São Paulo, Quarta-feira, 21 de Julho de 1999
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Transporte coletivo está perto do colapso

GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local

O transporte coletivo de São Paulo chega ao final do século à beira do colapso. E a culpa é basicamente da prefeitura e das empresas.
A prefeitura não paga a dívida que tem com as empresas (cerca de R$ 130 milhões, segundo a prefeitura, mais de R$ 160 milhões, segundo os empresários) nem investe na melhoria do transporte coletivo.
O Fura-fila, por exemplo, que era uma promessa de campanha do então candidato Celso Pitta, ainda não está em funcionamento e seus prazos são constantemente adiados.
Além disso, São Paulo tem hoje só 49,2 quilômetros de metrô, quase seis vezes menos do que uma metrópole com quase 10 milhões de habitantes deveria ter para poder viabilizar a circulação das pessoas.
Os problemas no sistema de transporte na cidade também são resultado de administradores que optaram por investir no transporte individual.
Paulo Maluf, por exemplo, preferiu construir avenidas e túneis em vez de corredores de ônibus. Com isso, houve incentivo ao uso de carros e o aumento dos congestionamentos. Hoje, a cidade enfrenta até 70 quilômetros de congestionamento no período da manhã e 120 quilômetros à tarde.
Quem utiliza ônibus enfrenta também os efeitos da lentidão. Eles operam com velocidade na marca dos 15 quilômetros por hora no horário de pico.
Em média, os paulistanos passam uma hora e meia por dia andando de ônibus. Sem contar a espera nos pontos, que nos horários de pico chega a 40 minutos. A espera máxima deveria ser de 25 minutos.
Com esses números, o sistema de ônibus de São Paulo atingiu, na gestão do prefeito Celso Pitta, a sua pior avaliação desde o início da década.

Massa de manobra
Já os empresários não conseguiram enfrentar a concorrência dos perueiros e acabaram perdendo passageiros e tendo seus lucros reduzidos. Desde 95, o número de pessoas transportadas por ônibus na cidade caiu 40%. Em razão disso, as empresas pressionam a prefeitura por mais subsídio.
Do outro lado, os motoristas e cobradores aceitam o papel de "massa de manobra" na luta de empresários e prefeitura pelo pagamento de subsídios ao sistema.
Todos os técnicos concordam que a situação exige uma ação imediata.
Se o problema do sistema de transporte não for equalizado, a conta será paga por todos os contribuintes, independentemente da condição de usuário de ônibus ou de proprietário de um carro.
Com a quebra do sistema oficial de ônibus, o passageiro vai ficar sem transporte. As ruas vão ficar mais cheias de lotações clandestinas e os donos de carro vão perder mais tempo ainda nos congestionamentos.


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