São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para analistas, falta de equipamentos afetou ação policial

Tecnologia de ponta, como microcâmera que revelaria detalhes do apartamento, poderia ter salvado Eloá, segundo especialistas

"A falta desse equipamento pode ter sido um erro fatal; mas o erro é do policial ou do governo que não comprou a câmera?", pergunta delegado

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma câmera de vídeo menor do que a cabeça de um palito de fósforo poderia ter mudado o desfecho do caso de cárcere privado que resultou na morte de Eloá Cristina Pimentel, aos 15 anos. Introduzida debaixo da porta, a câmera revelaria para a polícia a posição exata de cada um no apartamento e mostraria que havia uma barricada atrás da porta, que era desconhecida no instante da invasão. Três especialistas em resgates dizem que o uso de tecnologia de ponta poderia ter alterado o final dessa história.
"Não dá para entender como o Estado mais rico da federação não tem esse tipo de tecnologia", diz o sociólogo Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope (Batalhão de Operação Especiais da Polícia Militar) e um dos roteiristas do filme "Tropa de Elite". Segundo ele, um sistema simples de câmera pode ter um custo similar ao de um carro de polícia -US$ 15 mil ou cerca de R$ 32 mil.
Uma câmera microscópica digital, acoplada a um fio de fibra óptica, teria revelado para os policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) que a barricada exigia um outro tipo de invasão. A câmera seria introduzida no apartamento por debaixo da porta. Os 15, 20 segundos que a polícia perdeu com essa barricada podem ter custado a vida de Eloá, segundo o delegado Riad Farhat, chefe do Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial).
"A falta desse equipamento pode ter sido um erro fatal. Mas o erro é do policial ou do governo que não comprou a câmera?", pergunta Farhat.
O coronel reformado Severo Augusto da Silva Neto, que comandou o policiamento da região metropolitana de Belo Horizonte, endossa a idéia de que tecnologia poderia ter mudado o desfecho do caso.
"Se a polícia tivesse imagens, invadiria o cativeiro quando o Lindemberg [Alves] estivesse o mais afastado possível das reféns", exemplifica o coronel.
Os três especialistas, porém, são unânimes em elogiar de maneira enfática a operação do Gate. Ressaltam que só fazem dois reparos pontuais: a ausência de tecnologia e a volta de Nayara Rodrigues da Silva, 15, para o cativeiro, considerada um erro primário.
A falta de tecnologia não é um problema só do Gate. No Brasil, só o Cot (Comando de Operações Táticas) da Polícia Federal dispõe de recursos de ponta para esse tipo de ação.
Coronel Severo faz outro tipo de reparo à operação do Gate: diz que foi um erro ter permitido que Lindemberg tivesse acesso a TV e a celular. Havia uma situação de assimetria de informações -o tomador de reféns tinha muitos dados sobre o que ocorria fora, e a polícia sabia muito pouco do que se passava no cativeiro. "Eu cortaria a energia elétrica para ele não ter mais informações do que a polícia. Tomador de refém não pode ter acesso a TV, rádio ou telefone celular", afirma.
Na avaliação do coronel, ao ver a repercussão do caso na televisão, Lindemberg "entusiasmou-se" e ficou numa posição ainda mais fortalecida.
A polícia chegou a cortar a energia elétrica do apartamento, mas teve de religá-la quando Lindemberg começou a torturar as reféns.

Outro lado
A Secretaria da Segurança diz que o Gate já comprou microcâmeras para situações de risco, mas não soube informar quantas são nem quando elas começarão a ser usadas.


Texto Anterior: Ufscar: Professora de pós-graduação é acusada de agredir aluno
Próximo Texto: Em vídeo, Lindemberg afirma que não sabia que havia atirado em amiga de Eloá
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.