São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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"Tribunais do crime" mataram ao menos 9

Criminosos ligados à facção que foram presos na zona leste de SP usavam até espadas para amedrontar as vítimas

Secretário não quis falar sobre o uso de celulares em prisões e informou, em nota, que são apreendidos 600 aparelhos por mês nos presídios


DA REPORTAGEM LOCAL

Com a auxílio de grampos autorizados pela Justiça, a Polícia Civil de São Paulo e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público, acabaram nos últimos três meses com três núcleos da facção criminosa PCC que promoviam o tráfico de drogas e os chamados "tribunais do crime".
Nas três operações da Polícia Civil na zona leste de São Paulo, no ABC Paulista e na região de Sorocaba (99 km de SP), 27 pessoas que faziam ou davam suporte para esses julgamentos criminosos do PCC foram presas. Até agora, polícia e Promotoria sabem de nove vítimas fatais dessas ações.
Os "tribunais" são "julgamentos" comandados por um presidiário do PCC que assume o papel de "juiz" para determinar, por meio de um celular, a morte ou não de uma pessoa -seja ela ligada ao PCC ou não.
Uma simples briga de bar, um furto, um roubo ou até mesmo um estupro ou um homicídio, quando cometido em áreas com influência da facção, tem os seus autores ou suspeitos levados ao "tribunal do crime". Isso porque o PCC quer evitar a ação policial onde estão seus pontos-de-venda de drogas.
Além dos 27 presos e da identificação de outros 20 criminosos agora procurados pela polícia, ao menos dez presidiários, todos eles do PCC e que usavam celulares em suas celas para promover os "tribunais", também foram identificados e serão indiciados por seqüestro, cárcere privado e homicídio.
A primeira das três ações da polícia para combater os "tribunais" teve como alvo membros do PCC na zona leste.
No local onde funcionava a sede de um clube de futebol de várzea e a escola de samba Noroeste, na Vila Formosa, Celso Maida e Marcio Francisco de Souza, segundo a 5ª Delegacia Seccional Leste, da Polícia Civil, responsável pelas prisões de ambos, promoviam "julgamentos de pessoas" e, em alguns casos, usavam espadas para amedrontar suas vítimas.
Durante as investigações, Marcelo Dantas da Silva, sargento da PM de SP, foi preso acusado de dar suporte ao tráfico de drogas promovido por Maida e Souza. O PM negou ter ajudado os "juízes do PCC", suspeitos de ordenar pelo menos quatro homicídios.

Presidiário é juiz
Outro grupo do PCC responsável por "julgamentos" descoberto recentemente agia na região do ABC e tinha como "juiz" o detento Marcelo Rossinholi.
Chamado no PCC de Velhote, Rossinholi usava o celular na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (611 km de SP), onde o governo diz estarem os chefes da facção, para ordenar ou não o seqüestro e a morte de pessoas que "teriam infringido regras paralelas do PCC".
Na denúncia oferecida pelos promotores Sandra Reimberg e Wider Filho e aceita pela Justiça, Rossinholi e 32 pessoas foram acusadas de ajudá-lo nos crimes. Dos 33 acusados, ao menos 14 deles, segundo denuncia à Justiça, tinham relação direta com os "julgamentos criminosos" do PCC.
As escutas telefônicas do Gaeco do ABC mostram que Gilcimar Mafra de Mesquita e Leandro Carlos de Moraes foram submetidos ao "julgamento" da célula criminosa comandada pelo presidiário Rossinholi. No dia 13 de junho deste ano, ambos desapareceram e a polícia ainda tenta achá-los.
Outro justiçamento no ABC que terminou em assassinato teve como vítima o pernambucano Alcides Rosa Ferreira, 47. "Julgado" sob a suspeita de ter cometido estupro, o corpo de Ferreira foi achado em um córrego em São Bernardo.
Cinco criminosos ligados ao presidiário Rossinholi foram flagrados nas escutas telefônicas ao debater se deveriam ou não matar Ferreira. No BO 6811/2008, do 6º Distrito Policial de São Bernardo, está o registro da morte dele. "Homicídio simples", diz o documento.
Num outro grampo, um homem identificado como Eduardo, que não é do PCC, foi submetido a "julgamento" porque matou um rapaz após uma briga de bar e, com isso, atraíra a polícia para o lugar do crime. "Vida se paga com vida", disse um criminoso ao homicida.
A mais recente ação da polícia contra os "tribunais" ocorreu em Piedade (99 km SP) em 3 de agosto e acabou com a prisão de dez homens.
Eles submeteriam um rapaz de 15 anos e a jovem Andressa Caroline Paiva, 17, ao "julgamento". Salvos na ocasião, Andressa foi morta 22 dias depois.
O secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, não quis se manifestar sobre o uso de celulares nos presídios. Em nota, informou que, em média, a cada mês são apreendidos 600 telefones nos 146 presídios de SP. (AC)


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