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Barco com 112 naufraga no AM; 12 morrem
Oito pessoas estão desaparecidas; embarcação de madeira foi atingida anteontem por uma balsa que vinha na direção oposta
92 pessoas sobreviveram, resgatadas por ferry-boat da polícia que navegava nas imediações; balsa que bateu fugiu sem prestar socorro
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Uma batida entre embarcações no rio Amazonas causou o
naufrágio de um dos barcos e
deixou ao menos 12 pessoas
mortas e oito desaparecidas na
noite de anteontem.
O barco de madeira "Almirante Monteiro", de transporte
de passageiros, fazia trajeto de
cinco dias entre Alenquer (PA)
e Manaus (AM), com 112 pessoas a bordo -12 tripulantes e
cem passageiros.
Por volta das 23h30 (horário
de Brasília), na vila Novo Remanso, em Itacoatiara, a 90 km
do centro de Manaus, a embarcação bateu em uma balsa de
combustível que vinha na direção oposta, impulsionada por
outro barco (empurrador), e
naufragou. A balsa, que não havia sido identificada até a conclusão desta edição, seguiu caminho sem prestar socorro.
A batida ocorreu em um trecho em que o rio Amazonas tem
300 metros de largura, e a 90
metros da margem esquerda do
rio. É um local de águas barrentas e muita correnteza.
No momento do choque, passageiros dormiam em redes
dentro do barco. Outros assistiam a uma partida de futebol
pela TV na proa do barco e viram quando a balsa se aproximou com a luz da cabine do empurrador apagada.
"Eu estava dormindo na rede
no convés quando senti um
choque e um barulho. As redes
foram para frente e voltaram
com força. Levantei e corri para
pegar o colete, mas as águas me
pegaram. O barco só flutuava,
segurei em uma madeira e nadei", disse à Folha o professor
Ruberval Almeida Lemos, 42,
que viajava sozinho.
Lemos foi um dos 92 sobreviventes socorridos por policiais de um ferry-boat da Polícia Civil do Amazonas, que navegava nas imediações no momento do acidente.
Suspeita
A Polícia Militar suspeita que
o condutor da balsa tenha apagado a luz da cabine porque
transportava carga de combustível ilegal -meio de driblar a
fiscalização.
"O barco [Almirante Monteiro] estava todo iluminado.
Quando o comandante viu que
a balsa estava próxima demais
e, no escuro, não conseguiu
desviar. O condutor da balsa fugiu do local e não foi identificado", disse o tenente-coronel Almir Barbosa. A velocidade média das embarcações do tipo da
Almirante Monteiro é de
20 km/h, segundo a Marinha.
Foram duas batidas na lateral do "Almirante Monteiro",
embarcação que estava regularizada na Capitania dos Portos
e não apresentava superlotação. Na segunda, o barco afundou e ficou com o teto para fora
do rio. Chovia muito no momento do resgate.
Pelo menos 30 sobreviventes
foram levados a uma unidade
de saúde em Novo Remanso. Os
outros foram abrigados em
uma igreja. Entre os 12 mortos,
há uma família inteira: Lucas
da Cruz Nunes, 29, Jucilene da
Silva Nunes, 22, e os filhos Lucas Júnior da Silva Nunes, 8, e
Adriel da Silva Nunes, que não
teve a idade confirmada. Eles
viajavam em um camarote.
A médica Romênia Melo, da
unidade de saúde de Novo Remanso, disse que muitos dos
sobreviventes tinham apenas
pequenas escoriações. Mas a
maioria estava muito nervosa e
traumatizada, segundo a médica. Apenas um idoso sofreu fratura, no braço direito.
No final da tarde de ontem,
lanchas do IML (Instituto Médico Legal) do Amazonas transportaram os corpos das vítimas
até Manaus. Os 92 sobreviventes foram levados em dois ônibus da PM.
Tripulantes
O tenente-coronel Barbosa
disse que ouviu a equipe de 12
tripulantes do "Almirante
Monteiro". Todos apontaram,
segundo ele, negligência do
condutor da balsa, que pode ter
a prisão decretada por suspeita
de homicídio culposo (sem intenção).
Dois inquéritos foram abertos para investigar o acidente,
um pela Marinha e outro pela
Polícia Civil de Itacoatiara,
com prazo de 30 dias para conclusão.
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