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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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Aposentados não encontram remédio

DA REPORTAGEM LOCAL

"Quanto mais você vai descendo para as periferias, mais terrível a situação vai ficando. O povo não encontra remédio nenhum." Terezinha Monteiro Batista, 65, mora no Jardim Brasil, 50 minutos de ônibus do centro de São Paulo, não tão longe assim. Ela pertence ao conselho gestor da Unidade Básica de Saúde do Parque Edu Chaves, zona norte da cidade.
É faca de dois gumes, faz queixas e ouve queixas. Ela tem osteoporose e o médico do Hospital Pérola Byington receitou três remédios. Há seis meses, parou de tomar dois, diz que o hospital não "está entregando mais". Um deles, de cálcio, custa R$ 54,70.
"Seu" Antonio Conceição, 67, foi levado ao posto para fazer inalação porque fazia questão de dar seu depoimento. Fala com muita dificuldade. "Eu não posso andar, e vou de posto em posto, com a receita na mão. A vista está escura. No Tatuapé disseram que tem muita gente na fila."
Conceição, pedreiro desde os 12 anos, já viajou o país inteiro, trabalhou no Carandiru. Agora não aguenta "fazer um cimentado no chão, é dor quando chove, é dor quando faz sol".
Conceição nem sabe quais remédios que deveria estar tomando e deixou de tomar. Nas mãos, tem receitas velhas, com data de mais de um ano, que não foram aviadas ou já foram esquecidas.
Todos ali vivem de aposentadoria, R$ 240. A maioria mora sozinho, "eu e Deus", como dizem. Vivem correndo perigo. Sebastiana Silva Oliveira, 77, tem hipertensão que chega a passar dos 22 por 12. "Quando falta o captopril, eu tenho que comprar, senão morro." Mas os outros, receitados pelo médico, ela não toma mais.
Maria de Lourdes Menezes dos Santos, 66, procurou Terezinha Batista por causa do marido, "seu" Euclides, 89, que precisa de três remédios e só encontra um. Ele não anda mais. É a mulher, Maria Santos, quem percorre os postos em busca dos remédios.



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