|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Menino morre com suspeita de leptospirose
Garoto de seis anos vivia em viela no Jardim Pantanal, região que continua alagada desde a enchente do último dia 8
Exames no corpo da criança
confirmarão ou descartarão
suspeita; pelo menos dez
doentes do Jardim Pantanal
estão sob observação
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um menino de seis anos que
morreu ontem pode ter sido vítima da leptospirose. Isaac
Souza de Lima vivia numa das
regiões pobres do Jardim Pantanal (zona leste de SP) que há
duas semanas estão alagadas.
Exames foram realizados ontem no corpo da criança para
confirmar ou descartar a suspeita de leptospirose. Segundo
vizinhos, Isaac apresentou dor
no corpo, febre e vômito -sintomas da doença- após ter
contato com a água suja.
O menino, ainda de acordo
com os vizinhos, foi levado a
uma AMA (espécie de posto de
saúde municipal), onde ouviu
que deveria ser tratado em casa. Como os sintomas pioraram, foi internado anteontem
no hospital Santa Marcelina,
em Itaquera (zona leste).
Ao menos dez moradores da
região estão em acompanhamento médico por suspeita de
leptospirose, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Em
2008, morreram 36 pessoas na
cidade vítimas da doença.
A doença é causada por uma
bactéria presente na urina dos
ratos. Sua disseminação é comum nas enchentes porque o
acúmulo de lixo propicia a proliferação dos ratos, e as águas
facilitam a disseminação da
bactéria. Nos casos mais graves,
o doente pode ter meningite,
hemorragias internas, insuficiência renal ou problemas no
coração. Quando não se trata a
tempo, a leptospirose mata.
O temporal que atingiu São
Paulo 13 dias atrás alagou o Jardim Pantanal -uma área de
várzea do rio Tietê. Para piorar,
a estação de tratamento de esgoto da região parou de funcionar e o esgoto foi jogado sem
tratamento no rio e, consequentemente, nas ruas.
Nos piores momentos da enchente, a família do menino
Isaac ficou refugiada no segundo andar de casa. A precária
viela onde viviam só voltou a
ser transitável anteontem, mas
ainda ontem seguia com lama e
poças de água suja e fétida.
Aos poucos as pessoas começam a voltar para casa. Muitas
passaram o dia de ontem limpando o piso e as paredes com
cloro dado pela prefeitura.
Parte dos desabrigados foi
para uma igreja evangélica e
duas escolas municipais da região. Dezoito famílias ainda se
encontravam nesses abrigos
ontem. Numa das escolas, porém, reclamava-se da ausência
de chuveiro para o banho. Em
todos os três lugares, queixavam-se dos colchões dados pela
prefeitura. "É como se você
dormisse no chão", disse uma
mulher mostrando um colchão
tão fino quanto um edredom.
A Prefeitura de São Paulo
disse que quatro famílias do
Jardim Pantanal já haviam
aceitado mudar-se para um
conjunto habitacional estadual
na cidade vizinha de Itaquaquecetuba (Grande São Paulo).
Ontem a Folha ouviu pessoas
que rechaçaram essa proposta
porque o conjunto habitacional "não tem escola perto" ou
"fica longe demais" e pessoas
que nem sequer haviam sido
avisadas dessa possibilidade.
Prefeitura e Estado começaram ontem a drenar a água acumulada na rua Capachós. Prometem que estará seca hoje.
Texto Anterior: Jayme Leal-Costa Filho (1918-2009): O contra-almirante que foi um pioneiro da aviação naval Próximo Texto: Bahia: Menino com agulhas no corpo vai passar por segunda cirurgia Índice
|