São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Menino morre com suspeita de leptospirose

Garoto de seis anos vivia em viela no Jardim Pantanal, região que continua alagada desde a enchente do último dia 8

Exames no corpo da criança confirmarão ou descartarão suspeita; pelo menos dez doentes do Jardim Pantanal estão sob observação

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um menino de seis anos que morreu ontem pode ter sido vítima da leptospirose. Isaac Souza de Lima vivia numa das regiões pobres do Jardim Pantanal (zona leste de SP) que há duas semanas estão alagadas.
Exames foram realizados ontem no corpo da criança para confirmar ou descartar a suspeita de leptospirose. Segundo vizinhos, Isaac apresentou dor no corpo, febre e vômito -sintomas da doença- após ter contato com a água suja.
O menino, ainda de acordo com os vizinhos, foi levado a uma AMA (espécie de posto de saúde municipal), onde ouviu que deveria ser tratado em casa. Como os sintomas pioraram, foi internado anteontem no hospital Santa Marcelina, em Itaquera (zona leste).
Ao menos dez moradores da região estão em acompanhamento médico por suspeita de leptospirose, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Em 2008, morreram 36 pessoas na cidade vítimas da doença.
A doença é causada por uma bactéria presente na urina dos ratos. Sua disseminação é comum nas enchentes porque o acúmulo de lixo propicia a proliferação dos ratos, e as águas facilitam a disseminação da bactéria. Nos casos mais graves, o doente pode ter meningite, hemorragias internas, insuficiência renal ou problemas no coração. Quando não se trata a tempo, a leptospirose mata.
O temporal que atingiu São Paulo 13 dias atrás alagou o Jardim Pantanal -uma área de várzea do rio Tietê. Para piorar, a estação de tratamento de esgoto da região parou de funcionar e o esgoto foi jogado sem tratamento no rio e, consequentemente, nas ruas.
Nos piores momentos da enchente, a família do menino Isaac ficou refugiada no segundo andar de casa. A precária viela onde viviam só voltou a ser transitável anteontem, mas ainda ontem seguia com lama e poças de água suja e fétida.
Aos poucos as pessoas começam a voltar para casa. Muitas passaram o dia de ontem limpando o piso e as paredes com cloro dado pela prefeitura.
Parte dos desabrigados foi para uma igreja evangélica e duas escolas municipais da região. Dezoito famílias ainda se encontravam nesses abrigos ontem. Numa das escolas, porém, reclamava-se da ausência de chuveiro para o banho. Em todos os três lugares, queixavam-se dos colchões dados pela prefeitura. "É como se você dormisse no chão", disse uma mulher mostrando um colchão tão fino quanto um edredom.
A Prefeitura de São Paulo disse que quatro famílias do Jardim Pantanal já haviam aceitado mudar-se para um conjunto habitacional estadual na cidade vizinha de Itaquaquecetuba (Grande São Paulo). Ontem a Folha ouviu pessoas que rechaçaram essa proposta porque o conjunto habitacional "não tem escola perto" ou "fica longe demais" e pessoas que nem sequer haviam sido avisadas dessa possibilidade.
Prefeitura e Estado começaram ontem a drenar a água acumulada na rua Capachós. Prometem que estará seca hoje.

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