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Para docentes, reitora não aceita divergências
Vista como centralizadora, a farmacêutica Suely Vilela, 55, se mantém no cargo mesmo diante de polêmicas e opositores
Professores afirmam que a reitora sofre preconceito por ser a primeira mulher a dirigir a universidade e vir de um campus do interior
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Cadeiras vazias dentro de prédio de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na semana passada
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2007, a reitoria da USP
ficou 50 dias invadida por manifestantes. Nos dois anos seguintes, mesmo com a imagem
desgastada, a reitora Suely Vilela aprovou dois dos seus principais projetos: mudanças na
carreira docente e alterações
na segunda fase do vestibular.
"Cada contratação de docente, cada reforma de prédio, é
preciso pedir para ela. E a Suely
usa muito o poder de reitor.
Exige lealdade", afirma o vice-diretor de uma unidade da área
de exatas do campus da capital.
A reportagem conversou nas
duas últimas semanas com dirigentes de faculdades e membros do Conselho Universitário
-o órgão máximo da USP-,
além de professores próximos e
opositores à reitora.
A farmacêutica, de 55 anos,
formada no campus de Ribeirão Preto, mestrado, doutorado
e livre-docência sobre toxinas
do veneno de escorpião brasileiro "Tityus serrulatus", é considerada centralizadora. Não
aceita ser contrariada.
Caso emblemático ocorreu
na escolha para a direção da
FEA (Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade). Diretores de faculdades
são eleitos pelo reitor, a partir
de uma lista tríplice com os nomes mais votados na unidade.
Como o mais votado daquela
vez foi Hélio Nogueira da Cruz,
a praxe dizia que ele seria o indicado. Havia um porém. O docente disputou com Suely o
cargo de reitor, em 2005. Vencedora na reitoria, Suely preteriu o rival. "Em quase 40 casos,
ela escolheu o mais votado. Só
nesse ganhou o segundo. Por
quê? O Hélio era rival dela",
disse um diretor do interior.
Manifestação
Na quinta-feira, passeata na
av. Paulista (3.000 pessoas, para a PM, ou 8.000, para os organizadores) gritou "Fora Suely".
Entidades de docentes, alunos e funcionários dizem que a
reitora fechou-se à negociação
com grevistas e chamou a polícia para impor o seu ponto de
vista. Segundo a reitoria, a PM
foi acionada para impedir que
prédios fossem bloqueados.
Apesar do "fora", manifestos
de diretores de unidades, um
com 38 signatários e outro com
nove, deram apoio a Suely.
Um opositor à reitora pondera que a estrutura da USP tende
a dar sustentação ao ocupante
do cargo. Todos os diretores
são nomeados pela reitoria.
Quando foi escolhida pelo
ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), Suely Vilela deu
entrevista para o jornal "O Estado de S.Paulo" em que disse
que gasta a maior parte do seu
dinheiro em cremes e roupas
"coloridas, porém, clássicas".
E, quando decidiu ser candidata, leu "Você É do Tamanho
de Seus Sonhos", livro de autoajuda. "Ela começou a perder
autoridade aí. Ainda assim, tem
força, porque o poder na universidade é hipercentralizado
no reitor", disse um diretor.
Docentes afirmam que Suely
sofre preconceito por ser a primeira mulher a dirigir a USP e
vir de um campus do interior.
"A USP é conservadora. E ela,
em vez de tentar se aproximar
dos "cardeais" de São Paulo, preferiu montar a "República de
Ribeirão Preto'", diz um docente próximo à reitora. A Folha
solicitou entrevista com a reitora, mas não foi atendida.
(FÁBIO TAKAHASHI E LAURA CAPRIGLIONE)
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