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SAÚDE
Apesar de a prática não ser reconhecida pelo CFM, 12 Estados adotam remédios à base de plantas em programas oficiais
Rede pública adere ao uso de fitoterapia
DAYANNE MIKEVIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Estados e municípios têm implementado programas oficiais
de medicina fitoterápica (à base
de plantas) na rede de saúde, com
o argumento de que esses remédios funcionam, são baratos, têm
grande procura e poucos efeitos
colaterais. A prática, porém, não é
reconhecida como especialidade
médica pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
No Brasil, há programas de fitoterapia no sistema estadual ou
municipal de saúde em ao menos
12 Estados, de acordo com levantamento feito pela Agência Folha.
Em certas cidades, o paciente
pode ser atendido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas não
há uma política nacional a respeito. A possibilidade de implementar a fitoterapia na rede do SUS
começou a ser estudada em 2003
pelo Ministério da Saúde.
Mesmo sem o reconhecimento
pelo CFM, a prática é autorizada
na rede pública por uma resolução de março de 1988 do Ministério da Saúde. Em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002), o ministério elaborou um documento com diretrizes para o uso de fitoterápicos no
sistema público de saúde.
O objetivo era o mesmo do atual
grupo de trabalho (formado em
2003), mas a iniciativa acabou não
saindo do papel. Segundo a coordenadora-geral de Suporte às
Ações de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, Maria
José de Sousa, uma política nacional é necessária para padronizar o
atendimento no setor público.
Sousa disse que "em muitas cidades a estocagem dos remédios
não é perfeita e isso é mais complicado com ervas e fitoterápicos
porque tem uma questão de temperatura do ambiente".
Segundo ela, a política nacional
deverá incluir apenas medicamentos com registro na Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), algo que não acontece
hoje em muitos municípios.
Na última quinta-feira, a Anvisa
estabeleceu regras mais rígidas
para conceder o registro de fitoterápicos. Assim como no caso dos
alopáticos (tradicionais), laboratórios terão de comprovar, por
meios científicos, a eficácia e a segurança dos medicamentos feitos
à base de plantas.
De acordo com os municípios
consultados, os fitoterápicos são
sempre receitados por médicos. O
paciente chega ao posto de saúde
especializado ou da rede pública
normal e lhe é prescrito medicamento que pode ser adquirido de
graça em farmácias municipais
ou cultivado em casa.
Na opinião do CFM, como o
conselho não reconhece a fitoterapia, o ato de um médico receitar
esse remédio é apenas uma sugestão, e não uma prescrição.
De acordo com o conselheiro do
CFM Mauro Brandão, o órgão estuda reconhecer atividade como
especialização médica, mas não
há prazo para a decisão.
Quando usados no sistema público de saúde, os remédios são
feitos, em geral, em laboratórios
municipais -muitos em parceria
com universidades.
Curitiba, por exemplo, mantém
convênios com a Universidade
Federal do Paraná e com as universidades estaduais de Londrina,
Maringá e Ponta Grossa.
Na cidade funciona desde 1990
o programa Verde Saúde, que é
oferecido em 77 unidades da rede
pública de saúde. São usadas 22
plantas medicinais para 17 diagnósticos, entre os quais bronquite, dor abdominal, enxaqueca,
gastrite e micoses.
Na Paraíba, três instituições de
ensino superior oferecem a disciplina de fitoterapia nos cursos de
medicina, nutrição e enfermagem. O Estado possui um programa de uso de fitoterápicos, mas
apenas João Pessoa adota a prática, pois é a única com um laboratório para produzir os remédios.
Outro programa estadual é o de
Goiás. Na capital do Estado, foi
criado há 15 anos o Hospital de
Medicina Alternativa, que tem capacidade de atender 150 pacientes
por dia. Segundo o diretor da instituição, o médico Nestor de Carvalho Furtado, as ervas são usadas
numa associação com medicamentos alopáticos no tratamento
de doenças como câncer e Aids.
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