e matou amigo em 2005; TJ aceitou argumento de que ele ficou tempo demais preso sem julgamento

Como nenhum procurador de Justiça foi contrário à libertação, não cabe mais recurso e aluno responderá ao processo em liberdade

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Livre há 53 dias, Fábio Le Senechal Nanni, 24, acusado de invadir a rádio USP e esfaquear e matar o estagiário Rafael Azevedo Fortes Alves, 21, em 2005, passa a maior parte do tempo na casa dos pais, tomando remédios controlados e escrevendo as memórias de seus dois anos e meio de cárcere.
Quem afirma isso é a advogada Maria Adelaide de Campos França, que no último dia 30 de abril obteve a libertação provisória de Nanni junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo.
"Eu mesma orientei que ele escrevesse as memórias do cárcere dele. Orientei que ele escrevesse um livro", disse ela.
O desembargador Fábio Gouvêa havia aceitado as alegações da defesa, de que Nanni passou tempo demais preso sem um julgamento -geralmente a Justiça segue um prazo de até três meses-, e autorizou a saída do detento em caráter liminar. Na última quarta-feira, outros desembargadores analisaram o mérito do habeas corpus e mantiveram a decisão.
Como nenhum procurador de Justiça foi contrário a libertação, não cabe mais recurso e Nanni responderá ao processo em liberdade. Após sua soltura, o juiz do caso, Cassiano Ricardo Zorzi Rocha, adiou o julgamento do réu, que estava marcado para o próximo dia 28, para junho de 2009. Ele alegou que é prioridade julgar réus presos.
Mildred Campi, promotora responsável por denunciar Nanni por homicídio doloso duplamente qualificado (motivo torpe e sem dar chance de defesa à vítima) à Justiça, afirmou que se houve atraso para julgar o réu, ele foi provocado pela antiga defesa, que impetrou diversos habeas corpus rejeitados e também pediu a impugnação de um laudo do Imesc (Instituto de Medicina Social e de Criminologia), órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
A pedido dos advogados da época, que alegavam insanidade -afirmavam que Nanni matou o colega sem estar consciente de seus atos-, o Imesc elaborou um laudo que atestou que ele era são. "Mas ao pedir a impugnação, isso levou um ano até que o Imesc dissesse novamente em outro laudo que ele não é louco", disse Campi.
Nanni, aluno do 2º ano de jornalismo da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da Universidade de São Paulo e colega de classe da vítima, foi preso em flagrante logo após o crime, no dia 14 de outubro de 2005. Por decisão da Justiça, ficou detido preventivamente no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, zona leste.
Procurada, a família informou que nem ela nem ele falariam sobre o caso. Colegas de Nanni disseram à Folha que ele teria se convertido a uma religião evangélica e não quer mais voltar a estudar na USP.


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