São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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TONY ANDREO VILLELA (1976-2008)

As águas do Guarujá já têm seu mártir

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Tony Villela chegou à praia na última quarta, vindo do mar, uma salva de palmas espocou nas areias do Guarujá (SP). É que ele havia, domingo, se atirado à água para salvar quatro surfistas de se afogarem no Canto do Maluf. Sobreviveram -menos Tony, que chegou à praia carregado por bombeiros, sob o epíteto de herói.
Os cabelos jogados balançavam ao vento, encimando um corpo forte, moreno de sol, marcado nos braços e pernas com símbolos tribais enquanto tatuava com hena os turistas que o procuravam em sua barraca na feira do Guarujá. Lá, era artesão e ganhava o sustento com a profissão aprendida com o pai.
Tony foi artista bem antes de ser surfista. Desde que nasceu, no Rio, até os 20 anos, deu pouca atenção ao mar. Morava perto da praia, "mas não era maria-vai-com-as-outras", diz a irmã. "Um belo dia sentiu impulso de surfar e, a partir daí, ele se entregou. Aquilo virou mesmo o cotidiano dele."
Desde então, até o Réveillon passava na água. Gostava de Bob Marley, de remar, de fazer trilhas no mato e de ensinar as crianças sobre a natureza. "Ele gostava de paz. Tendo paz, ele era feliz."
Naquele domingo, jogou-se na água e salvou quem pôde, mas perdeu a prancha com a força das ondas. Morreu aos 32, deixando mulher, filha e grande admiração entre os surfistas. "Mas ele já salvou tanta gente no mar", diz a irmã, "que não precisava disso para ser um herói".

obituario@folhasp.com.br


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