São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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ANÁLISE

Após 6 meses, Jobim sofre desgaste

Além de promessas acumuladas e medidas atrasadas na aviação, ministro não evitou cortes no orçamento

Do tamanho das poltronas a um novo aeroporto, grande parte dos anúncios não teve encaminhamento, e outros tiveram de ser reajustados

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há seis meses à frente do Ministério da Defesa, Nelson Jobim, 61, enfrenta seu pior momento no cargo. Além do desgaste de promessas acumuladas e medidas atrasadas na aviação, não conseguiu evitar a mira dos cortes orçamentários a caminho, saga conhecida de seus cinco antecessores civis.
Ontem, depois de passar semanas escondido da imprensa -algo inédito para o ministro que fez fama com a farda camuflada na Amazônia- teve de negar qualquer intenção de deixar o governo por desprestígio.
Também rejeitou que seus recuos sejam reflexos de erros de avaliação, mas, na prática, pouco do que Jobim anunciou para a aviação aconteceu, durou ou teve grande efeito (veja quadro nesta página).
E, para amenizar o impacto da tesoura, floreou o discurso. O prometido reajuste salarial dos militares sairá, mudam apenas as "condições". E o reaparelhamento das Forças passará por "ajustes setoriais".
O constrangimento é justificado: um orçamento robusto para 2008 foi condição de Jobim para aceitar o cargo, e Lula concordou. Com carta branca, o ministro tomou posse em 25 de julho com o lema "aja ou saia" e foi condizente, pelo menos na retórica.
Em poucas semanas anunciou soluções e medidas para a já minguante crise da aviação. Para seus críticos na aviação e em setores militares, não passaram de marketing ou miopia.
Os mais simpáticos defendem medidas de impacto, que podem depois se ajustar em nome do interesse público.
Desde o tamanho das poltronas até um novo aeroporto em São Paulo, grande parte dos anúncios não teve encaminhamento. Outros tiveram de ser rapidamente ajustados para não atrapalhar ainda mais, como a implantação das áreas de escape em Congonhas.

Maestro da aviação
Jobim pressionou pela renúncia de toda diretoria da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que já estava bombardeada por acusações de ineficiência e até fraude processual. Mas demorou meses para encontrar novos diretores, o que levou à quase paralisação do órgão no segundo semestre de 2007, sem impacto ainda comensurável em sua melhora.
Na Infraero, onde Jobim colocou Sérgio Gaudenzi, a estratégia de pressionar as empresas aéreas se repetiu. Em vez de divulgar índices de atrasos por aeroporto, os dados agora são agrupados por companhia, tirando o foco das questões de infra-estrutura e enterrando investigações de superfaturamentos em aeroportos.
Na FAB, começam a surgir dúvidas sobre a concretização de investimentos também necessários para ampliar a capacidade do sistema de controle aéreo, um problema também quase esquecido depois da "solução" militar do ano passado.
Mas, se um certo "choque de gestão" era preciso para arrumar a aviação civil, há dúvidas sobre a turbulência que pode vir com mudanças nos planos de construção de pistas, pátios, terminais e aeroportos, essenciais para acomodar o crescimento de dois dígitos da aviação no país. (LEILA SUWWAN)


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