São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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Perfil de pessoas mortas é diferente na gripe sazonal

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O perfil das pessoas mortas pela nova influenza A (H1N1) difere do da gripe sazonal. Desde os primeiros casos, identificados no México em abril, chamou a atenção de pesquisadores a proporção relativamente alta de adultos jovens sem história de doenças prévias que sucumbiu à moléstia.
Artigo publicado em 22 de maio no boletim epidemiológico semanal da Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que, de 45 óbitos analisados no México, 54% ocorreram entre pessoas sem história de risco. A maioria destes (67,6%) tinha entre 20 e 49 anos.
Algo semelhante foi observado num grupo de 624 pacientes que necessitaram de hospitalização nos EUA para tratar complicações provocadas pelo H1N1: 59% não apresentavam comorbidades conhecidas.
A gripe sazonal faz suas vítimas preferenciais entre os muito jovens (menos de dois anos) e -especialmente- os de mais de 65. Levantamento feito pelos CDCs (Centros para Prevenção e Controle de Doenças) dos EUA mostrou que, de janeiro a abril deste ano, 90% das 13 mil mortes registradas no país por conta de complicações da gripe sazonal ocorreram entre maiores de 65 anos.
No Brasil, embora os 15 óbitos sejam ainda pouco para configurar uma base estatística confiável, pelo menos cinco foram de jovens (5 a 37 anos) sem doenças prévias conhecidas.
Os grupos mais comumente identificados como de risco elevado incluem imunodeprimidos, cardiopatas, diabéticos, grandes obesos, gestantes e portadores de doenças pulmonares e renais crônicas.
Uma das hipóteses mais ventiladas para alta mortalidade de pessoas sem fatores de risco é o fenômeno da tempestade de citocinas: indivíduos jovens, com sistemas imunes mais robustos, por vezes respondem de forma exacerbada a uma infecção, produzindo grandes quantidades de citocinas. Normalmente, essas moléculas modulam as defesas do organismo. A produção desregulada, entretanto, pode lesar tecidos, em especial os do pulmão, provocando a morte do paciente.
Acredita-se que o mecanismo da tempestade de citocinas tenha desempenhado um papel importante nos óbitos da grande pandemia de gripe espanhola, em 1918, e da Sars, em 2003 -também caracterizadas pela alta mortalidade de jovens.
Apostando na prudência, porém, os CDCs, no que são acompanhados pelo Ministério da Saúde do Brasil e várias outras autoridades sanitárias pelo mundo, julgam que ainda não há evidências suficientes para justificar uma mudança de conduta. Seguem recomendando que crianças pequenas e idosos, mesmo que sem outras comorbidades, sejam tratados como pertencentes ao grupo de risco.


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