|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para juiz, proteção à mulher é "diabólica"
Edilson Rodrigues considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha, contra violência doméstica, e afirmou que o mundo é masculino
Segundo ele, homens que não quiserem ser envolvidos nas "armadilhas" dessa lei, que considera "absurda", terão de se manter "tolos"
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Alegando ver "um conjunto
de regras diabólicas" e lembrando que "a desgraça humana começou por causa da mulher", um juiz de Sete Lagoas (MG) considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha e
rejeitou pedidos de medidas
contra homens que agrediram
e ameaçaram suas companheiras. A lei é considerada um
marco na defesa da mulher
contra a violência doméstica.
"Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da
mulher, todos nós sabemos,
mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...)
O mundo é masculino! A idéia
que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!"
A Folha teve acesso a uma
das sentenças do juiz Edilson
Rumbelsperger Rodrigues que
chegou ao Conselho Nacional
de Justiça. Em 12 de fevereiro,
sugeriu que o controle sobre a
violência contra a mulher tornará o homem um tolo.
"Para não se ver eventualmente envolvido nas armadilhas dessa lei absurda, o homem terá de se manter tolo, mole, no sentido de se ver na
contingência de ter de ceder facilmente às pressões."
Também demonstrou receio
com o futuro da família. "A vingar esse conjunto de regras diabólicas, a família estará em perigo, como inclusive já está:
desfacelada, os filhos sem regras, porque sem pais; o homem subjugado." Ele chama a
lei de "monstrengo tinhoso".
Rodrigues criticou ainda a
"mulher moderna, dita independente, que nem de pai para
seus filhos precisa mais, a não
ser dos espermatozóides".
Segundo a Folha apurou, o
juiz usou uma sentença-padrão, repetindo praticamente
os mesmos argumentos nos pedidos de autorização para adoção de medidas de proteção
contra mulheres sob risco de
violência por parte do marido.
A Folha procurou ouvi-lo. A
1ª Vara Criminal e de Menores
de Sete Lagoas informou que
ele está de férias e que não havia como localizá-lo.
Sancionada em agosto de
2006, a Lei Maria da Penha (nº
11.340) aumentou o rigor nas
penas para agressões contra a
mulher no lar, além de fornecer instrumentos para ajudar a
coibir esse tipo de violência.
Seu nome é uma homenagem à biofarmacêutica Maria
da Penha Maia, agredida seguidamente pelo marido. Após
duas tentativas de assassinato
em 1983, ela ficou paraplégica.
O marido, Marco Antonio Herredia, só foi preso após 19 anos
de julgamento e passou apenas
dois anos em regime fechado.
Em todos os casos em suas
mãos, Rodrigues negou a vigência da lei em sua comarca,
que abrange oito municípios da
região metropolitana de Belo
Horizonte, com cerca de 250
mil habitantes. O Ministério
Público recorreu ao TJ (Tribunal de Justiça). Conseguiu reverter em um caso e ainda
aguarda que os outros sejam
julgados.
Texto Anterior: Plantão Médico: Campanha identifica câncer bucal Próximo Texto: Frases Índice
|