São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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Barco com 112 naufraga no AM; 12 morrem

Oito pessoas estão desaparecidas; embarcação de madeira foi atingida anteontem por uma balsa que vinha na direção oposta

92 pessoas sobreviveram, resgatadas por ferry-boat da polícia que navegava nas imediações; balsa que bateu fugiu sem prestar socorro

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Uma batida entre embarcações no rio Amazonas causou o naufrágio de um dos barcos e deixou ao menos 12 pessoas mortas e oito desaparecidas na noite de anteontem.
O barco de madeira "Almirante Monteiro", de transporte de passageiros, fazia trajeto de cinco dias entre Alenquer (PA) e Manaus (AM), com 112 pessoas a bordo -12 tripulantes e cem passageiros.
Por volta das 23h30 (horário de Brasília), na vila Novo Remanso, em Itacoatiara, a 90 km do centro de Manaus, a embarcação bateu em uma balsa de combustível que vinha na direção oposta, impulsionada por outro barco (empurrador), e naufragou. A balsa, que não havia sido identificada até a conclusão desta edição, seguiu caminho sem prestar socorro.
A batida ocorreu em um trecho em que o rio Amazonas tem 300 metros de largura, e a 90 metros da margem esquerda do rio. É um local de águas barrentas e muita correnteza.
No momento do choque, passageiros dormiam em redes dentro do barco. Outros assistiam a uma partida de futebol pela TV na proa do barco e viram quando a balsa se aproximou com a luz da cabine do empurrador apagada.
"Eu estava dormindo na rede no convés quando senti um choque e um barulho. As redes foram para frente e voltaram com força. Levantei e corri para pegar o colete, mas as águas me pegaram. O barco só flutuava, segurei em uma madeira e nadei", disse à Folha o professor Ruberval Almeida Lemos, 42, que viajava sozinho.
Lemos foi um dos 92 sobreviventes socorridos por policiais de um ferry-boat da Polícia Civil do Amazonas, que navegava nas imediações no momento do acidente.

Suspeita
A Polícia Militar suspeita que o condutor da balsa tenha apagado a luz da cabine porque transportava carga de combustível ilegal -meio de driblar a fiscalização.
"O barco [Almirante Monteiro] estava todo iluminado. Quando o comandante viu que a balsa estava próxima demais e, no escuro, não conseguiu desviar. O condutor da balsa fugiu do local e não foi identificado", disse o tenente-coronel Almir Barbosa. A velocidade média das embarcações do tipo da Almirante Monteiro é de 20 km/h, segundo a Marinha.
Foram duas batidas na lateral do "Almirante Monteiro", embarcação que estava regularizada na Capitania dos Portos e não apresentava superlotação. Na segunda, o barco afundou e ficou com o teto para fora do rio. Chovia muito no momento do resgate.
Pelo menos 30 sobreviventes foram levados a uma unidade de saúde em Novo Remanso. Os outros foram abrigados em uma igreja. Entre os 12 mortos, há uma família inteira: Lucas da Cruz Nunes, 29, Jucilene da Silva Nunes, 22, e os filhos Lucas Júnior da Silva Nunes, 8, e Adriel da Silva Nunes, que não teve a idade confirmada. Eles viajavam em um camarote.
A médica Romênia Melo, da unidade de saúde de Novo Remanso, disse que muitos dos sobreviventes tinham apenas pequenas escoriações. Mas a maioria estava muito nervosa e traumatizada, segundo a médica. Apenas um idoso sofreu fratura, no braço direito.
No final da tarde de ontem, lanchas do IML (Instituto Médico Legal) do Amazonas transportaram os corpos das vítimas até Manaus. Os 92 sobreviventes foram levados em dois ônibus da PM.

Tripulantes
O tenente-coronel Barbosa disse que ouviu a equipe de 12 tripulantes do "Almirante Monteiro". Todos apontaram, segundo ele, negligência do condutor da balsa, que pode ter a prisão decretada por suspeita de homicídio culposo (sem intenção).
Dois inquéritos foram abertos para investigar o acidente, um pela Marinha e outro pela Polícia Civil de Itacoatiara, com prazo de 30 dias para conclusão.


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