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Em 24 dias, Arara enterra 2 gestantes
ENVIADA ESPECIAL A ARARA (PB)
Em menos de um mês, duas
gestantes de Arara, no agreste paraibano, morreram no final da
gravidez. Os bebês também não
resistiram. Ambas foram vítimas
de sucessivas falhas no sistema de
saúde, admitidas pela própria Secretaria da Saúde do município.
Era 20 de junho, quando Adenice Neves Bezerra, 31, deu entrada
no hospital de Arara com ânsia de
vômito e tontura. O médico que a
atendeu diagnosticou uma "virose", embora não tenha pedido
exames laboratoriais.
Foram pelo menos mais três
idas ao hospital de Arara e de Esperança (a 10 km dali) até morrer
de septicemia, no dia 26, em um
hospital de Campina Grande, único da região que tem atendimento
de alta complexidade.
Segundo avaliação dos médicos,
o feto estava morto havia uma semana. Mas, dois dias antes da
morte da Adenice, os médicos de
Arara chegaram a afirmar que o
bebê estava bem. Era seu primeiro filho. "Como isso é possível?
Meu neto já estava morto e ninguém viu isso?", indaga a mãe, Rita Terezinha Bezerra, 77.
Vinte quatro dias depois, outra
jovem de Arara teve o mesmo fim.
O drama de Cícera, 19, começou
no dia 19 de julho, quando ela
procurou o hospital de Arara,
queixando-se de dor no estômago, enjôo e fraqueza. Foi examinada, tomou soro e saiu de lá com o
diagnóstico de "virose".
Dois dias depois, Cícera voltou
ao hospital com as mesmas queixas e mais cansaço. Apresentava
febre de 38,5 graus e pressão arterial baixa. Novamente recebeu soro e foi liberada. No dia seguinte,
com vômito e dispnéia, foi encaminhada a um hospital de Campina Grande, a 60 km de Arara.
O marido, Erivaldo Alves, conta
que o hospital alegou não atender
gestantes e a encaminhou para
outra instituição. Essa, por sua
vez, examinou a jovem e a dispensou sob a alegação de que estava
bem. No mesmo dia, os sintomas
se agravaram e o marido a levou
de volta ao hospital de Arara.
Às 8h da manhã do dia 24, houve aumento da pressão arterial e
detectado sofrimento fetal. Foi levada às pressas para Campina
Grande. No primeiro hospital em
que chegou não havia UTI. No segundo, o único leito disponível
estava reservado para paciente
particular. Apenas o terceiro aceitou interná-la e fazer uma cesárea
de urgência. O bebê já estava morto. Cícera morreu em seguida. O
laudo aponta septicemia e polinefrite (grave infecção dos rins).
A morte ainda está sob investigação, mas a enfermeira Núbia
Ramalho, presidente do comitê
de morte materna de Campina
Grande, arrisca dizer que uma infecção urinária maltratada pode
ter sido a causa. Está indignada
com o atendimento pré-natal.
"Não entendo como eles suspeitaram de uma virose e não pediram exames laboratoriais? Como
essa gestante sai sem encaminhamento certo e fica perambulando
por hospitais até a morte?"
A secretária municipal da Saúde
de Arara, Sônia Barbosa Sousa,
reconhece a falha da equipe médica do hospital. Promete que vai
melhorar a capacitação dos seus
médicos para atender gestantes e
"pressionar" os hospitais de Campina Grande a aceitar os seus
doentes.
(CC)
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