São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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CRIME NA REDE

Segundo a PF, rapaz se suicidou no Rio antes de serem localizadas imagens sexuais de crianças em seu computador

Jovem morre em operação antipedofilia

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Uma operação internacional de combate à pedofilia deflagrada ontem em 30 países resultou na morte de um estudante de 17 anos, que teria se atirado da janela de seu quarto enquanto a PF (Polícia Federal) examinava os computadores do apartamento em que morava com a família, na zona norte do Rio de Janeiro.
O rapaz caiu de uma altura de 24 metros no estacionamento de um condomínio na rua Visconde de Itamaraty, no Maracanã. Embora socorrido por um médico que mora no local, o jovem morreu menos de dez minutos após a queda.
A versão dada pela PF é que o jovem cometeu suicídio.
A família da vítima não quis dar entrevista. Em depoimento, o pai do rapaz não se queixou da ação policial em seu apartamento.
A morte do estudante ocorreu por volta das 6h30. Quatro policiais federais estavam havia 30 minutos no apartamento, em cumprimento a um mandado judicial de busca e apreensão.
O rapaz deixou a sala, onde estava acompanhado da mãe, da irmã (estudante de direito) e de dois policiais, foi ao quarto e se atirou da janela, de acordo com a versão apresentada pela PF.
Iniciada na Espanha em outubro de 2005, a Operação Azahar (região no litoral espanhol) teve ontem uma segunda fase, da qual participaram as polícias de países da América do Sul, da América Central, da América do Norte, da Europa e da Ásia. No total, eram 130 alvos, dos quais 34 no Brasil (Estados do Rio, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Sergipe, Paraíba, Pará, Mato Grosso, Espírito Santo e Paraná).
Os endereços foram passados à PF pela Guarda Civil da Espanha, que os obteve por meio de um programa pioneiro de busca de pedófilos pela internet. Batizado de Híspalis, o programa identifica o que as autoridades policiais espanholas chamam de "o DNA" das imagens pornográficas que circulam pela internet. O programa revela o IP (a identidade pessoal) do computador pelo qual a imagem circulou.
Os dez mandados de busca e apreensão em endereços no Rio foram cumpridos. A PF não divulgou a quantidade de computadores e programas apreendidos.
Em entrevista, o superintendente da PF no Rio, José Milton Rodrigues, afirmou que o computador do jovem trazia imagens sexuais de crianças com menos de 14 anos. "Havia até bebês."
O computador foi aberto à tarde pela perícia. O superintendente disse não ter visto as imagens, mas que os peritos lhe informaram que o jovem vinha recebendo e distribuindo na rede cenas de pedofilia em fotografias e vídeos.
A PF não realizou prisões. O objetivo da operação, segundo o superintendente, era o de apreender material. Após a perícia, se for o caso, poderão ser apresentados pedidos de prisão à Justiça.
O superintendente disse que um menor de 18 anos envolvido com pedofilia pode ser condenado de um a quatro anos de reclusão, como prevê o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Fatalidade
O superintendente da PF creditou a "uma fatalidade" a morte do rapaz durante a ação policial. Mesmo assim, determinou a abertura de inquérito para investigar as circunstâncias da morte.
"É prematuro dizer se houve ou não algum tipo de falha por parte dos policiais encarregados de cumprir o mandado de busca e apreensão naquele endereço. Isso vai ser apurado pelo inquérito", afirmou Rodrigues, para quem, em uma análise inicial, "tudo leva a crer que se trata de um suicídio".
Em entrevista no final da tarde, afirmou que a atitude do adolescente surpreendeu os parentes e também os policiais.
Rodrigues afirmou ainda considerar que os policiais não erraram ao permitir que o estudante fosse até seu quarto sem um acompanhamento. Isso porque ele não teria demonstrado nervosismo ou algum tipo de alteração de comportamento.


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