São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Andressa, 17, foi morta após ser resgatada

Polícia rastreia criminosos e evita a morte de jovem durante "tribunal do crime", mas ela foi alvo de atentado 22 dias depois

Seqüestrada por criminosos com um amigo de 15 anos, eles "se defenderam" de acusações conversando por telefone com presos


DA REPORTAGEM LOCAL

Capacete rosa na cabeça, Shrek, o assassino, pilota uma motocicleta azul pelas ruas do Jardim São Bento 2, bairro da periferia de Sorocaba (100 km de SP) onde criminosos das facções rivais PCC (Primeiro Comando da Capital) e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) disputam pontos para o tráfico de drogas há alguns anos.
Na cintura, o motoqueiro com apelido de personagem infantil esconde a arma que, instantes depois, empunha para disparar cinco vezes contra Andressa Caroline Paiva, 17. É noite de 25 de agosto. A menina cai na porta de sua casa, morta.
A morte de Andressa foi o trágico fim de mais um "julgamento" criminoso do PCC que, na maior parte das vezes, utilizam telefones celulares nos presídios onde estão, teoricamente, isolados da vida em sociedade e impedidos de cometer mais crimes, como matar.
Por ser considerada aliada dos rivais do CRBC em Sorocaba, uma das poucas cidades paulistas em que os traficantes da facção criminosa PCC sofrem resistência de outros criminosos para vender drogas e impor suas regras, Andressa foi condenada à morte.
Após matar Andressa, Shrek foi flagrado em escutas telefônicas realizadas pela Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Itapetininga (163 km de SP) ao dar satisfações sobre o crime para membros do PCC, todos eles presos no oeste do Estado.
Os policiais descobriram que Shrek virou réu da facção. O assassino passou por um "julgamento" porque ele não cumpriu a ordem para que Andressa fosse seqüestrada, morta num lugar despovoado e que seu corpo desaparecesse.

Primeiro julgamento
Vinte e dois dias antes de ser assassinada, Andressa e um amigo dela, de 15 anos, foram seqüestrados em Sorocaba por integrantes do PCC e levados para uma casa na periferia de Piedade, onde dez criminosos da facção submeteram os dois a um "tribunal do crime" que durou mais de dez horas.
Durante o julgamento, Andressa e o rapaz de 15 anos conversaram por telefone com os criminosos do PCC que, das prisões, ouviram os argumentos de ambos para que não fossem assassinados.
A ordem para matar os dois partiu de Tiago Carriel Leite, o Cauã, traficante que usava um celular na Penitenciária de Valparaíso (577 km de SP). Ele é o integrante do PCC na região de Sorocaba que decide pela vida ou pela morte das pessoas nos "tribunais do crime".
Enquanto Leite e seus comparsas julgavam Andressa e o rapaz de 15 anos, os policiais Elton Ricardo Gregório, 34, e Márcio Almeida, 39, da Dise de Itapetininga, ouviam tudo o que era debatido pelo telefone celular e montaram uma operação para resgatar os jovens. A polícia monitorava os celulares do grupo porque investigava outra morte cometida num "tribunal do crime".
Aguinaldo de Campos, o Guina, foi achado morto em 20 de julho, em Sorocaba. Integrante do PCC, ele foi condenado à morte pelos comparsas por ter matado em junho, sem autorização do PCC, o policial Luiz Angleberto Machado, 51, em Itapetininga.
Os dez criminosos do PCC foram presos e, durante o dia 3 de agosto, um domingo, a Secretaria da Segurança Pública de SP divulgou a ação.
Durante a ação policial, Clodoaldo Soares, um dos dez homens que seviciavam Andressa e o rapaz de 15 anos, ainda atirou na direção da cabeça da menina, mas o tiro não a atingiu.
Andressa ficou escondida durante dez dias após ter sido resgatada. Ajudou a polícia com informações sobre outra morte determinada por presidiários.
Depois de escapar do primeiro "tribunal do crime" do PCC, Andressa voltou a morar com a sua família no Jardim São Bento 2. Às 8h do dia 27 de agosto, acabou em uma sepultura do Cemitério da Saudade.
(ANDRÉ CARAMANTE)


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