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OPINIÃO
O governador Nascimento ou o capitão Cabral?
WÁLTER FANGANIELLO
MAIEROVITCH
ESPECIAL PARA A FOLHA
O governador Sérgio Cabral,
com as operações de guerra
realizadas nas favelas da Coréia, Rocinha e Dona Marta, legitimou-se para poder pedir ao
governo George W. Bush uma
"boa-grana" para lançar o "Plan
Rio de Janeiro". Algo da série
"Plan Colombia" e do recentíssimo "Plan México", dos presidentes Calderon (México) e
Bush.
Se faltava sangue, morte de
uma criança e helicóptero para
matar covardemente suspeitos
em fuga, depois da Operação
Bope na favela da Coréia tudo
ficou completo. Ou melhor,
os requisitos básicos foram
atendidos para a política bélica
do governo Sérgio Cabral
adequar-se à "War on Drugs"
(Guerra às Drogas). Esta iniciada pelo então presidente
Richard Nixon, de triste
memória.
A Guerra às Drogas, que
emprega o confronto para matar "inimigos", foi ampliada pelo então presidente Ronald
Reagan.
Coube a Reagan globalizar a
"War on Drugs", pois declarou
combate bélico em qualquer
ponto do planeta. Como se sabe, queria mesmo um pretexto
para invadir países, a fim de
combater o comunismo.
Na "War on Drugs", que os
presidentes pós Nixon, democratas ou republicanos, mantêm até hoje, entraram de cabeça vários ditadores.
Alguns até para "lavar" os indícios de aliados do narcotráfico, como o
presidente Hugo Banzer na Bolívia e Noriega no Panamá. E a
relação é grande. Por exemplo,
a dupla formada pelo ex-presidente Alberto Fujimori e pela
eminência parda da ditadura,
Wladimiro Montesinos,
ex-agente da CIA. Ambos estão
presos no Peru. Ainda passa pelos presidentes colombianos
Andrés Pastrana e Álvaro
Uribe.
Dentro e fora dos Estados
Unidos, a militarização do
combate às drogas e ao crime
organizado que opera o tráfico,
a chamada "War on Drugs", faliu. Os norte-americanos são
campeões mundiais de consumo de drogas ilícitas.
Apesar do alerta inserto na
Convenção de Viena de 1980,
pelos sistemas bancário e financeiro internacionais, o
mercado das drogas proibidas
continua a movimentar anualmente cerca de US$ 300 bilhões.
A operação do Bope na favela
da Coréia, com a morte de 15
pessoas, incluídos um menino
de quatro anos e um policial, foi
uma outra irresponsabilidade
do governador Cabral, agora a
encarnar o papel de capitão
Nascimento.
Mais uma vez, civis inocentes, favelados e pobres, ficaram
no meio do fogo-cruzado. E as
autoridades fluminenses afirmaram que a ação foi planejada. Como se percebeu, ela foi
projetada para a população ficar em risco, entre policiais e
traficantes. Traficantes do bando de um tal Márcio da Silva Lima, apelidado de Tola, que, pelo jeito, não está entre os mortos suspeitos de integrar o bando que tem controle social e
territorial da Coréia.
Para o governo do Rio de Janeiro, antes do confronto foram realizados trabalhos de inteligência. Seguramente, uma inteligência-burra.
Modernamente, a inteligência, no combate às drogas
-que é um dos rentáveis negócios da criminalidade organizada-, ocorre pela infiltração
voltada a afetar a economia
movimentada.
Para isso, o infiltrado oferece
vantagens à organização criminosa: lavagem, reciclagem,
ampliação de lucros, drogas
em consignação, armas potentes etc.
Como tais propostas de vantagens dependem sempre da
aprovação do "chefão", abre- se
caminho para o contato e a coleta de informações.
Outra medida utilizada é desplugar o bando das redes de
oferta de drogas no atacado e de
armas.
Enfim, existem vários caminhos engenhosos em países
que, em respeito a direitos humanos e à eficiência no contraste ao crime, não aceitam a
fracassada e enganosa política
da "War on Drugs".
A "War o Drugs", no momento, só é útil em dois casos. Primeiro, para tentar legitimar o
presidente mexicano Calderon,
que desde o primeiro dia de
mandato guerreia com os cartéis das drogas, sem sucesso e
muitas mortes. Segundo, governos populistas, que faturam
politicamente em ações espetaculares e de resultados lamentáveis.
WÁLTER FANGANIELLO MAIEROVITCH, 60,
desembargador aposentado, ex-secretário nacional antidrogas (governo FHC) e presidente do
Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de contraste às máfias
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