São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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SP 450 ANOS

Segundo a Seade, cidade terá mais de 2 milhões de pessoas a partir dos 60 anos; dado é alerta para o setor de saúde

População idosa aumenta 123% até 2025

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2025, São Paulo terá praticamente parado de crescer. Estará também mais velha.
Serão necessárias menos escolas, mas a pressão sobre os serviços de saúde crescerá.
O número de pessoas com mais de 50 anos mais do que dobrará, chegando a 3.685.716 de paulistanos, um aumento de 101,8%, contra o 1.826.017 atual.
A população idosa, a partir dos 60 anos, aumentará mais ainda, 123,1%, passando dos 2 milhões de pessoas. Enquanto isso, a parcela de jovens e adultos encolherá.
Os paulistanos serão 11,3 milhões, contra os 10,4 milhões contabilizados no censo de 2000, e as taxas de crescimento anual da população tenderão a zero. De 2020 a 2025, será de apenas 0,16%.
O cenário foi projetado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) por ocasião do aniversário de 450 anos da capital paulista e serve de alerta para que os executores de políticas públicas se preparem.
As projeções de envelhecimento da fundação são baseadas na tendência consolidada de queda das taxas de fecundidade, mortalidade e de migração no município, explica Bernadete Waldvogel, especialista em projeções do órgão.
A taxa de fecundidade hoje em São Paulo, de dois filhos por mulher, por exemplo, já está ligeiramente abaixo do que os demógrafos chamam de "nível de reposição", de 2,1 -número médio de filhos que cada mulher deve ter para "repor" sua geração.
"Quando há um grande número de crianças, de jovens, é necessário um investimento forte em escola. Quando temos uma população mais velha, é necessária uma atenção muito maior à área de saúde", afirma Felícia Reicher Madeira, diretora-executiva interina da fundação. "E tudo que acontece em São Paulo é paradigmático do futuro urbano do país."
A atenção ao idoso demandará profissionais preparados e uma rede ampla de centros de saúde especializados, de lazer e de unidades de cuidados diários, além de oferta garantida de remédios de uso contínuo. Tudo que São Paulo ainda não tem.
"Esse investimento não é para o futuro, é para hoje. Mas seria pequeno achar que o envelhecimento é só um problema", afirma Marília Berzins, assistente-técnica da área de Saúde do Idoso da Prefeitura de São Paulo. "Essa é maior conquista dos últimos tempos. Todo o esforço foi para vivermos mais. Agora será para termos qualidade de vida."

Alerta
O alerta sobre o desafio do envelhecimento na América Latina e no Caribe já foi feito pelas Nações Unidas, preocupadas especialmente com a velocidade esperada do aumento do número de idosos na região -será duas vezes maior do que em outras áreas.
As projeções estão na primeira compilação do estudo Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), iniciado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e publicado no fim do ano passado -São Paulo é parte da análise.
A principal preocupação é com o fato de o envelhecimento acelerado ocorrer em meio a "economias frágeis, crescentes níveis de pobreza", diferentemente dos países desenvolvidos, que "envelheceram" após ficarem ricos.
Se não forem revertidas as taxas de desemprego, a precarização das relações de trabalho e o achatamento das aposentadorias, a população envelhecida de 2025 poderá viver muito pior do que hoje. Com a queda do número de filhos, terá ainda menos pessoas para recorrer, diz Marcio Pochmann, secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeitura. "Em vez de crianças, poderemos ter idosos de rua."


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