|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Após 6 meses, Jobim sofre desgaste
Além de promessas acumuladas e medidas atrasadas na aviação, ministro não evitou cortes no orçamento
Do tamanho das poltronas a um novo aeroporto, grande parte dos anúncios não teve encaminhamento, e outros tiveram de ser reajustados
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há seis meses à frente do Ministério da Defesa, Nelson Jobim, 61, enfrenta seu pior momento no cargo. Além do desgaste de promessas acumuladas e medidas atrasadas na
aviação, não conseguiu evitar a
mira dos cortes orçamentários
a caminho, saga conhecida de
seus cinco antecessores civis.
Ontem, depois de passar semanas escondido da imprensa
-algo inédito para o ministro
que fez fama com a farda camuflada na Amazônia- teve de negar qualquer intenção de deixar
o governo por desprestígio.
Também rejeitou que seus
recuos sejam reflexos de erros
de avaliação, mas, na prática,
pouco do que Jobim anunciou
para a aviação aconteceu, durou ou teve grande efeito (veja
quadro nesta página).
E, para amenizar o impacto
da tesoura, floreou o discurso.
O prometido reajuste salarial
dos militares sairá, mudam
apenas as "condições". E o reaparelhamento das Forças passará por "ajustes setoriais".
O constrangimento é justificado: um orçamento robusto
para 2008 foi condição de Jobim para aceitar o cargo, e Lula
concordou. Com carta branca,
o ministro tomou posse em 25
de julho com o lema "aja ou
saia" e foi condizente, pelo menos na retórica.
Em poucas semanas anunciou soluções e medidas para a
já minguante crise da aviação.
Para seus críticos na aviação e
em setores militares, não passaram de marketing ou miopia.
Os mais simpáticos defendem medidas de impacto, que
podem depois se ajustar em nome do interesse público.
Desde o tamanho das poltronas até um novo aeroporto em
São Paulo, grande parte dos
anúncios não teve encaminhamento. Outros tiveram de ser
rapidamente ajustados para
não atrapalhar ainda mais, como a implantação das áreas de
escape em Congonhas.
Maestro da aviação
Jobim pressionou pela renúncia de toda diretoria da
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), que já estava
bombardeada por acusações de
ineficiência e até fraude processual. Mas demorou meses
para encontrar novos diretores, o que levou à quase paralisação do órgão no segundo semestre de 2007, sem impacto
ainda comensurável em sua
melhora.
Na Infraero, onde Jobim colocou Sérgio Gaudenzi, a estratégia de pressionar as empresas
aéreas se repetiu. Em vez de divulgar índices de atrasos por
aeroporto, os dados agora são
agrupados por companhia, tirando o foco das questões de infra-estrutura e enterrando investigações de superfaturamentos em aeroportos.
Na FAB, começam a surgir
dúvidas sobre a concretização
de investimentos também necessários para ampliar a capacidade do sistema de controle aéreo, um problema também
quase esquecido depois da "solução" militar do ano passado.
Mas, se um certo "choque de
gestão" era preciso para arrumar a aviação civil, há dúvidas
sobre a turbulência que pode
vir com mudanças nos planos
de construção de pistas, pátios,
terminais e aeroportos, essenciais para acomodar o crescimento de dois dígitos da aviação no país.
(LEILA SUWWAN)
Texto Anterior: Governo recua e libera escalas em Congonhas Próximo Texto: Transportes: Após falha, Metrô anuncia 21 ações de manutenção Índice
|