São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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Novos centros mudam o comércio de luxo na cidade

Shoppings de alto padrão estão em um raio de 7 km, onde já há 7 centros comerciais

Para 2009, estão previstos ainda os vizinhos Parque JK e Vila Olímpia, separados apenas pela Daslu; mudança provoca migração de grifes

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A inauguração do shopping Cidade Jardim, prevista para março, à distância de uma ponte da Daslu e num raio que, em 7 km já concentra sete grandes centros comerciais (o Iguatemi e o Morumbi, para citar dois dos maiores), muda a paisagem urbana da marginal Pinheiros, consolida a região como novo perímetro de luxo da cidade e embaralha o comércio de rua da Oscar Freire.
E a expansão não pára por aí. No próximo ano, outros dois shoppings de alto padrão, o Parque JK, construído onde está instalado o "esqueleto" da Eletropaulo, e o Vila Olímpia, um ao lado do outro, separados pela Daslu, levantam três questões: para onde vão os ricos, o mercado de luxo pode saturar e para onde vai o crescimento da cidade?
O primeiro reflexo dessa mudança já pode ser visto na região dos Jardins. A abertura do Cidade Jardim provocou a primeira baixa no comércio de luxo de rua da Oscar Freire. A superjoalheria norte-americana Tiffany's & Co da Haddock Lobo fechou para reabrir por lá.
A lógica é explicada por especialistas em varejo e consumidoras na segurança pública. "Ninguém vai comprar um relógio de R$ 20 mil e se arriscar a tomar um café na esquina", diz a empresária Ana Guimarães.
"O brasileiro não tem o hábito de andar na rua. E as grifes não são loucas de abrirem mais de duas lojas na mesma cidade. Em nenhum lugar do mundo é assim", diz Eliana Tranchesi, dona da Daslu.
A inauguração de uma estação do metrô na rua nos próximos anos pode contribuir para a mudança do perfil de comércio, mas dificilmente, na avaliação de urbanistas, deve repetir o declínio da Augusta, que teve seu apogeu nos anos 70.
"A Oscar Freire pode mudar, mas não some. A rua tem charme", diz o arquiteto Alexandre Laguardia. Ele compara o movimento inverso do shopping D&D, em que lojas fecharam para reabrir na Gabriel Monteiro da Silva, a rua da decoração.

Cidade compacta
Do ponto de vista urbano, do desenvolvimento da cidade, a construção de tantos shoppings na marginal contribui para o crescimento da metrópole difusa, em detrimento da cidade compacta, próxima das regiões centrais, onde há infra-estrutura, segundo avalia Marcelo Barbosa, professor de urbanismo do Mackenzie, especialista e crítico de shoppings.
"As incorporadoras acabam criando uma outra cidade, fechada, e voltando as costas ao centro. Esses grandes shoppings reforçam isso. Mas com o tempo eles mesmos vão se canibalizar", afirma Barbosa.
A mesma opinião é compartilhada por Eliane Monetti, professora do núcleo de Real Estate da USP, que estuda os negócios imobiliários na cidade.
"Está mais do que saturado. Estão repartindo o mesmo público. A tendência é vender menos e que o grau de rentabilidade caia. Não é verdade que os shoppings estão estrangulados e precisem de mais espaço."
Para a Abrasce (a associação dos shoppings), "o setor estava represado". "A concorrência é grande, mas o mercado consumidor vem crescendo", diz Luiz Fernando Veiga, diretor-executivo da instituição.
Diretora do Cidade Jardim, Sharon Beting diz que a decisão de construir o shopping ali foi baseada na chamada "área primária", o raio de 5 km do local.
"A Vila Olímpia não era apropriada porque a vizinhança era toda comercial. Do outro lado do rio é tudo residencial", diz.
Um aspecto positivo da construção dos shoppings, segundo arquitetos, é a promoção da reciclagem urbana. As calçadas e o asfalto das ruas de acesso ao Cidade Jardim foram refeitos e a fiação dos postes, enterrada.


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