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RIO
Criminoso foi detido em saguão de cinema, onde iria assistir ao "Cidade de Deus"; diretores poderão ser acusados de favorecimento
Traficante é preso em pré-estréia de filme
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
O traficante Paulo Sérgio Savino
Magno, 28, o Pequeno, foi preso
na noite de anteontem no saguão
de um cinema no shopping New
York City Center (Barra da Tijuca,
zona oeste do Rio), onde iria assistir à pré-estréia do filme "Cidade de Deus", cuja distribuição de
convites foi selecionada pela produção do filme.
Pequeno é apontado pela Polícia Civil como gerente do tráfico
de drogas no conjunto habitacional e favela Cidade Alta (Cordovil,
zona norte), onde ocorreram parte das filmagens. Ele estava na
companhia da mulher e não reagiu à prisão.
De acordo com a polícia, Pequeno é condenado a sete anos e possui três mandados de prisão por
tráfico de drogas. É também acusado do assassinato de dois policiais, foragido do sistema penitenciário e responde a vários outros inquéritos nas delegacias dos
bairros da Penha e de Bonsucesso
(zona norte).
O chefe da Polícia Civil, Zaqueu
Teixeira, disse que vai intimar o
diretor do filme, Fernando Meirelles, e a co-diretora Kátia Lund para que prestem informações que
esclareçam como Pequeno conseguiu os convites.
Segundo Teixeira, caso fique
provado que o traficante ganhou
os ingressos da produção, os dois
responderão pelo crime de favorecimento pessoal, com pena prevista de um mês a seis meses de
detenção.
"Vamos intimá-los até o final da
semana. Faremos uma apuração
para saber se houve favorecimento ou não", afirmou Teixeira.
Pequeno se negou a dizer quem
lhe deu os convites. Ele falou apenas uma frase: "Sempre vou ao cinema com a minha mulher".
Certeza
A prisão de Pequeno ocorreu
por volta das 22h e foi efetuada
por seis policiais da DRE (Divisão
de Repressão a Entorpecentes) da
Polícia Civil.
Na ocasião, os seguranças do
shopping tentaram interceder,
mas se afastaram quando foram
informados de que era uma ação
policial.
Segundo policiais que participaram da operação, a prisão foi filmada por câmeras instaladas no
saguão do cinema.
A chefe de investigações da
DRE, inspetora Marina Maggessi,
afirmou que mandou uma equipe
ao local porque "estava certa de
que um traficante iria assistir à
pré-estréia".
A inspetora disse ter chegado a
essa conclusão após ler uma entrevista de Fernando Meirelles, no
último dia 6.
De acordo com Marina, na entrevista, publicada em um site na
internet, Meirelles conta que a
produção teve de pedir autorização a Gilberto Martins, o Mineiro,
chefe do tráfico na Cidade Alta,
para realizar as filmagens. As gravações não puderam ser feitas na
Cidade de Deus porque os traficantes não deixaram, segundo ela.
A inspetora disse ainda que, na
época das gravações, Mineiro estava preso na penitenciária Bangu
1 (zona oeste) e Pequeno assumiu
o controle do tráfico.
"A produção deve ter convivido
diariamente com ele [Pequeno"",
afirmou a policial.
Mineiro é apontado pela polícia
como o segundo principal nome
em liberdade da facção criminosa
CV (Comando Vermelho). Ele só
obedece a Elias Pereira da Silva,
36, o Elias Maluco, principal responsável pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, ocorrido no
dia 2 de junho no complexo do
Alemão (zona norte).
Além da Cidade Alta, Mineiro
controla o tráfico na favela do Sapo, em Senador Camará (zona
oeste).
Segundo Marina Maggessi, Mineiro e Elias Maluco são "amigos
de infância".
Assim como Elias Maluco, Mineiro também é considerado pela
polícia como um "traficante sanguinário", disse a policial.
Mineiro está em liberdade desde o ano passado, quando obteve
um habeas corpus concedido pela Justiça.
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