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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/SEGURANÇA
Anac aconselha reversor em pista molhada
Orientação consta de instrução baixada pela agência em janeiro; no dia do acidente com o Airbus, chovia em São Paulo
Norma foi incluída em ação civil pública para provar ao juiz que a agência tinha tomado medidas para evitar derrapagens em Congonhas
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma instrução baixada pela
Anac em janeiro orientou o uso
de reversores, um sistema auxiliar de freios, em aviões a jato
durante operações de pouso
em pistas molhadas.
Segundo a Infraero, era essa
a condição da pista de Congonhas no dia do acidente com a
TAM -o avião, contudo, operava com apenas um reversor.
Cópia da instrução foi incluída pela Anac em ação civil pública para argumentar contra o
fechamento do aeroporto, pedido por um grupo de procuradores da República.
A agência queria demonstrar
ao juiz federal da 22ª Vara Cível, Ronald Carvalho, que tomara providências para impedir as derrapagens de aviões em
Congonhas - o juiz acabou por
concordar com a Anac e impediu o fechamento do aeroporto,
embora tenha vetado o pouso
de três modelos de avião, nenhum deles Airbus.
A instrução é datada de 31 de
janeiro. A abertura da ação
ocorrera uma semana antes.
Após confirmar que estava
inoperante um dos reversores
do Airbus-A320 que se acidentou, a TAM afirmou que o pouso naquela condição não contraria normas internacionais.
Segundo a TAM, os reversores devem ser usados apenas
em caso de pista "contaminada" -quando mais de 25% do
total da pista está com poças
d'água ou neve com mais de 3
mm de profundidade- e não
"molhada" -quando a superfície da pista está coberta de
água, mas abaixo dos 3 mm.
O superintendente da Infraero em São Paulo, Armando
Schneider Filho, afirmou em
entrevista coletiva na última
quarta-feira que a pista de Congonhas estava "molhada" no
momento do acidente.
Ontem a TAM divulgou, em
seu site, cópia de uma MEL,
que é a lista de equipamentos
mínimos para um avião ter autorização para decolar, pela
qual a Anac teria autorizado as
operações do Airbus acidentado com apenas um reversor.
O documento da Anac intitulado "Instruções para despacho
e operação em pista molhada"
também orienta mudanças nas
autorizações da MEL que impediriam o uso de apenas um
reversor em pistas molhadas.
No trecho intitulado "recomendações operacionais", a
Anac orienta a engenharia de
operações das companhias aéreas: "Preparar a MEL do operador apresentando a restrição
para operação em pista molhada com "antiskid" e/ou com reverso inoperante".
O "antiskid" é um dos componentes mais importantes do
sistema de freio, pois impede
que a roda trave durante o pouso, entre outras funções.
No item "Orientações para os
Tripulantes", a instrução afirma que, no caso de pouso em
pista molhada, a equipe deve
"após o toque confirmar a abertura dos "ground spoiler" e usar
o máximo reverso".
A instrução da Anac diz que a
responsabilidade pela aplicação é das companhias.
"Por muitos anos tanto o [extinto] DAC, hoje ANAC, como o
FAA [agência americana de
aviação] não deram atenção à
operação com pista molhada.
Este fato era devido ao relativamente pequeno volume de tráfego aéreo que permitia que os
aviões aguardassem uma melhora", diz a instrução.
A agência também sugere
"preparar instruções específicas aos pilotos para operação
com a pista molhada com ênfase em determinados aeroportos que, por suas características
físicas, possam ser considerados especiais (por ex.: SBRJ e
SBSP)", referência técnica aos
aeroportos Santos Dumont, no
Rio, e Congonhas, em SP.
A assessoria da Anac, em Brasília (DF), foi procurada por telefone, por e-mail e por fax das
13h30 às 19h de ontem, para esclarecer o alcance legal da instrução, mas não respondeu.
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