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SAÚDE
Neste ano, 18 gestantes que haviam feito o pré-natal morreram em razão de falhas no sistema de saúde, segundo especialistas
ONU apura mortes maternas na Paraíba
CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL À PARAÍBA
Uma missão apoiada pela ONU
(Organização das Nações Unidas)
está apurando a sucessão de mortes maternas ocorridas na Paraíba. Neste ano, 18 mulheres morreram durante a gravidez ou logo
após o parto, segundo ONGs e comitês que investigam esse tipo de
ocorrência. A Secretaria Estadual
da Saúde admite 14 mortes.
Dez dessas mulheres morreram
nos últimos dois meses e meio,
quase uma por semana. A causa
mais freqüente foi hipertensão na
gravidez, problema que mais mata, em conjunto, as mães e os bebês no país e que pode ser diagnosticado e controlado durante
um pré-natal eficaz.
No Brasil, em cada 100 mil nascidos vivos, 75 mulheres morrem
por complicações na gestação ou
no parto. A Organização Mundial
da Saúde considera aceitável o índice de 20 mortes maternas para
cada 100 mil nascidos vivos.
No ano de 2002 (último levantamento do Ministério da Saúde),
mais de 2.000 mulheres e 38 mil
bebês morreram no país por
complicações na gravidez, no parto, no pós-parto e em abortos.
No caso das mulheres paraibanas mortas, todas faziam ou tinham feito o pré-natal na rede básica de saúde, com equipes do PSF
(Programa Saúde da Família).
Mas isso não impediu, por exemplo, que duas delas, de Arara (155
km de João Pessoa), morressem
uma semana após os médicos deduzirem, sem pedir exame algum,
que o mal-estar que sentiam era
provocado por uma "virose".
Também é precário o acesso e o
atendimento na rede hospitalar.
Diante de casos mais graves, municípios sem hospitais de média e
de alta complexidade despacham
as grávidas para cidades maiores.
Elas perambulam por vários hospitais até conseguir internação.
Segundo a professora Clair Castilhos Coelho, que fará o relatório
a ser enviado à ONU, existem falhas em todo o sistema de saúde
na Paraíba. "O Programa Saúde
da Família tem sido um engodo
em relação à saúde da mulher. Há
problemas básicos, como não
identificar a hipertensão na gravidez. Não há responsabilidade
com essas pacientes."
Para ela, o problema não está
restrito à Paraíba. "É sistêmico,
acontece em todo o país. Há muita subnotificação." Uma das sugestões de Coelho será propor
que médicos e gestores sejam responsabilizados, civil e criminalmente, por cada morte em que
ocorrer por negligência.
Para Fátima Moraes, coordenadora da saúde da mulher de João
Pessoa, um dos focos do problema é o excesso de demanda nos
hospitais de alta complexidade,
provocado pela vinda de pacientes do interior. "56% da nossa demanda é de fora. Os municípios
do interior só fazem comprar ambulância e despachar as mulheres
para a capital", diz.
Entre as propostas do município para evitar que novas mortes
ocorram estão um plano de capacitação e humanização das redes
básica e hospitalar e a abertura de
oito leitos de UTI na Maternidade
Cândida Vargas, em João Pessoa.
Já o Estado discute a possibilidade de cortar verbas de municípios que não estejam cumprindo
o seu papel no atendimento básico. "Eles [os municípios] recebem
verba para isso e vêm falhando
sistematicamente no pré-natal
dessas gestantes", diz Valderez
Araújo, coordenadora de promoção da saúde da mulher da Secretaria Estadual da Saúde.
Segundo ela, as mulheres que
morreram tiveram uma média de
oito consultas de pré-natal, o que
não justificaria uma morte por
eclampsia, que pode ser evitada
com o uso de remédios.
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