São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO

Criminoso foi detido em saguão de cinema, onde iria assistir ao "Cidade de Deus"; diretores poderão ser acusados de favorecimento

Traficante é preso em pré-estréia de filme

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O traficante Paulo Sérgio Savino Magno, 28, o Pequeno, foi preso na noite de anteontem no saguão de um cinema no shopping New York City Center (Barra da Tijuca, zona oeste do Rio), onde iria assistir à pré-estréia do filme "Cidade de Deus", cuja distribuição de convites foi selecionada pela produção do filme.
Pequeno é apontado pela Polícia Civil como gerente do tráfico de drogas no conjunto habitacional e favela Cidade Alta (Cordovil, zona norte), onde ocorreram parte das filmagens. Ele estava na companhia da mulher e não reagiu à prisão.
De acordo com a polícia, Pequeno é condenado a sete anos e possui três mandados de prisão por tráfico de drogas. É também acusado do assassinato de dois policiais, foragido do sistema penitenciário e responde a vários outros inquéritos nas delegacias dos bairros da Penha e de Bonsucesso (zona norte).
O chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disse que vai intimar o diretor do filme, Fernando Meirelles, e a co-diretora Kátia Lund para que prestem informações que esclareçam como Pequeno conseguiu os convites.
Segundo Teixeira, caso fique provado que o traficante ganhou os ingressos da produção, os dois responderão pelo crime de favorecimento pessoal, com pena prevista de um mês a seis meses de detenção.
"Vamos intimá-los até o final da semana. Faremos uma apuração para saber se houve favorecimento ou não", afirmou Teixeira.
Pequeno se negou a dizer quem lhe deu os convites. Ele falou apenas uma frase: "Sempre vou ao cinema com a minha mulher".

Certeza
A prisão de Pequeno ocorreu por volta das 22h e foi efetuada por seis policiais da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil.
Na ocasião, os seguranças do shopping tentaram interceder, mas se afastaram quando foram informados de que era uma ação policial.
Segundo policiais que participaram da operação, a prisão foi filmada por câmeras instaladas no saguão do cinema.
A chefe de investigações da DRE, inspetora Marina Maggessi, afirmou que mandou uma equipe ao local porque "estava certa de que um traficante iria assistir à pré-estréia".
A inspetora disse ter chegado a essa conclusão após ler uma entrevista de Fernando Meirelles, no último dia 6.
De acordo com Marina, na entrevista, publicada em um site na internet, Meirelles conta que a produção teve de pedir autorização a Gilberto Martins, o Mineiro, chefe do tráfico na Cidade Alta, para realizar as filmagens. As gravações não puderam ser feitas na Cidade de Deus porque os traficantes não deixaram, segundo ela.
A inspetora disse ainda que, na época das gravações, Mineiro estava preso na penitenciária Bangu 1 (zona oeste) e Pequeno assumiu o controle do tráfico.
"A produção deve ter convivido diariamente com ele [Pequeno"", afirmou a policial.
Mineiro é apontado pela polícia como o segundo principal nome em liberdade da facção criminosa CV (Comando Vermelho). Ele só obedece a Elias Pereira da Silva, 36, o Elias Maluco, principal responsável pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, ocorrido no dia 2 de junho no complexo do Alemão (zona norte).
Além da Cidade Alta, Mineiro controla o tráfico na favela do Sapo, em Senador Camará (zona oeste).
Segundo Marina Maggessi, Mineiro e Elias Maluco são "amigos de infância".
Assim como Elias Maluco, Mineiro também é considerado pela polícia como um "traficante sanguinário", disse a policial.
Mineiro está em liberdade desde o ano passado, quando obteve um habeas corpus concedido pela Justiça.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Produção nega contato com criminosos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.