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TONY ANDREO VILLELA (1976-2008)
As águas do Guarujá já têm seu mártir
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Tony Villela chegou à praia na última quarta,
vindo do mar, uma salva de
palmas espocou nas areias
do Guarujá (SP). É que ele
havia, domingo, se atirado à
água para salvar quatro surfistas de se afogarem no Canto do Maluf. Sobreviveram
-menos Tony, que chegou à
praia carregado por bombeiros, sob o epíteto de herói.
Os cabelos jogados balançavam ao vento, encimando
um corpo forte, moreno de
sol, marcado nos braços e
pernas com símbolos tribais
enquanto tatuava com hena
os turistas que o procuravam
em sua barraca na feira do
Guarujá. Lá, era artesão e ganhava o sustento com a profissão aprendida com o pai.
Tony foi artista bem antes
de ser surfista. Desde que
nasceu, no Rio, até os 20
anos, deu pouca atenção ao
mar. Morava perto da praia,
"mas não era maria-vai-com-as-outras", diz a irmã.
"Um belo dia sentiu impulso
de surfar e, a partir daí, ele se
entregou. Aquilo virou mesmo o cotidiano dele."
Desde então, até o Réveillon passava na água. Gostava de Bob Marley, de remar,
de fazer trilhas no mato e de
ensinar as crianças sobre a
natureza. "Ele gostava de
paz. Tendo paz, ele era feliz."
Naquele domingo, jogou-se na água e salvou quem pôde, mas perdeu a prancha
com a força das ondas. Morreu aos 32, deixando mulher,
filha e grande admiração entre os surfistas. "Mas ele já
salvou tanta gente no mar",
diz a irmã, "que não precisava disso para ser um herói".
obituario@folhasp.com.br
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