São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Para docentes, reitora não aceita divergências

Vista como centralizadora, a farmacêutica Suely Vilela, 55, se mantém no cargo mesmo diante de polêmicas e opositores

Professores afirmam que a reitora sofre preconceito por ser a primeira mulher a dirigir a universidade e vir de um campus do interior


Marlene Bergamo/Folha Imagem
Cadeiras vazias dentro de prédio de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na semana passada

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2007, a reitoria da USP ficou 50 dias invadida por manifestantes. Nos dois anos seguintes, mesmo com a imagem desgastada, a reitora Suely Vilela aprovou dois dos seus principais projetos: mudanças na carreira docente e alterações na segunda fase do vestibular.
"Cada contratação de docente, cada reforma de prédio, é preciso pedir para ela. E a Suely usa muito o poder de reitor. Exige lealdade", afirma o vice-diretor de uma unidade da área de exatas do campus da capital.
A reportagem conversou nas duas últimas semanas com dirigentes de faculdades e membros do Conselho Universitário -o órgão máximo da USP-, além de professores próximos e opositores à reitora.
A farmacêutica, de 55 anos, formada no campus de Ribeirão Preto, mestrado, doutorado e livre-docência sobre toxinas do veneno de escorpião brasileiro "Tityus serrulatus", é considerada centralizadora. Não aceita ser contrariada.
Caso emblemático ocorreu na escolha para a direção da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade). Diretores de faculdades são eleitos pelo reitor, a partir de uma lista tríplice com os nomes mais votados na unidade.
Como o mais votado daquela vez foi Hélio Nogueira da Cruz, a praxe dizia que ele seria o indicado. Havia um porém. O docente disputou com Suely o cargo de reitor, em 2005. Vencedora na reitoria, Suely preteriu o rival. "Em quase 40 casos, ela escolheu o mais votado. Só nesse ganhou o segundo. Por quê? O Hélio era rival dela", disse um diretor do interior.

Manifestação
Na quinta-feira, passeata na av. Paulista (3.000 pessoas, para a PM, ou 8.000, para os organizadores) gritou "Fora Suely".
Entidades de docentes, alunos e funcionários dizem que a reitora fechou-se à negociação com grevistas e chamou a polícia para impor o seu ponto de vista. Segundo a reitoria, a PM foi acionada para impedir que prédios fossem bloqueados.
Apesar do "fora", manifestos de diretores de unidades, um com 38 signatários e outro com nove, deram apoio a Suely.
Um opositor à reitora pondera que a estrutura da USP tende a dar sustentação ao ocupante do cargo. Todos os diretores são nomeados pela reitoria.
Quando foi escolhida pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), Suely Vilela deu entrevista para o jornal "O Estado de S.Paulo" em que disse que gasta a maior parte do seu dinheiro em cremes e roupas "coloridas, porém, clássicas".
E, quando decidiu ser candidata, leu "Você É do Tamanho de Seus Sonhos", livro de autoajuda. "Ela começou a perder autoridade aí. Ainda assim, tem força, porque o poder na universidade é hipercentralizado no reitor", disse um diretor.
Docentes afirmam que Suely sofre preconceito por ser a primeira mulher a dirigir a USP e vir de um campus do interior. "A USP é conservadora. E ela, em vez de tentar se aproximar dos "cardeais" de São Paulo, preferiu montar a "República de Ribeirão Preto'", diz um docente próximo à reitora. A Folha solicitou entrevista com a reitora, mas não foi atendida. (FÁBIO TAKAHASHI E LAURA CAPRIGLIONE)


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