São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

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CARNAVAL

Ala da escola carioca terá 70 homens usando fantasias com referências ao exército de Hitler e aos centuriões

Nazismo inspira coreografia da Beija-Flor

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Bicampeã do Carnaval do Rio, a Beija-Flor vai abrir o desfile com uma ala com fantasia e coreografia inspiradas no nazismo.
Logo após a comissão de frente, 70 homens estarão vestidos com uma fantasia com referências ao exército nazista e aos centuriões (soldados romanos).
Eles vão representar os soldados comandados por Herodes enviados para matar o menino Jesus no enredo "O vento corta as terras dos pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos na fé e na dor... Sete missões de amor".
"A escola decidiu lembrar de algumas barbaridades cometidas pelos cristãos antes das missões. Achei que seria válido mesclar os nazistas, que cometeram a maior atrocidade universal buscando a raça pura, com os soldados romanos", disse Hilton Castro, coreógrafo da escola de Nilópolis.
Na coreografia exibida pela primeira vez ao público na quinta-feira no ensaio-geral da Beija-Flor, os integrantes da ala marcham, batem continência, levantam os punhos cerrados e fazem uma saudação semelhante a que os soldados alemães faziam a Hitler. A principal diferença é que a mão ficará fechada e não aberta como os nazistas faziam.
"Optei pela mão fechada porque fica mais forte. Antes, ensaiávamos com a mão aberta, mas o resultado não era tão bom. Não fiquei preocupado com esse detalhe. O exército do Hitler foi a nossa grande inspiração para esse trabalho", afirmou Castro, que já protagonizou polêmicas em outros carnavais.
Em 2002, a escola chegou a ensaiar uma cena dirigida pelo coreógrafo em que um ator caracterizado de Jesus Cristo, com um revólver, duelava com o demônio. Na briga, ele atirava e matava uma menina de rua. A cena gerou polêmica até dentro da escola e protestos da igreja. No sambódromo, ela foi modificada com o diabo atirando na criança.
"Não ligo para polêmicas. Estou apenas fazendo o meu trabalho. Não existe nenhuma apologia ao nazismo na coreografia", disse Castro, que é maquiador e trabalhou na equipe do filme "Olga", de Jayme Monjardim, sobre a vida da ex-mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes, que, por ser judia, foi deportada pelo governo brasileiro para a Alemanha sob o domínio dos nazistas.
Os integrantes dessa ala ensaiam há três meses a coreografia criada por Castro e todos negam simpatizar com os nazistas.
"A coreografia é muito forte, bem homofóbica, mas não tem nada com a minha vida. Estou ali representando um personagem pelo amor ao Carnaval", disse o ator Manoel Antiqueira, 39, que é transformista em uma boate.

Federação Israelita
O presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Osias Wurman, disse ontem que poderá entrar na Justiça para impedir o desfile da ala.
"Não sei ainda o teor desse trabalho, mas não pode descambar para a exaltação ou o triunfalismo. Vou procurar os diretores da escola para discutir o assunto. Se sentir que pode acontecer qualquer coisa que nos desagrade e a escola insistir, vamos gritar", disse Wurman.


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