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"Meu pai é inocente", diz filho de Abdelmassih
Segundo o médico, desde que surgiram as acusações, procura por fertilização na clínica do pai caiu de 130 para 80 tratamentos ao mês
Vicente Abdelmassih insinua que concorrência pode estar por trás de acusações; defesa faz novo pedido de habeas corpus
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O ginecologista Vicente Abdelmassih, 40, filho do médico
Roger Abdelmassih, diz que
ainda não conseguiu entender
por que tantas pessoas acusam
seu pai de crimes sexuais.
Deixa nas entrelinhas, porém, que isso pode envolver alguma concorrência. "A gente
sabe que a classe médica é uma
classe como qualquer outra."
Vicente assumirá a clínica na
ausência do pai. Ontem, a defesa de Roger entrou no Superior
Tribunal de Justiça com novo
pedido de habeas corpus.
FOLHA - O que mudou na clínica
depois das acusações contra seu
pai?
VICENTE ABDELMASSIH - O trabalho continua normalmente. A
diferença que a gente notou
desde o início do ano, quando
surgiram as acusações, foi que
realmente houve uma queda
[na procura]. Teve uma queda,
pequena, do número de pacientes que entraram em consultas
novas. A gente está fazendo em
torno de 70 a 80 ciclos de fertilização in vitro por mês. Eram
em torno de 120, 130 ciclos.
Mas, mesmo com 80 ciclos,
ainda é a maior clínica de fertilização in vitro no Brasil. O que
faz isso não diminuir muito é
justamente o trabalho feito
aqui. Temos mais de 30 profissionais. A clínica investiu muito em tecnologia, em profissionais de ponta, mão-de-obra altamente especializada.
FOLHA - A Promotoria pediu investigação sobre procedimentos médicos que considera irregulares na clínica. Como vocês viram essas afirmações?
ABDELMASSIH - Estão falando em
manipulação genética. Se a
gente for pensar em manipulação genética, o que está sendo
citado, qualquer procedimento
relacionado à reprodução humana é manipulação genética.
Uma simples inseminação artificial será manipulação genética. Falaram em "turbinamento" do óvulo, que nada mais é do
que pegar 10% do citoplasma e
colocar num óvulo que já não
está em tão boa qualidade,
principalmente de mulheres de
idade mais avançada. Coloca-se
dentro desse óvulo essa pequena quantidade de citoplasma,
juntamente com espermatozoide, com objetivo de melhorar um pouquinho as condições
internas desse óvulo.
FOLHA - Vocês faziam o turbinamento, que a Promotoria diz ser irregular?
ABDELMASSIH - Não é irregular.
Aqui no Brasil não temos nenhuma lei que regulamenta os
procedimentos de reprodução
assistida. O que a gente tem é
uma norma do Conselho Federal de Medicina, de 1992, que
tem algumas diretrizes. Mas
não fala nada a respeito disso.
FOLHA - Vocês chegaram a fazer?
ABDELMASSIH - Sem dúvida.
Chegamos a fazer, é um procedimento técnico, mas é cada
vez menos utilizado porque,
em termos de resultado estatístico, não melhora muito.
FOLHA - Fala-se em 39 mulheres e
56 estupros cometidos. Nunca ninguém viu nada irregular na clínica?
ABDELMASSIH - Estou aqui desde
1994. Nunca foi observada nenhuma movimentação diferente que pudesse levar a esse tipo
de pensamento. Para a aspiração do óvulo, precisa ter, no
centro cirúrgico, um anestesista, tem que ter médico que está
retirando o óvulo, uma enfermeira, laboratório de embriologia, que vai receber o óvulo,
fica do lado do centro cirúrgico
com uma janela aberta para receber esse material rapidamente, porque senão estraga.
Depois, um procedimento
que dura de cinco a dez minutos: a paciente vai sair acordada, andando, e vai para o quarto
com uma enfermeira, muitas
vezes com o anestesista. Fica
difícil entender tudo o que está
acontecendo.
FOLHA - Como o senhor pretende
recuperar a imagem da clínica?
ABDELMASSIH - A estratégia a
gente vai ter que ver com o tempo. O que eu posso dizer é que
nós estamos preparados. Eu estou há 15 anos fazendo esse tipo
de procedimento, trabalhando
com infertilidade. O dr. Roger
sempre investiu em tecnologia,
profissionais especializados
para ter resultado diferenciado.
FOLHA - Por que tanta gente acusa
seu pai? Já se perguntou isso?
ABDELMASSIH - Sinceramente,
eu não tenho uma explicação.
Se é verdade ou não tudo isso, a
Justiça está aí para dizer. Eu
quero acreditar que existe aí
um má intenção de pessoas. A
verdade mesmo a gente só vai
saber mais para a frente.
FOLHA - O senhor tem dúvida se isso pode ter, de fato, ocorrido?
ABDELMASSIH - Não acredito que
isso tenho acontecido. A gente
nunca teve nenhuma suspeita,
mesmo porque, se tivesse, mudaria um pouquinho a relação
de trabalho, familiar. Tenho
certeza de que meu pai é inocente. Não quero dizer que isso
é má intenção de outras pessoas, nem da concorrência,
porque a gente sabe que classe
médica é como qualquer outra.
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