São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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Reposição hormonal divide médicos e assusta mulheres

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 15% das mulheres brasileiras na pós-menopausa fazem uso da terapia de reposição hormonal. Outras 19% começaram a terapia, mas pararam.
Esse número, considerado baixíssimo pelos médicos que defendem a reposição hormonal, pode ter caído ainda mais depois da interrupção, em junho deste ano, de um estudo norte-americano que viu nesse tipo de terapia mais riscos do que benefícios.
O alerta chamou a atenção para as terapias que adotam hormônios extraídos de plantas, especialmente as isoflavonas da soja. Agora, porém, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) vem recomendando que se evite os fitoestrógenos.
Diante desse quadro, o Dia Mundial da Menopausa, comemorado na última sexta, tem mais polêmicas do que certezas para comemorar.
Uma certeza é que as terapias de reposição hormonal, com qualquer tipo de hormônio, ainda exigem muitas pesquisas. A outra é que o emprego mais frequente dos fitormônios e os muitos estudos que vêm sendo feitos sobre eles estão dando aos médicos e às mulheres novas alternativas.
No Brasil, cerca de 20 milhões de mulheres têm mais de 45 anos. Entre aquelas na pós-menopausa, 75% sofrem de algum sintoma desconfortável dessa fase; 30% dessas têm sintomas severos.
Trata-se de um mercado gigantesco e de muitos interesses, além de ser um problema de saúde pública. "A sociedade deve ser alertada sobre os impactos à saúde da deficiência hormonal que ocorre na menopausa", diz César Eduardo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Climatério (Sobrac) e diretor de ensino do Hospital Pérola Byington.
Médicos e mulheres concordam com esse alerta. Falta saber qual é a melhor conduta. "Sempre se viram os benefícios da reposição, mas sempre se temeram os riscos", diz Fernandes.
A sociedade de endocrinologia (Sbem) apóia a reposição "com hormônios quimicamente idênticos aos que os ovários da mulher produzem", diz Ricardo Meirelles, vice-presidente da entidade. Segundo a sociedade, não há evidências de que esse hormônio "cause danos, quando prescrito em doses adequadas". Já fitormônios, também por não serem idênticos aos da mulher, os "endocrinologistas preferem evitar".
Edmund Baracat, presidente da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), diz que os fitormônios são "uma alternativa" para os sintomas da menopausa, "principalmente para quem tem contra-indicação ou não se adapta ao estrogênio".
Baracat orientou um estudo na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que testou os benefícios da isoflavona num grupo de 40 mulheres na pós-menopausa. "Depois de cinco meses, 85% delas relataram melhora clínica dos sintomas, contra 25% do grupo placebo, que recebeu cápsulas inócuas", diz o ginecologista Kyung Koo Han, que coordenou a pesquisa. Os resultados foram publicados este ano na mais importante revista norte-americana de ginecologia e obstetrícia.
Uma segunda parte do estudo, que se prolongou por um ano, mostrou que 60% das mulheres tiveram uma manutenção ou melhora na densidade óssea.
Serão necessários pesquisas mais longas para se verificar a relação entre fitormônios e câncer.


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