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CARNAVAL
Ala da escola carioca terá 70 homens usando fantasias com referências ao exército de Hitler e aos centuriões
Nazismo inspira coreografia da Beija-Flor
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Bicampeã do Carnaval do Rio, a
Beija-Flor vai abrir o desfile com
uma ala com fantasia e coreografia inspiradas no nazismo.
Logo após a comissão de frente,
70 homens estarão vestidos com
uma fantasia com referências ao
exército nazista e aos centuriões
(soldados romanos).
Eles vão representar os soldados
comandados por Herodes enviados para matar o menino Jesus no
enredo "O vento corta as terras
dos pampas. Em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Guarani. Sete
povos na fé e na dor... Sete missões de amor".
"A escola decidiu lembrar de algumas barbaridades cometidas
pelos cristãos antes das missões.
Achei que seria válido mesclar os
nazistas, que cometeram a maior
atrocidade universal buscando a
raça pura, com os soldados romanos", disse Hilton Castro, coreógrafo da escola de Nilópolis.
Na coreografia exibida pela primeira vez ao público na quinta-feira no ensaio-geral da Beija-Flor, os integrantes da ala marcham, batem continência, levantam os punhos cerrados e fazem
uma saudação semelhante a que
os soldados alemães faziam a Hitler. A principal diferença é que a
mão ficará fechada e não aberta
como os nazistas faziam.
"Optei pela mão fechada porque fica mais forte. Antes, ensaiávamos com a mão aberta, mas o
resultado não era tão bom. Não fiquei preocupado com esse detalhe. O exército do Hitler foi a nossa grande inspiração para esse
trabalho", afirmou Castro, que já
protagonizou polêmicas em outros carnavais.
Em 2002, a escola chegou a ensaiar uma cena dirigida pelo coreógrafo em que um ator caracterizado de Jesus Cristo, com um revólver, duelava com o demônio.
Na briga, ele atirava e matava uma
menina de rua. A cena gerou polêmica até dentro da escola e protestos da igreja. No sambódromo,
ela foi modificada com o diabo
atirando na criança.
"Não ligo para polêmicas. Estou
apenas fazendo o meu trabalho.
Não existe nenhuma apologia ao
nazismo na coreografia", disse
Castro, que é maquiador e trabalhou na equipe do filme "Olga",
de Jayme Monjardim, sobre a vida da ex-mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes, que, por
ser judia, foi deportada pelo governo brasileiro para a Alemanha
sob o domínio dos nazistas.
Os integrantes dessa ala ensaiam há três meses a coreografia
criada por Castro e todos negam
simpatizar com os nazistas.
"A coreografia é muito forte,
bem homofóbica, mas não tem
nada com a minha vida. Estou ali
representando um personagem
pelo amor ao Carnaval", disse o
ator Manoel Antiqueira, 39, que é
transformista em uma boate.
Federação Israelita
O presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Osias
Wurman, disse ontem que poderá entrar na Justiça para impedir o
desfile da ala.
"Não sei ainda o teor desse trabalho, mas não pode descambar
para a exaltação ou o triunfalismo. Vou procurar os diretores da
escola para discutir o assunto. Se
sentir que pode acontecer qualquer coisa que nos desagrade e a
escola insistir, vamos gritar", disse Wurman.
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