São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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"Meu pai é inocente", diz filho de Abdelmassih

Segundo o médico, desde que surgiram as acusações, procura por fertilização na clínica do pai caiu de 130 para 80 tratamentos ao mês

Vicente Abdelmassih insinua que concorrência pode estar por trás de acusações; defesa faz novo pedido de habeas corpus


ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O ginecologista Vicente Abdelmassih, 40, filho do médico Roger Abdelmassih, diz que ainda não conseguiu entender por que tantas pessoas acusam seu pai de crimes sexuais. Deixa nas entrelinhas, porém, que isso pode envolver alguma concorrência. "A gente sabe que a classe médica é uma classe como qualquer outra." Vicente assumirá a clínica na ausência do pai. Ontem, a defesa de Roger entrou no Superior Tribunal de Justiça com novo pedido de habeas corpus.

 

FOLHA - O que mudou na clínica depois das acusações contra seu pai?
VICENTE ABDELMASSIH
- O trabalho continua normalmente. A diferença que a gente notou desde o início do ano, quando surgiram as acusações, foi que realmente houve uma queda [na procura]. Teve uma queda, pequena, do número de pacientes que entraram em consultas novas. A gente está fazendo em torno de 70 a 80 ciclos de fertilização in vitro por mês. Eram em torno de 120, 130 ciclos. Mas, mesmo com 80 ciclos, ainda é a maior clínica de fertilização in vitro no Brasil. O que faz isso não diminuir muito é justamente o trabalho feito aqui. Temos mais de 30 profissionais. A clínica investiu muito em tecnologia, em profissionais de ponta, mão-de-obra altamente especializada.

FOLHA - A Promotoria pediu investigação sobre procedimentos médicos que considera irregulares na clínica. Como vocês viram essas afirmações?
ABDELMASSIH
- Estão falando em manipulação genética. Se a gente for pensar em manipulação genética, o que está sendo citado, qualquer procedimento relacionado à reprodução humana é manipulação genética. Uma simples inseminação artificial será manipulação genética. Falaram em "turbinamento" do óvulo, que nada mais é do que pegar 10% do citoplasma e colocar num óvulo que já não está em tão boa qualidade, principalmente de mulheres de idade mais avançada. Coloca-se dentro desse óvulo essa pequena quantidade de citoplasma, juntamente com espermatozoide, com objetivo de melhorar um pouquinho as condições internas desse óvulo.

FOLHA - Vocês faziam o turbinamento, que a Promotoria diz ser irregular?
ABDELMASSIH
- Não é irregular. Aqui no Brasil não temos nenhuma lei que regulamenta os procedimentos de reprodução assistida. O que a gente tem é uma norma do Conselho Federal de Medicina, de 1992, que tem algumas diretrizes. Mas não fala nada a respeito disso.

FOLHA - Vocês chegaram a fazer?
ABDELMASSIH
- Sem dúvida. Chegamos a fazer, é um procedimento técnico, mas é cada vez menos utilizado porque, em termos de resultado estatístico, não melhora muito.

FOLHA - Fala-se em 39 mulheres e 56 estupros cometidos. Nunca ninguém viu nada irregular na clínica?
ABDELMASSIH
- Estou aqui desde 1994. Nunca foi observada nenhuma movimentação diferente que pudesse levar a esse tipo de pensamento. Para a aspiração do óvulo, precisa ter, no centro cirúrgico, um anestesista, tem que ter médico que está retirando o óvulo, uma enfermeira, laboratório de embriologia, que vai receber o óvulo, fica do lado do centro cirúrgico com uma janela aberta para receber esse material rapidamente, porque senão estraga. Depois, um procedimento que dura de cinco a dez minutos: a paciente vai sair acordada, andando, e vai para o quarto com uma enfermeira, muitas vezes com o anestesista. Fica difícil entender tudo o que está acontecendo.

FOLHA - Como o senhor pretende recuperar a imagem da clínica?
ABDELMASSIH
- A estratégia a gente vai ter que ver com o tempo. O que eu posso dizer é que nós estamos preparados. Eu estou há 15 anos fazendo esse tipo de procedimento, trabalhando com infertilidade. O dr. Roger sempre investiu em tecnologia, profissionais especializados para ter resultado diferenciado.

FOLHA - Por que tanta gente acusa seu pai? Já se perguntou isso?
ABDELMASSIH
- Sinceramente, eu não tenho uma explicação. Se é verdade ou não tudo isso, a Justiça está aí para dizer. Eu quero acreditar que existe aí um má intenção de pessoas. A verdade mesmo a gente só vai saber mais para a frente.

FOLHA - O senhor tem dúvida se isso pode ter, de fato, ocorrido?
ABDELMASSIH
- Não acredito que isso tenho acontecido. A gente nunca teve nenhuma suspeita, mesmo porque, se tivesse, mudaria um pouquinho a relação de trabalho, familiar. Tenho certeza de que meu pai é inocente. Não quero dizer que isso é má intenção de outras pessoas, nem da concorrência, porque a gente sabe que classe médica é como qualquer outra.


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