São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011

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JAIRO MARQUES

Uma festa muito louca


Parecia que havíamos passado por um portal para um mundo paralelo ao atravessar para o clubefesta memorável.

JÁ ENTREI em roubadas variadas por causa da falta de acesso: ganhei colinho de homens fortes -sob o risco de me apaixonar- quando não havia rampa, urinei de porta aberta porque a casinha era minúscula -isso quando eu cabia nela-, fui pelo meio da rua porque pela calçada era "soburaco.com.br". Mas, na semana passada, uma escadaria acabou por me presentear com uma festa memorável.
No final de semana, catei a mulher e uns farrapos e fomos aproveitar a vida vendo televisão em um hotel desses mais chiques do que noivo de festa junina. Na diária, estavam incluídos mimos como um jantar romântico, afinal, miséria pouca é bobagem.
Mal a gente entrou e começou a brincar com o controle remoto das persianas -algo "maraviwonderful", recomendo-, toca o telefone da suíte. "Boa tarde, senhor. Poderia falar com a sua senhora, que foi quem fez a reserva?" Estranhei, mas bola para a frente. O campeonato só estava começando.
"Senhora, devido a uma falha dos "pessoais" da reserva, esquecemos de informar que o restaurante "Grã-fino" de nosso hotel não tem acesso para cadeira de rodas. Porém já pensamos em tudo: vocês estão convidados a jantar no nosso clube exclusivamente exclusivo sem pagar nada a mais por isso!"
Ao mesmo tempo em que desconfiei -afinal, se não existe almoço grátis, imagina se vai haver jantar chique na faixa-, fiquei faceiro em saber que, às vezes, o pão do pobre pode não cair com a manteiga virada para o chão.
Normalmente, quando um estropiado não consegue usar a mesa estreita de um boteco, por exemplo, é oferecido para ele tomar a pinga na calçada, junto aos sem-teto. Raríssimos são os que se dignam de pensar numa solução que diminua a "desvantagem" para curtir a vida.
Apesar de eu estar sem roupa para ir ao tal clube "exclusivíssimo", uma vez que fui preparado apenas para... dormir, a mulher me convenceu de que transgredir regras de etiqueta pode ser "in". Acreditei e fui de tênis. É preciso pontuar também que a última coisa que reparam em um cadeirante são os sapatos, as calças, o suspensório...
Parecia que havíamos passado por um portal para um mundo paralelo ao atravessar a entrada do clube. Nossa mesa foi escolhida com atenção: debaixo de um coqueiro artificial cheio de lâmpadas piscantes, com boa visão para o palco e espaço para eu me mexer.
De brinde, do nosso lado estava uma dessas personalidades que afirmam viver de renda, rodeado por meninas que os modernos costumam chamar de "periguetes", além de um rapaz beiçudo que aparece na TV. Confesso que, pra mim, aquele senhor já tinha feito a passagem.
Preciso ler mais revistas de fofoca. Do outro lado, um homem tomava taças e taças de espumante, ao mesmo tempo em que tentava manter-se acordado.
Na festa também se destacava um casal de gêmeos de meia-idade, quase entrando na idade inteira, de cabelos raleados acaju, que desfilavam com as mãos no bolso, e um casal que dançava ao estilo rockabilly, mesmo a banda tocando Madonna.
Lá pelas tantas, eu já chamando urubu de meu loro, eis que surgem duas garotas, com trajes de festa sem traje, dependuradas em uma instalação de onde todos no clube conseguiam vê-las dançando com o dedinho na boca, não sei a razão.
O que sei foi que a festa se fez inesquecível.

jairo.marques@grupofolha.com.br

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