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Kassab demite 2 envolvidos no caso Gafisa
Servidores intermediavam oferta da construtora para remover favela; empresa diz que quer melhorar qualidade de vida dos moradores
Como a área pública está ocupada há 20 anos, as famílias têm direito de posse garantido por lei,
diz o Ministério Público
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), exonerou
ontem os dois funcionários da
Subprefeitura de Santo Amaro
(zona sul) que lideravam o processo de retirada de moradores
de uma favela a pedido da construtora Gafisa.
A empresa informou anteontem e ontem, por nota, que seu
objetivo, ao propor indenização aos moradores da favela, é
dar "uma melhor qualidade de
vida" a eles.
Foram exonerados o assessor especial Antonio Carlos
Bernardi e o chefe de fiscalização Jorge Tadeu Guimarães. O
subprefeito Geraldo Mantovani Filho foi mantido no cargo.
"O subprefeito de Santo
Amaro é pessoa da minha absoluta confiança, aliás dos mais
competentes", afirmou o secretário Andrea Matarazzo.
"Senão vai ter um efeito dominó e chega ao prefeito também. A Subprefeitura de Santo
Amaro é maior do que a maioria das cidades. Com certeza ele
[Mantovani] não tinha conhecimento disso", disse Kassab.
O subprefeito diz que desconhecia a "parceria". "Dizer isso
agora virou moda para os políticos", disse o promotor José
Carlos de Freitas, da Habitação, que investiga o caso.
A exoneração ocorreu após a
Folha publicar reportagem revelando a "parceria" entre a
construtora e a subprefeitura.
As 36 famílias da comunidade Campo Grande/Jurubatuba
ocupam uma área pública próxima à avenida das Nações
Unidas, ao lado de um empreendimento que está sendo
lançado pela construtora.
A subprefeitura havia dado
prazo para os moradores saírem de suas casas até 8 de janeiro e oferecia R$ 15 mil de indenização, pagos pela Gafisa.
Se não aceitassem o dinheiro, a ameaça era que sairiam de
qualquer forma, sem receber
nada. As famílias estão irregularmente no terreno há 20
anos e as casas são de alvenaria.
Para o Ministério Público Estadual, esse tempo lhes garante
-por lei- direito de posse.
"A gente está fazendo aqui
uma boa ação de ajudar vocês.
Se vocês não querem ajuda...",
disse Bernardi ao morador
Luiz Geraldo de Oliveira, em
telefonema gravado anteontem a pedido da Folha.
A "parceria" também será investigada pelo Gaeco (Grupo
de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). "Essa parceria pode envolver corrupção passiva e ativa. Os funcionários não iam fazer isso de
graça", disse o promotor.
Os moradores relatam que o
assédio dos funcionários da
subprefeitura começou depois
que a construtora lançou e iniciou as vendas dos apartamentos, com preços entre R$ 280
mil e R$ 400 mil. As obras devem começar em março.
Tadeu, Bernardi e Mantovani não foram encontrados e
não responderam aos recados.
A Gafisa confirma ter procurado o município para a retirada dos moradores, mas nega ter
feito acordo. "A companhia
reafirma que os contatos que
estabelece com organismos públicos se dão dentro de um estrito procedimento profissional e legal", diz trecho de nota.
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