São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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27ª SÃO PAULO FASHION WEEK

Roupas de desfiles ainda buscam público

Estilistas contam que algumas peças são feitas para criar o conceito da coleção e não chegam a ser comercializadas

Cavalera produz apenas 40% do que é desfilado; já Herchcovitch afirma que todas as roupas exibidas são colocadas à venda


CAMILA YAHN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem vê paletós de ombros gigantescos, como os exibidos na elogiada coleção de Alexandre Herchcovitch nesta temporada da SPFW, ou os ternos desconstruídos mostrados pela V.Rom, pergunta-se se vai encontrar tais peças nas lojas. Um desfile de moda nem sempre é direcionado ao comércio, e sim voltado para a construção de imagem da coleção.
"A maior parte do que mostramos no desfile serve só para criar um conceito", diz Igor de Barros, estilista da V.Rom. "No inverno 2008, fizemos uma coleção com foco comercial e a crítica foi horrível. Uma negativa da imprensa é muito ruim, pois as vendas acontecem muito por conta da divulgação positiva do desfile."
Poucas marcas conseguem equilibrar a construção de imagem com as necessidades das lojas. "O que vemos nos pontos de venda são derivações do tema principal, daí a sensação de não encontrar a mesma coisa vista nos desfiles. Às vezes, vou às lojas ver se a marca produziu o que vi na passarela e, quase sempre, ela não produziu", diz Alexandre Herchcovitch.
Ele garante que todas peças exibidas em seus desfiles são colocadas à venda. Mas existe uma contabilidade para definir os números das roupas chamadas comerciais e o das peças especiais. "As peças do desfile ganham de 1 a 120 reproduções. Já na coleção de jeanswear [que é mostrada apenas no showroom], esse número sobe para 400", diz Herchcovitch.
Na grife Cavalera, 40% da coleção mostrada na passarela vai para as 15 lojas próprias da grife, mas dificilmente atinge os outros pontos de venda. "Dessas peças, somente quatro modelos de cada são produzidos por loja", diz Alberto Hiar, dono da Cavalera e da V.Rom, que passa por um processo diferente. "A produção ocorre de acordo com as vendas do showroom e, lá, as roupas de desfile só são mostradas se o cliente pedir. É a realidade do Brasil", diz Igor.
Na V.Rom, as peças mais elaboradas só são vendidas na loja da alameda Lorena, nos Jardins. Mas o que realmente toma conta dos pontos de venda da grife são as camisetas, responsáveis por gerar a receita que a empresa precisa.
Na Forum ocorre algo semelhante. "Temos que atender o que a área comercial espera, então só é produzido o que for comprado durante o showroom. Isso é inevitável para que qualquer empresa grande alcance todos os seus pontos de venda", diz Eduardo Pombal, o novo diretor de criação da grife.

Cultura de moda
Outro fator importante é a quantia que se gasta para produzir uma roupa especial. Os tecidos mais caros são comprados em escala menor já que ninguém quer correr o risco de ver roupas caríssimas emperradas nas araras. "Muitas vezes trabalhamos com tecidos importados e isso inviabiliza uma produção maior", diz Pombal.
Há também a questão da falta de cultura de moda no Brasil. Segundo Pombal, ainda é difícil encontrar no país pessoas que segurem uma roupa diferenciada. "A roupa da passarela não é para ser vista nas ruas, mas principalmente em festas e lugares específicos", afirma Hiar. "Nós não temos uma quantidade suficiente de consumidores que compram o que é mostramos na passarela. Todo mundo trabalha pensando nos resultados", afirma.
Para quem ainda pensa que a moda é feita apenas de devaneios criativos dos estilistas, aí está um bom banho de água fria. Moda também é negócio.


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