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Andressa, 17, foi morta após ser resgatada
Polícia rastreia criminosos e evita a morte de jovem durante "tribunal do crime", mas ela foi alvo de atentado 22 dias depois
Seqüestrada por criminosos com um amigo de 15 anos, eles "se defenderam" de acusações conversando por telefone com presos
DA REPORTAGEM LOCAL
Capacete rosa na cabeça,
Shrek, o assassino, pilota uma
motocicleta azul pelas ruas do
Jardim São Bento 2, bairro da
periferia de Sorocaba (100 km
de SP) onde criminosos das facções rivais PCC (Primeiro Comando da Capital) e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) disputam pontos para o tráfico de
drogas há alguns anos.
Na cintura, o motoqueiro
com apelido de personagem infantil esconde a arma que, instantes depois, empunha para
disparar cinco vezes contra Andressa Caroline Paiva, 17. É
noite de 25 de agosto. A menina
cai na porta de sua casa, morta.
A morte de Andressa foi o
trágico fim de mais um "julgamento" criminoso do PCC que,
na maior parte das vezes, utilizam telefones celulares nos
presídios onde estão, teoricamente, isolados da vida em sociedade e impedidos de cometer mais crimes, como matar.
Por ser considerada aliada
dos rivais do CRBC em Sorocaba, uma das poucas cidades
paulistas em que os traficantes
da facção criminosa PCC sofrem resistência de outros criminosos para vender drogas e
impor suas regras, Andressa foi
condenada à morte.
Após matar Andressa, Shrek
foi flagrado em escutas telefônicas realizadas pela Dise (Delegacia de Investigações Sobre
Entorpecentes) de Itapetininga (163 km de SP) ao dar satisfações sobre o crime para membros do PCC, todos eles presos
no oeste do Estado.
Os policiais descobriram que
Shrek virou réu da facção. O assassino passou por um "julgamento" porque ele não cumpriu a ordem para que Andressa fosse seqüestrada, morta
num lugar despovoado e que
seu corpo desaparecesse.
Primeiro julgamento
Vinte e dois dias antes de ser
assassinada, Andressa e um
amigo dela, de 15 anos, foram
seqüestrados em Sorocaba por
integrantes do PCC e levados
para uma casa na periferia de
Piedade, onde dez criminosos
da facção submeteram os dois a
um "tribunal do crime" que durou mais de dez horas.
Durante o julgamento, Andressa e o rapaz de 15 anos conversaram por telefone com os
criminosos do PCC que, das
prisões, ouviram os argumentos de ambos para que não fossem assassinados.
A ordem para matar os dois
partiu de Tiago Carriel Leite, o
Cauã, traficante que usava um
celular na Penitenciária de Valparaíso (577 km de SP). Ele é o
integrante do PCC na região de
Sorocaba que decide pela vida
ou pela morte das pessoas nos
"tribunais do crime".
Enquanto Leite e seus comparsas julgavam Andressa e o
rapaz de 15 anos, os policiais Elton Ricardo Gregório, 34, e
Márcio Almeida, 39, da Dise de
Itapetininga, ouviam tudo o
que era debatido pelo telefone
celular e montaram uma operação para resgatar os jovens. A
polícia monitorava os celulares
do grupo porque investigava
outra morte cometida num
"tribunal do crime".
Aguinaldo de Campos, o Guina, foi achado morto em 20 de
julho, em Sorocaba. Integrante
do PCC, ele foi condenado à
morte pelos comparsas por ter
matado em junho, sem autorização do PCC, o policial Luiz
Angleberto Machado, 51, em
Itapetininga.
Os dez criminosos do PCC
foram presos e, durante o dia 3
de agosto, um domingo, a Secretaria da Segurança Pública
de SP divulgou a ação.
Durante a ação policial, Clodoaldo Soares, um dos dez homens que seviciavam Andressa
e o rapaz de 15 anos, ainda atirou na direção da cabeça da menina, mas o tiro não a atingiu.
Andressa ficou escondida
durante dez dias após ter sido
resgatada. Ajudou a polícia com
informações sobre outra morte
determinada por presidiários.
Depois de escapar do primeiro "tribunal do crime" do PCC,
Andressa voltou a morar com a
sua família no Jardim São Bento 2. Às 8h do dia 27 de agosto,
acabou em uma sepultura do
Cemitério da Saudade.
(ANDRÉ CARAMANTE)
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