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"Tribunais do crime" mataram ao menos 9
Criminosos ligados à facção que foram presos na zona leste de SP usavam até espadas para amedrontar as vítimas
Secretário não quis falar sobre
o uso de celulares em prisões e
informou, em nota, que são
apreendidos 600 aparelhos
por mês nos presídios
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a auxílio de grampos autorizados pela Justiça, a Polícia
Civil de São Paulo e o Gaeco
(Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público, acabaram nos últimos três meses
com três núcleos da facção criminosa PCC que promoviam o
tráfico de drogas e os chamados
"tribunais do crime".
Nas três operações da Polícia
Civil na zona leste de São Paulo,
no ABC Paulista e na região de
Sorocaba (99 km de SP), 27 pessoas que faziam ou davam suporte para esses julgamentos
criminosos do PCC foram presas. Até agora, polícia e Promotoria sabem de nove vítimas fatais dessas ações.
Os "tribunais" são "julgamentos" comandados por um
presidiário do PCC que assume
o papel de "juiz" para determinar, por meio de um celular, a
morte ou não de uma pessoa
-seja ela ligada ao PCC ou não.
Uma simples briga de bar,
um furto, um roubo ou até mesmo um estupro ou um homicídio, quando cometido em áreas
com influência da facção, tem
os seus autores ou suspeitos levados ao "tribunal do crime".
Isso porque o PCC quer evitar a
ação policial onde estão seus
pontos-de-venda de drogas.
Além dos 27 presos e da identificação de outros 20 criminosos agora procurados pela polícia, ao menos dez presidiários,
todos eles do PCC e que usavam celulares em suas celas para promover os "tribunais",
também foram identificados e
serão indiciados por seqüestro,
cárcere privado e homicídio.
A primeira das três ações da
polícia para combater os "tribunais" teve como alvo membros do PCC na zona leste.
No local onde funcionava a
sede de um clube de futebol de
várzea e a escola de samba Noroeste, na Vila Formosa, Celso
Maida e Marcio Francisco de
Souza, segundo a 5ª Delegacia
Seccional Leste, da Polícia Civil, responsável pelas prisões de
ambos, promoviam "julgamentos de pessoas" e, em alguns casos, usavam espadas para amedrontar suas vítimas.
Durante as investigações,
Marcelo Dantas da Silva, sargento da PM de SP, foi preso
acusado de dar suporte ao tráfico de drogas promovido por
Maida e Souza. O PM negou ter
ajudado os "juízes do PCC",
suspeitos de ordenar pelo menos quatro homicídios.
Presidiário é juiz
Outro grupo do PCC responsável por "julgamentos" descoberto recentemente agia na região do ABC e tinha como "juiz"
o detento Marcelo Rossinholi.
Chamado no PCC de Velhote, Rossinholi usava o celular
na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (611 km de SP),
onde o governo diz estarem os
chefes da facção, para ordenar
ou não o seqüestro e a morte de
pessoas que "teriam infringido
regras paralelas do PCC".
Na denúncia oferecida pelos
promotores Sandra Reimberg e
Wider Filho e aceita pela Justiça, Rossinholi e 32 pessoas foram acusadas de ajudá-lo nos
crimes. Dos 33 acusados, ao
menos 14 deles, segundo denuncia à Justiça, tinham relação direta com os "julgamentos
criminosos" do PCC.
As escutas telefônicas do
Gaeco do ABC mostram que
Gilcimar Mafra de Mesquita e
Leandro Carlos de Moraes foram submetidos ao "julgamento" da célula criminosa comandada pelo presidiário Rossinholi. No dia 13 de junho deste
ano, ambos desapareceram e a
polícia ainda tenta achá-los.
Outro justiçamento no ABC
que terminou em assassinato
teve como vítima o pernambucano Alcides Rosa Ferreira, 47.
"Julgado" sob a suspeita de ter
cometido estupro, o corpo de
Ferreira foi achado em um córrego em São Bernardo.
Cinco criminosos ligados ao
presidiário Rossinholi foram
flagrados nas escutas telefônicas ao debater se deveriam ou
não matar Ferreira. No BO
6811/2008, do 6º Distrito Policial de São Bernardo, está o registro da morte dele. "Homicídio simples", diz o documento.
Num outro grampo, um homem identificado como Eduardo, que não é do PCC, foi submetido a "julgamento" porque
matou um rapaz após uma briga de bar e, com isso, atraíra a
polícia para o lugar do crime.
"Vida se paga com vida", disse
um criminoso ao homicida.
A mais recente ação da polícia contra os "tribunais" ocorreu em Piedade (99 km SP) em
3 de agosto e acabou com a prisão de dez homens.
Eles submeteriam um rapaz
de 15 anos e a jovem Andressa
Caroline Paiva, 17, ao "julgamento". Salvos na ocasião, Andressa foi morta 22 dias depois.
O secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, não quis se manifestar sobre o uso de celulares
nos presídios. Em nota, informou que, em média, a cada mês
são apreendidos 600 telefones
nos 146 presídios de SP.
(AC)
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