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BARBARA GANCIA
Única solução é o confronto direto
"Por que a camiseta "100% negro" é aceita, enquanto a camiseta "100% branco" é considerada racismo?"
O MUNDO SE divide entre os que
aplaudem o pensamento politicamente correto e os que
zombam dessa forma de tirania velada movida a eufemismos e que se
esconde sob o véu da boa intenção.
Há coisa de dez anos, o parágrafo
acima ainda fazia sentido e encampava, de um lado e de outro, as mais
diversas correntes de pensamento.
Acontece que, hoje, a coisa embolou
de vez e até as relações interpessoais
ficaram mais complicadas.
Quem diria que a luta pela preservação do ambiente, por exemplo,
uma bandeira que antes reunia todas as pessoas esclarecidas de um lado só, fosse gerar tamanhos desentendimentos? Não somos todos favoráveis a um planeta sem poluição?
O que estará acontecendo?
Ontem, os jornais informaram
que um jovem de Pontal, cidade do
interior de São Paulo, foi multado
pela Secretaria de Justiça do Estado
por xingar um homossexual assumido de "veado". Eu pergunto: um sujeito que se assume como gordo, estrábico ou careca tem o direito de ir
reclamar na Justiça ao ser chamado
de gordo, estrábico ou careca? Não
terá o pensamento politicamente
correto passado dos limites?
Na semana passada, um grupo de
jovens torcedores do bicampeão
mundial Fernando Alonso resolveu
debochar do principal adversário do
piloto. Fantasiados com perucas de
boneca de pano e com os rostos e
braços pintados de negro a la Al Jolson, os jovens compareceram ao circuito de Jerez de La Frontera, onde
a F-1 realizava testes, trajando camisetas inscritas com a frase "Família
de Lewis Hamilton". A brincadeira
por pouco não causou um incidente
diplomático entre a Espanha e a Inglaterra e acabou forçando a FIA
(Federação Internacional de Automobilismo) a emitir um comunicado afirmando que o racismo não será tolerado nas pistas.
Identificados, os autores da pilhéria declararam não ser racistas e alegaram que só estavam aproveitando
o Carnaval para zombar do pai de
Hamilton, que acompanha o filho
em todas as corridas. Eu pergunto:
será que vai chegar o dia em que o
politicamente correto nos impedirá
de dar risada?
Bem, como fui eu mesma que perguntei, ofereço a minha modestíssima opinião: o politicamente correto
não tem nada a ver com nenhuma
das duas questões. No caso do senhor ofendido em Pontal, a cidade
tem um histórico de intolerância
contra gays e a vítima só venceu a
causa por contar com o testemunho
dos policiais que o atenderam na cena do crime. E gordos, estrábicos e
carecas, que eu saiba, não são perseguidos e mortos por intolerantes.
No caso de Lewis Hamilton, o piloto minimizou o acontecido dizendo que não se sentira atingido, mas
em um país como a Espanha, em que
torcidas jogam bananas no campo
para intimidar jogadores de futebol
de pele morena, não é possível dizer
que tudo não passou de brincadeira
inocente. Não a cor da pele de Lewis
o alvo do chiste?
Vira e mexe, recebo alguma carta
endereçada à coluna "Barbara Responde", que mantenho na "Revista
da Folha", com a pergunta: "Por que
a camiseta "100% negro" pode e a camiseta "100% branco" é considerada
racismo?". O simples fato de essa
pergunta ainda estar na moda, do alto da sua ignorância, já explica a razão pela qual a intolerância deve ser
encarada na base do confronto direto e combatida com o rigor da lei.
barbara@uol.com.br
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